Deixei
avisado lá embaixo:
Ela virá,
minha amada...
de susto, sem avisar!
Se eu estiver lá
em cima,
por favor, não
me avisem,
quero surpresa,
o estremecer-de-chave-girando...
Por
favor,
não
perturbem.
Se
eu não estiver
dêem-lhe
a chave...
O jeito
dela?
Ah, é muito
fácil:
a mais bonita,
a mais meiga,
a mais doce:
Ela!
E por
favor,
quand’eu
vier chegando
não
me digam nada —
quero
tanger a porta
e
ao susto de teus olhos, amor:
um coração,
(Cor Jesu!
Cor Jesu!)
será colhido em minha mão:
é o meu,
despedaçado!
Amor,
escondi a passagem
por
baixo da almofada...
se
tocaste fogo,
mando-te
outra e outra e outra,
de
preferência sem volta,
caravelas
do coração,
Hernán
Cortez
queimadas...!
Porém,
místico como sou, no amor,
se
me surgir
no
meu quarto
uma
Serpente...
Quem
sabe,
Ela,
una
brujería,
d’encantamento.
Não
faz mal:
beijarei
sua língua bífida,
veneno
ou mel...
Aliás,
os alquimistas
sempre
disseram:
onde
há veneno, há mel;
onde
há mel, há veneno,
questão
de grau, meu caro Watson.
Mesmo
que seja veneno, pois,
só
veneno,
a
boca úmida,
a
cintura
leve,
levíssima, de flutuar;
teus
olhos tristes...
o
enleio
das
mãos,
Yin
& Yang
por
uns segundos:
Blake,
eternidade!
De
todos os sinos —
um
único dorso —,
uno,
um animal só, como se fosse
o
tinir dum único sino.
Virás, eu sei!
E já
estão batendo à porta,
acho
que eu sei quem é:
Ela —
ou
a aflição,
a Serpente!
Como
eu desconfiei,
tristeza
maior:
Era a Serpente.
E brigamos
e brigamos:
Valei-me,
meu São Bento!
meu
padrim São Francisco do Canindé,
meu
padrim Padre Cícero do Juazeiro,
minha
Nossa Senhora das Graças,
meus
escapulários,
meu
raminho de arruda,
de
dentro do Livro,
bento,
me
acudam!
E brigamos
e brigamos.
Amor,
Tu,
minha Serpente,
ao
beijo da língua bífida:
descoberta,
“desencantaste”!
Tu,
mulher, surgiste ao coleio de cobra,
brilho
de cobra
languidez
de cobra
olhar
de cobra
malícia
de cobra:
agora,
um frio intenso,
abraça-me,
sou eu!
Pois
de caminhos que a gente não sabe quais,
sempre
há
uma
passagem,
e s c o
n d i d
a,
talvez,
no início,
em
quatro pétalas, serpenteando a caminho de mil.
E o mistério.
Rigores de não.
Pois o perigo.
Salvador,
BA, madrugada, 21.04.1995.