Stella Leonardos
Comentário Sobre Álvaro Pacheco
— De Álvaro Pacheco, autor de “Os Instantes e os Gestos” e “Pasto
da Solidão” noticiamos ano passado, o belo “Margem Rio Mundo”.
Agora nos dá ele O Sonho dos Cavalos Selvagens, “selvagens
que tropejam como igrejas / e outros templos de eras primitivas / escavados
na memória coletiva / do amor que se descasca de seus séculos
/ e afunda lentamente em água e fogo / nesses seres nossa angustia
/ pele em pele homem em homem morte em morte / como nesses nossos sonhos
de cavalos / selvagens disparados pelo sangue”. A poesia de Álvaro
Pacheco neste livro tem novas perspectivas mas ele perdura um trabalho
de talho firme com ousadias sintáticas: “filho filo silo dilo tudo
isto / nosso amor”: num tempo de caminhar “a extensa sementeira /
tirar flores das raízes / cravar-se em sim, sou feliz”. Tônica
na poética do jovem piauiense radicado no Rio é o uso
do parêntese, não só como mestre Cassiano e os da poesia
praxis: “chegamos sem/ pre/ chega (mos) a vida/ chega (mos) a morte” mas
o parêntese em todas as gamas flexíveis demonstrativas e de
efeitos eufônicos. Uma poesia que é “a porta o porto
o porte para esse coração” (dele) poeta. |
in JORNAL DE LETRAS, Maio de 1967
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