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Trasíbulo
Ferraz
Biografia:
Trasíbulo Ferraz Moreira,
nasceu em 28 de janeiro do 1870, em Lençóis, na Chapada Diamantina,
era filho do tenente Espiridião Ferraz Moreira e de d. Maria Amélia
F. Moreira; ainda criança com a família deslocou-se para
a cidade de Cachoeira. Frequentou as faculdades de Direito do Recife e
da Bahia, até o quarto ano, não concluindo o curso por moléstia
pulmonar, de que faleceu em plena florescência de seu talento. Redator-chefe
da Gazeta de Notícias, militou na imprensa diária de Salvador,
lado a lado com a literatura, publicando poesia, contos e crônicas.
Com a sua morte, seus amigos tiveram a iniciativa de reunir alguns de seus
versos numa coletânea sob o título de Poesias, com o prefácio
de Evangelista Pereira, em edição de uma gráfica da
cidade de Amargosa, no interior do Estado, em 1900. De sua autoria é,
ainda, o volume de contos Poliformes (1896).
Naquela época era comum
encerrar as festas com alguém declamando uma poesia acompanhado
pelo piano. A poesia A ORGULHOSA, tem a sua história; por sinal
em duas versões:
A primeira, de ter sido improvisado
no baile de formatura de outro poeta - Péthion de Vilar. Reza a
crônica oral que a recepção oferecida pelos pais de
Péthion, diplomado em Medicina, naquele ano de 1895, já estava
pela metade da noite quando, instado pelo próprio Péthion,
seu velho amigo e jornalismo, banco acadêmico e vida literária,
Trasíbulo, que chegara quando a festa já ia ao meio e, como
sempre, descabelado com traje surrado e calçado com cadarço
desamarrado, havia se recolhido à sacada de uma das janelas do palacete
que dominava o largo de São Pedro, ensimesmado e abatido com a taboca
(recusa) que sofrera por parte de uma das irmãs de Péthion,
quando ele se dirigira e a convidara para uma contradança. A jovem,
que alegara para efeito de recusa o fato de se achar indisposta, momento
depois, aceitava o convite de um dos seus primos.
Não só Péthion,
mas, praticamente todos os convidados, exigiram que Trasíbulo declamasse.
Não o fez, no entanto, acatando as sugestões feitas de algumas
suas conhecidas e inúmeras poesias. Dispôs-se a fazer um improviso
do que valeu seu amigo Péthion para, previamente, munir-se de papel
e tinta a fim de registrar os versos que tornariam famosos.
Ao final , a jovem que o acompanhara
ao piano, debruçou-se desfalecida sobre o teclado, sendo logo socorrida.
A jovem, não era outra senão a que lhe negara a contradança.
A segunda versão situa
o poeta Trasíbulo Ferraz em período de férias, em
casa de parentes em Lençóis. Focaliza o caso do baile como
tendo sido em um dos salões elegantes daquela cidade, ocorrendo
a recusa da contradança por parte de uma das filhas de Domingos
de Almeida, figura de expressão local. A cópia dos versos
teria sido objeto de iniciativa de um de seus amigos de faculdade e companheiro
de banca de jornal, Américo Pinto Barreto Filho.
A primeira versão é
a mais convincente do ponto de vista de que o poeta só procurou
o convívio familiar quando de sua doença, pois preferia a
vida em Salvador, mesmo quando em férias da faculdade, de vez que,
além do jornal, havia a vida boêmia para absorvê-lo.
Não se conhece nenhuma foto do poeta..
Remetido por Eudes Sant'Anna
A
orgulhosa
A Orgulhosa
Num Baile
Ainda há pouco
pedi-te,
Pedi-te para valsar...
Disseste - és
pobre, és plebeu;
Não me quiseste
aceitar!
No entretanto ignoras
Que aquele a quem tanto
adoras,
Que te conquista e seduz,
Embora seja da "nata",
É plena figura
chata,
É fósforo
que não dá luz!
Deixa-te disso, criança,
Deixa de orgulho, sossega,
Olha que o mundo é
um oceano
Por onde o acaso navega.
Hoje, ostentas nas salas
As tuas pomposas galas,
Os teus brasões
de rainha;
Amanhã, talvez,
quem sabe?
Esse teu orgulho se acabe,
Seja-te a sorte mesquinha.
Deixa-te disso, olha bem!
A sorte dá, nega
e tira;
Sangue azul, avós
fidalgos,
Já neste século
é mentira.
Todos nós somos
iguais;
Os grandes, os imortais;
Foram plebeus como eu
sou.
Ouve mais esta lição:
Grande foi Napoleão,
Grande foi Victor Hugo.
Que serve nobre família,
Linhagem pura de avós?
Se o sangue dos reis
é o mesmo,
O mesmo que corre em
nós!
O que é belo e
sempre novo
É ver-se um filho
do povo
Saber lutar e subir,
De braços dados
com a glória,
Pra o Pantheon da História,
Pra conquista do porvir.
De nada vale o que tens
Que não me podes
comprar;
Ainda que possuísses
Todas as pérolas
do mar!
És fidalga? -
Sou poeta!
Tens dinheiro? - Eu a
completa
Riqueza no coração;
Não troco uma
estrofe minha
Por um colar de rainha
Nem por troféus
de latão.
Agora sim, já é
tempo
De te dizer quem sou
eu,
Um moço de vinte
anos
Que se orgulha em ser
plebeu,
Um lutador que não
cansa,
Que ainda tem esperança
De ser mais do que hoje
é,
Lutando pelo direito,
Pra esmagar o preconceito
Da fidalguia sem fé!
Por isso quando me falas,
Com esse desdém
e altivez,
Rio-me tanto de ti,
Chego a chorar muita
vez.
Chorar sim, porque calculo,
Nada pode haver mais
nulo,
Mais degradante e sem
sal
Do que uma mulher presumida,
Tola, vaidosa, atrevida.
Soberba, inculta e banal.
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