Venúsia Neiva


O Cemitério

cruzes. guirlandas. flores. ciprestes. tudo se confunde num funéreo lamento de loucura. podridão de estátuas que já foram vivas, que sorriam, que choravam, que gritavam ao mundo a inutilidade das coisas mortas. eu sinto o vento a gemer na solidão e no tempo. eu vejo os anjos de mármore incendiarem-se no luar que povoa a cidade deserta. madrugadas gélidas. dentro de noites gélidas. corujas piando sobre cruzes eretas. coroas de rosas desbotadas. vôos agoureiros de morcegos negros. tudo pede luz. tudo pede vida! alvas sombras entrechocam-se ao ritmo macabro das convulsões do pavor. a morte mora ali. ela vigia seus súditos acorrentados sob lápides marmóreas. nunca mais os deixará sair. para sempre escravizados. até à eternidade, até ao fim dos tempos! até que a ressurreição se processe em suas cinzas esquecidas.

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