Marcelo Tápia


essência falsa

as lojas de essências da rua tabatingüera e da rua silveira martins na sé em são paulo (e afins) são um modelo mítico da nossa era: o totem da verdade caído por terra dá lugar ao frenesi da imitação um por um de cada aroma que era é agora quase tal qual, a não ser por um senão a marca vira tipo e o que era espécime se torna espécie cada nome vira público e o que era único se torna série o milagre da multiplicação se instala para qualquer um e o que era distante da mão cai na mão como um fato comum a fórmula do tal perfume se obtém sem entrave mas sua essência permanece posse falsa de algum dono falso da chave tudo se chama como se quer e é tudo como se fosse; além do perfume, o whisky, o cognac, o liqueur se fazem sem o tempo de amadurecer a coloração se faz com caramelão o sabor com o aroma, o açúcar, o álcool – a química da depuração da simulação criando a realidade dúbia, virtual do igual nestes tempos de reproduções mesmo as palavras, mesmo as ações o que se diz, o que se faz ora é ora não é ou é o que se faz o que se diz cada coisa que se denomina pode ser o simulacro do que se designa ou o que se resigna com o simulado: o verbo sublimado e recondensado em significado


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