Marcelo Tápia
essência falsa
as lojas de essências da rua tabatingüera
e da rua silveira martins
na sé em são paulo (e afins)
são um modelo mítico da nossa era:
o totem da verdade caído por terra
dá lugar ao frenesi da imitação
um por um de cada aroma que era
é agora quase tal qual, a não ser por um senão
a marca vira tipo
e o que era espécime se torna espécie
cada nome vira público
e o que era único se torna série
o milagre da multiplicação
se instala para qualquer um
e o que era distante da mão
cai na mão como um fato comum
a fórmula do tal perfume
se obtém sem entrave
mas sua essência permanece posse
falsa de algum dono falso da chave
tudo se chama como se quer
e é tudo como se fosse;
além do perfume, o whisky, o cognac, o liqueur
se fazem sem o tempo de amadurecer
a coloração se faz com caramelão
o sabor com o aroma, o açúcar, o álcool
– a química da depuração da simulação
criando a realidade dúbia, virtual do igual
nestes tempos de reproduções
mesmo as palavras, mesmo as ações
o que se diz, o que se faz
ora é ora não é ou é o que se faz o que se diz
cada coisa que se denomina
pode ser o simulacro do que se designa
ou o que se resigna com o simulado:
o verbo sublimado e recondensado em significado
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