Teófilo Dias


A Matilha

Pendente a língua rubra, os sentidos atentos, Inquieta, rastejando os vestígios sangrentos, A matilha feroz persegue enfurecida, Alucinadamente, a presa malferida. Um, afitando o olhar, sonda a escura folhagem; Outro consulta o vento; outro sorve a bafagem, O fresco, vivo odor, cálido, penetrante, Que, na rápida fuga, a vítima arquejante Vai deixando no ar, pérfido e traiçoeiro; Todos, num turbilhão fantástico, ligeiro, Ora, em vórtice, aqui se agrupam, rodam, giram, E, cheios de furor frenético, respiram, Ora, cegos de raiva, afastados, disperses, Arrojam-se a correr. Vão por trilhos diversos, Esbraseando o olhar, dilatando as narinas. Transpõem num momento os vales e as colinas, Sobem aos alcantis, descem pelas encostas, Recruzam-se febris em direções opostas, Té que da presa, enfim, nos músculos cansados Cravam com avidez os dentes afiados. Não de outro modo, assim meus sôfregos desejos, Em matilha voraz de alucinados beijos Percorrem-te o primor às langorosas linhas, As curvas juvenis, onde a volúpia aninhas, Frescas ondulações de formas florescentes Que o teu contorno imprime às roupas eloqüentes: O dorso aveludado, elétrico, felino, Que poreja um vapor aromático e fino; O cabelo revolto em anéis perfumados, Em fofos turbilhões, elásticos, pesados; As fibrilhas sutis dos lindos braços brancos, Feitos para apertar em nervosos arrancos; A exata correção das azuladas veias, Que palpitam, de fogo entumescidas, cheias, — Tudo a matilha audaz perlustra, corre, aspira, Sonda, esquadrinha, explora, e anelante respira, Até que, finalmente, embriagada, louca, Vai encontrar a presa — o gozo — em tua boca.


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