CABANA VELHA DA ALDEIA
Bem pertinho da igrejinha,
na estrada que vai p'ra
serra,
havia na minha terra
uma choupana velhinha.
Sei que rnais pobre não
tinha,
mas, assim mesmo, eu gostava,
pois era ali que eu morava,
bem pertinho da igrejinha.
Casinha de pedra nua,
paredes a revestir,
todos podiam ouvir
nossa conversa da rua;
e via-se a própria
lua
pelas frestas do telhado.
Como é grande o teu
passado,
casinha de pedra nua!
O teu valor verdadeiro
talvez eu descreva mal.
.
Tinhas ao fundo um quintal,
na frente havia um canteiro
. . .
e em dezembro ou em janeiro,
quando a neve castigava,
para nós quintuplicava
o teu valor verdadeiro.
Tres banquinhos de madeira,
feitos em tempos passados,
rnuito toscos! colocados
bern pertinho da lareira,
alguns tocos na fogueira
e o cuidado da familia:
- Que se não queime
a mobilia! . . .
Tres banquinhos de madeira!...
E a mesa? Ah, sim, a mesa!
. . .
quatro pedaços de
pau
num caixão de bacalhau...
Que romance! Que beleza!
Talvez vos cause surpresa
este meu contentamento
e penseis neste momento:
- E a mesa? Ah, sim, a mesa!
Quando mesa não havia,
a conselho dos mais velhos,
punha-se sobre os joelhos
o pratinho . . . e se comia.
-E assim era dia-a-dia .
. .
e a vida assim se passava
. . .
Ninguém se contrariava
quando mesa não havia.
Cabana velha da aldeia,
como me lembro de ti! .
. .
Nunca, jamais esqueci
aquela frágil candeia
que, à noite, à
hora da ceia,
logo que o sol se escondia,
·
a minha mãe acendia
. . .
Cabana velha da aldeia!
. . .
Cantinho de gente pobre,
eu não consigo olvidar-te!
.
Meu desejo era cantar-te
como se em palácio
nobre,
onde há riqueza que
sobre,
tu te houvesses transformado.
Sou teu velho enamorado,
cantinho de gente pobre!
Um dia, mas não sei
quando,
terminado o meu calvário,
vou ver-te e levo um rosário
das máguas que estou
chorando.
Bem pensando e meditando
tudo pode acontecer.
Deus vai dar-me esse prazer,
um dia, mas não sei
quando!
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