José Carlos SOUZA SANTOS


A tarde que me cabe

Eram quatro, as horas da manhã quando nasci, ainda não se havia completado o meio-dia quando os meus olhos se abeberaram sôfregos, de lembranças de nunca vistos pôr-do-sol, de canelones que pela boca me desceram sem lhes sentir o gosto, de apaixonados beijos que os desejos não me aplacaram, e foi tão rápida a descoberta de ter vivido somente o espaço de uma manhã nos meus quarenta anos. Ainda não se tinha completado o meio-dia, e náufrago em tábua de conveniência, não me permitira ver a luz que me tocara, me lambera, me inundara. e só pelas tuas mãos, e pelo teu silêncio em grito de ausência transformado, hei de viver o período da tarde que me cabe, e vivê-lo tão intensamente, que os refúgios em nossos corpos usados inatingíveis hão de se tornar no compassado ritmo do amor.


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