Rodrigo Otávio
Na Alcova da Sultana
Na azul e perfumada alcova em que ela dorme,
Dorme também aos pés da cama aurilavrada
De um urso branco a pele aveludada, enorme,
De pérolas azuis e gema entressachada.
Sai da rubra goela hiante, escancarada,
Pontiaguda, eriçada a dentadura informe,
Guardando noite e dia a azul e perfumada
Alcova em que a gentil sultana sonha e dorme.
Quando o sol de manhã no leito vem beijá-la,
As pálpebras descerra, os braços estendendo
No ar, aberto o roupão de linho cor de opala.
Sai do leito: no quarto entorna-se um perfume,
E os olhos de esmeralda o urso crava com ciúme,
No espelho, um outro olhar, cúpido a vê-la, vendo.
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