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Um esboço de Da Vinci

 

 

Soares Feitosa

Jornal de Poesia

 

Salomão

 

Oitavo Movimento:

— Os Negros —



Façanhas de bravos

Não geram escravos.

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— Ouvi-me, Guerreiros,

— Ouvi meu cantar!

 

Antônio, o de um só prenome,

in O Canto do Guerreiro.

 

 

 

Mandei o doutor Salomão

— vejam só, negreiro meu

é doutor, doutor Salomão! —

bonito como um vaqueiro, encoirado nos linhos, seguiu

o doutor Salomão para os frios do Sul,

um curso dessas coisas complicadas,

e os alunos eram loiros e soltaram

de cajados e as serpentes

partiram pra riba de Salomão,

mas o negro saltou bem acolá,

e uma cobra muito maior comeu

as cobrinhas zombeteiras e e ainda lhes disse:

podem vir!

Da próxima vez, quando mandar vaqueiro meu,

vou mandar de boca costurada,

como se costura um cururu feiticeiro,

porque o "perigo" é que vaqueiro meu

abra a boca:

— Temos que saber em dobro, Coronel, que eles não nos acreditam! —

 

E outro negro e outro e mais outro

que mandei pelo mundo me dizem:

— É difícil, Coronel, só vai em dobro.

 

Pois me saibam em dobro mal nenhum saberem

em dobro porque Salomão Vieira dos Santos

da raça dos deuses sabe dobrado e Milton Santos

também sabe dobrado e Sandro

ensina e sabe

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

e Edvaldo Brito e Ivo de Santana e Roberto

Conceição são negros e sabem e Adson veio

no veleiro de Porto de Galinha e o Mundo dobrado

a escutá-lo e Sébastien fala francês e a eles

fala em qualquer língua

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

e Emília e Eulália as escolhidas do Capitão®

que de riso e grácil sabem e Arivaldo em dobro e

Chiquinho aliás Dr. Francisco eles do Capitão®

em dobro sabem

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

e o filósofo Georgeocohama tem nome vasto

e vasto saber e os brancos perguntam ao Major

como fazer melhor em ciência e coração Farias

Major Cosme de Farias sabe dobrado

e Abdias do Nascimento é Senador e

Dorival fez Acalanto e Gonzaga disse

que "assum-preto canta mió"

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

e a negra Barrósa desafiou e ganhou

dum magote de "cantadô" tudo branco

e Jehová de Carvalho é poeta e Benedita é negra

e nesta lista de negros não botei os inimigos:

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

Traze, Capitão,

alguns moleques que não sejam

zombeteiros nem vadios,

que as igrejas da minha devoção já mandei

levantar e quero,

promessa da mulher-lá-em-casa, mandar

educar uns moleques de missa.

 

 

E batizei os negrinhos,

e os meti no Evangelho,

um é Sadoc; e a minha quota de rezas

já está preenchida,

o Céu garantido,

para ti também, Capitão;

o outro é Lucas,

bispo e cardeal —

 

— porque entre pulso e olho latejam os ferros da vontade! —

 

talvez venha a ser (morreu antes)

o papa,

o papa do Século Cem,

de Ésquilo.

 

 

E se um dia,

um único banco de sentar:

espera mais um pouco,

porque o banco, com certeza,

está reservado

a uma dama mui nobre e mui distinta,

a Senhora Rosa Parks, Montgomery, Alabama,

desde o dia 1º/12/1955

até o Século Cem,

de Ésquilo.

 

Se tua pressa, porém,

for muito grande,

nem aceitas sentar só um pouquinho,

queres porque queres ir

na frente;

pergunta se podes;

o posto de ir à frente, afinal,

se reservou

a Maximilian Kolbe, numa noite,

julho de 1941, Auschwitz-Birkenau,

ele pisou silenciosamente para frente,

dizendo que ia na frente,

ao Século Cem,

de Ésquilo.

 

Porque os passos à frente

do pálido Kolbe;

o gosto à frente (do não levantar)

da negra

Rosa Parks

foram troféu olímpico — e as anotações

da jovenzinha — Anne Frank —

àquele caudal de fogo,

(que tu, Prometeu)

[...]

para entregar

todo o fogo do Reno

às mãos tremidas

do Capitão

Cassius Marcellus Memoria Clay.

 

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Tiziano, O sagrado e o profano

Tiziano, O sagrado e o profanoa

 

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