Wanda Cristina da Cunha e Silva 

A História da Garota que Acreditava em Noel
 
Era uma vez a garota 
que acreditava em Noel. 
Dizia com a voz marota: 
- há mil brinquedos no céu!... 

E, apesar da fantasia, 
seu Natal era um fracasso. 
Mas, assim mesmo, sorria, 
com um beijo, a benção e um abraço. 

Seu pai lamentava tanto  
seu sorriso sem brinquedos, 
que, um dia, revolto em pranto, 
saiu de casa bem cedo... 

...Era tempo de Natal. 
Ele sonhou muito alto: 
deu-lhe boneca ideal 
que ele conseguiu num assalto. 

Fez sua filha feliz 
E Noel levou a fama, 
Mas o destino assim quis: 
o seu pai ficou na lama. 

Foi preso como ladrão. 
E ela, enquanto sofria, 
tomou uma decisão: 
Foi para a delegacia. 

E falou pro delegado 
que estava de plantão: 
- o senhor tá enganado! 
O meu pai não roubou, não! 

E, com a boneca na mão, 
falou com a voz soluçante: 
eu só conheço um ladrão, 
Papai Noel, o pedante. 

Pai não roubou porque quis. 
Um herói ninguém humilha. 
Ele quis ver-me feliz 
como o senhor vê sua filha. 

Ser pobre é crime, doutor? 
É um pecado mortal? 
Diga-me, então, por favor! 
O pobre não tem Natal? 

Se meu pai é criminoso, 
Papai Noel é o quê? 
Não passa de um orgulhoso 
Por que vive a se esconder? 

Nunca me deu um presente, 
fingia ser bom velhinho. 
Eu o esperava contente; 
roubou-me todo o carinho. 

Porém, nunca viu cadeia. 
Devolva meu pai, seu moço 
e pegue a boneca alheia! 
E saiba que meu almoço 
é a benção do meu pai; 
esta, sim, nunca faltou 
em todos os meus natais, 
embrulhadinha de amor. 

E se sua alma é nobre, 
prenda já o Papai Noel, 
que engana criança pobre 
e ainda se diz do céu. 

Era uma vez a garota  
que acreditava em Noel...

 
Remetente: Chico Poeta

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  24 de novembro de 1997