Era uma vez a garota
que acreditava em Noel.
Dizia com a voz marota:
- há mil brinquedos no céu!...
E, apesar da fantasia,
seu Natal era um fracasso.
Mas, assim mesmo, sorria,
com um beijo, a benção e um abraço.
Seu pai lamentava tanto
seu sorriso sem brinquedos,
que, um dia, revolto em pranto,
saiu de casa bem cedo...
...Era tempo de Natal.
Ele sonhou muito alto:
deu-lhe boneca ideal
que ele conseguiu num assalto.
Fez sua filha feliz
E Noel levou a fama,
Mas o destino assim quis:
o seu pai ficou na lama.
Foi preso como ladrão.
E ela, enquanto sofria,
tomou uma decisão:
Foi para a delegacia.
E falou pro delegado
que estava de plantão:
- o senhor tá enganado!
O meu pai não roubou, não!
E, com a boneca na mão,
falou com a voz soluçante:
eu só conheço um ladrão,
Papai Noel, o pedante.
Pai não roubou porque quis.
Um herói ninguém humilha.
Ele quis ver-me feliz
como o senhor vê sua filha.
Ser pobre é crime, doutor?
É um pecado mortal?
Diga-me, então, por favor!
O pobre não tem Natal?
Se meu pai é criminoso,
Papai Noel é o quê?
Não passa de um orgulhoso
Por que vive a se esconder?
Nunca me deu um presente,
fingia ser bom velhinho.
Eu o esperava contente;
roubou-me todo o carinho.
Porém, nunca viu cadeia.
Devolva meu pai, seu moço
e pegue a boneca alheia!
E saiba que meu almoço
é a benção do meu pai;
esta, sim, nunca faltou
em todos os meus natais,
embrulhadinha de amor.
E se sua alma é nobre,
prenda já o Papai Noel,
que engana criança pobre
e ainda se diz do céu.
Era uma vez a garota
que acreditava em Noel... |