Tenreiro Aranha


Soneto II

Passarinho que logras docemente Os prazeres da amável inocência, Livre de que a culpada consciência Te aflija, como aflige ao delinqüente; Fácil sustento e sempre mui decente Vestido te fornece a Providência; Sem futuros prever, tua existência É feliz limitando-se ao presente. Não assim, ai de mim! Porque sofrendo A fome, a sede, o frio, a enfermidade Sinto também do crime o peso horrendo... Dos homens me rodeia a iniqüidade A calúnia me oprime, e, ao fim tremendo Me assusta uma espantosa eternidade.


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