Tasso da Silveira
Intróito
Nós temos uma visão clara desta hora.
Sabemos que é de
tumulto e de incerteza.
E de confusão de valores.
E de vitória do arrivismo.
E de graves ameaças para o homem.
Mas sabemos,
também, que não é esta a primeira
hora de agonia e inquietude que a humanidade vive.
(...)
A arte é sempre a
primeira que fala para anunciar
o que virá.
E a arte deste momento é um canto de alegria,
uma reiniciação na esperança,
uma promessa de esplendor.
Passou o profundo
desconsolo romântico.
Passou o estéril ceticismo parnasiano.
Passou a angústia das incertezas simbolistas.
O artista canta
agora a realidade total:
a do corpo e a do espírito,
a da natureza e a do sonho,
a do homem e a de Deus,
canta-a, porém,
porque a percebe e compreende
em toda a sua múltipla beleza,
em sua profundidade e infinitude.
E por isto o seu
canto
é feito de inteligência e de instinto
(porque também deve ser total)
e é feito de ritmos livres
elásticos e ágeis como músculos de atletas
velozes e altos como sutilíssimos pensamentos
e sobretudo palpitantes
do triunfo interior
que nasce das adivinhações maravilhosas...
O artista voltou a
ter os olhos adolescentes
e encantou-se novamente com a Vida:
todos os homens o
acompanharão!
Publicado no livro Definição do Modernismo Brasileiro
(1932).
In: CACCESE, Neusa Pinsard. Festa: contribuição para o estudo do
Modernismo. São Paulo: IEB, 1971. p.190-192
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