Vargas Neto
Meio-dia
Todo o ar treme sob o sol do meio-dia!
O capim se dobrou sobre si mesmo, trepidando...
A gente olhando o campo
tem a impressão que derramam sobre ele
qualquer coisa derretida !
O gado invadiu as restingas e os capões,
para fugir à graxa quente, que o sol derrama
derretida
sobre a grama.
No lombo da coxilha
só um cavalo velho bate o casco,
varado de sede,
porque teve preguiça de fugir do sol,
porque tem preguiça de descer à sanga
Debaixo dos cinamomos da fazenda
a peonada dorme, estirada de costas, com o chapéu nos olhos.
Um guaipeca, deitado aos pés de um peão
erra bocadas nas moscas, estalando os dentes.
Depois cocoricoca uma galinha que botou
e tudo volta ao silêncio porque o calor tonteia.
Até o vento tem preguiça de ventar!...
Apenas se ouve, zunindo, longo, infindo,
o monótono zunzum das moscas vagabundas...
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