Peçonhenta
Serpenteia, cobra! Serpenteia!
Ofídio sem igual, na umidade mórbida
e pegajosa de minhas cavidades coronárias,
tu vais pintando teu rastro ondulatório,
vais fomentando em mim um ataque cardíaco.
Es indubitavelmente traiçoeira, maldita!
Teus olhos divagam a tua suntuosidade,
expirando e renascendo o bailar cancionista
do andar
Me es todo feitiço. Feitiço
carnal que destila um odor de fatalidade.
Atormenta-me com a lembrança de que
sou mortal,
enquanto passeias pelo meu corpo nu, de que
danças
em mim como eu fosse tua casa.
Ah, criatura rastejante! Pudera eu balançar
sobre meu ventre!
Pudera eu comer somente pó!
Mas te como e te engulo com voracidade,
até que chegues a morar nas paredes
de minh'alma.
Te faço penetrar pela garganta e tu
me picas a língua.
Que dor! Que bruxaria!
Teu veneno me transforma...minha pele tem escamas!
Oh! Me consumiu este réptil idolatrado!
Evoco, agora, sempre esta bacante em meus
pensamentos dissolutos, ttanscendentais, tão
imorais, tão maculados!
Sou toda veneno e já não me
contenho frente a pés tão suculentos.
Paixão dovoradora... cobra coral!
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