Jorge de Sena


De Relance, O Alentejo

Um céu abafadiço, um ar de ausência esperando nuvens imóveis no céu baixo. A terra, já das ceifas recolhida, alonga-se manchada a flores tardias, roxas, vermelhas, amarelas, brancas, como penugem de esquecida Primavera. Por entre os campos, os cordões rugosos dos caminhos para toda a parte, menos para os campos, que pacientemente evitam. Na linha do horizonte próxima ou distante conforme as ténues cristas da planura imensa, um claror de céu, um tufo de arvoredo, alternadamente se tocam e se afastam. De súbito, num alto que a planície esconde, as casas surgem brancas e compactas. Como surgem, mergulham na sombra poeirenta de azinhagas em ruínas. Ainda se demora uma torre antiga, escura, com ameias e janelas novas, caiadas. Um rio se advinha. Mas, de ao pé da ponte. de novo apenas o ondular da terra, um crespo recordar só de searas idas.


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