Jornal de Poesia

Itabajara Catta Preta

icatapreta@tba.com.br


SQS  102,  bl.  K,  apart.  602
70330-110 -  Brasilia  (DF)
Telefone:  -  (061)  223.7121


Voltar para a página inicial

ÍNDICE DESTA PÁGINA:
      RETRATO  NO  FUNDO  DO  ESPELHO

      MEU  JAZIGO

      MÃE  DO  CÉU  E  MÃE  DA  TERRA

      POR  UMA  INFANTA  DEFUNTA

      NOSSA  SENHORA  DA  PRIMAVERA

      UM  POEMA

RETRATO  NO  FUNDO  DO  ESPELHO
 
 

Esta  não  é  a  face  da  minha  juventude!
Não  creio  nestas  rugas  e  não  creio
nesta  feição  austera,  séria  e  rude;
e  esta  barba  grisalha  é  de  algum   rosto alheio.
Este  espelho  está  velho  e  já perdeu  a  virtude
da  boa  educação,  do  gentil  galanteio;
já  não  reflete  bem;  já  não  sabe  a  que  veio.
Este  semblante  triste  não  me  ilude.
Não  sou  eu,  não  sou  eu  este  ancião  tão  feio!
 

Sou, sim,  esse que vejo sobre a mesa posto,
lá no fundo do espelho, sobre a cantoneira.
Vou vestido a rigor  e  exibo  com bom gosto,
a princesa do amor, a meu braço, altaneira.
Cabeleira de poeta; o porte  bem composto;
e  esta  luz  em  meus  olhos é  que é  verdadeira.
Tenho,  assim,  a  cabeça  erguida,  e  na  viseira
o  anseio  do  ideal  que  ilumina  o  meu  rosto
e  mostra,  no  porvir,  a  glória  toda inteira!
 

Sou  aquele.  E  não  este.  É maldade e loucura
colocar  em  meu  rosto  ais  e nãos... e  a  mentira
de  contar  quarenta  anos  de lonjura
entre  o  retrato  e  o  espelho... Ao arpejo da lira,
foram  minutos  só,  de  sonho e de ventura!
Na  minha  mocidade, inda canta e suspira
o  ideal  a  ganhar,  a  iluminada mira
de  conquistar  do  amor a  feliz aventura...
— A  verdade  é  o  retrato. Este espelho é mentira!

MEU  JAZIGO
 

Quando  eu  morrer,  que  a  minha  campa  seja
      nua,  sem  lousa,
para  que  um  crente,  orando  nela,  veja
que  ali  repousa 
      um  simples.
 

Quero  mais: -  que  a  cruz  erguida
      à   cabeceira,
seja  de  troncos,  lisa,  não  polida,
      bruta  madeira.
 

Do  cemitério,  fique  sita  a  um  canto
      humilde  e  chão
—  que  não  chegue  até  mim  a  dor  e  o  pranto
      dorido  e  vão,
que  a  saudade  tortura  e  não  consola,  nem  esmaece —,
para  que  pense  quem  me  faça  a  esmola  da  santa  prece
      que  fui  um  santo... 
 

Que  me  plantem  sobre  ela  uma  roseira 
      de  trepadeira,
rodeada  de  modestas  açucenas,
para  que  diga  quem  me  vir  florindo:

      " - Foi  um  poeta,  apenas!"
 

 

MÃE  DO  CÉU  E  MÃE  DA  TERRA

Jesus, 
antes  de  morrer  na  cruz,
deu  aos  homens  uma  prova  mais  de  seu  amor:
      -  SUA  MÃE!

Sua  mãe,  para  ser  nossa  mãe!
      -  SUA  MÃE!

Sua  mãe,  para  ser  nossa  mãe!
E  passamos a  ter  a  glória
de  venerar  a  nossa Mãe  do  Céu,
imaginando  o  amor de  Jesus  por  ela
semelhante  ao  nosso  amor
pela  nossa  própria  mãe  da  terra!
 

Também,  ao  manifestarmos  o  carinho
que  sentimos  pela  nossa  mãe  terrena,
ousamos  (que  filho  não?)
compará-la  com  a  Mãezinha-do-Céu
-  relicário  de  todas  as  virtudes! -
 

Eu,  porém,
fiquei  sem  termo  de  comparação,
tanto  no  primeiro  como  no  segundo  caso:
Minha  mãezinha  morreu;
e  agora
só  tenho  duas  mães  celestes...
 

Tudo  o  que  peço
por  intermédio
de  minha  Mamãe-do-céu
recebo  em  dobro.





 

      POR   UMA   INFANTA   DEFUNTA
       

      O  sol  escondeu  a  face,
      as nuvens  se  amontoaram
      no  céu  escuro  e  chumbado.

      De  chuva  frígida  e  alvace,
      os  nimbos  o  céu  tornaram
      As  folhas  estremeceram...

      Soprou   um  vento  gelado
      e,  por  tudo,  um  arrepio
      correu...  e  as  folhas  tremeram
      em  cada  galho  engelhado,
               DE  FRIO.
       

      Os  passarinhos  calaram...
      Em  um  momento  solene,
      ao  golpe  ríspido  e  bruto
      da  morte,  as  aves  calaram.
      Pairou  silêncio  perene
             DE  LUTO.
       

      Todas  as  flores  morreram...
      E  cada  botão  fechado
      crestou-se  num  só  momento.
      As  flores  emurcheceram
      nos  jardins  e  pelo  prado
          NUM  LAMENTO,
       

      Os  corações  amorosos 
      de  todos  quantos  a  amaram...
      Oh!  Que  momento  infeliz!
      Seus  pais...  seus  irmãos  chorosos...
      Quanto!  Quanto  a  lamentaram
          THAÍS!
       

      Celestiais  coros  cantaram
      Hosana!  Alelúia!  Lôa!
      Ao  lhe  ser  dado  o  troféu...
      Anjos  e  virgens  cantaram
      ao  lhe  ser  posta a  coroa,
          NO  CÉU!

 
NOSSA  SENHORA  DA  PRIMAVERA
 

Nossa  Senhora  de  setembro,
só  por  ti  é  que  as  rosas  nascem.
 

Natividade,  és  a  primavera
que  desabrocha  em  cada  ramo
e  floresce  nas  almas.
 

É  preciso  ser  cristão  e  ser  poeta
para  sentir  a  beleza  completa
da  rosa  Nossa  Senhora
de  Nossa  Senhora  rosa;
 

Sempre,  quando  setembro,
tenho  teu  nome  assim  invocado:
-  Nossa  Senhora  da  Primavera  -
A  rosa  mais  bela  das  rosas  que  amo,
dentre  todas  que  nascem...
 

que  desabrocha  em  cada  setembro,
que  floresce  em  cada  primavera.
Das  flores  a  mais  viçosa
dentre  todas  que  nascem:
rosa  Nossa  Senhora,

Nossa  Senhora  da  Primavera!
 
 

 

UM   POEMA
 
 

Se  eu  te  fizesse  um  poema  de  versos  livres  
       como  asas  ao  vento;
moderno,  sensual,  terno  e  eterno,
escrito  em  tinta  indelével  no  caderno  dos  versos  mais  íntimos,
que  guardo  comigo  mesmo  para  ninguém  ver,
serias  tu  mesma  esse  poema.

Porque  tu  és  a  inspiradora de  meus cantares
e  rimo  para  mim  mesmo  teu  nome:  -  ELINA
com  expressões  arroubadas  de  amor:
carinho  e  sonho,  ideal,  saudade,  vida...
 

Se eu te fizxesse um poema de versos  livres
        como  folhas  ao  vento;
diria  que  nossa vida  em  comum  tem  sido 
para  mim  razão de  ser, essência  do  divino,  milagre  
de sentimento,  encanto  e  doçura,
a  felicidade  mais  pura
que  eu  poderia  desejar  em  toda  a existência.
 

Se  eu  te  fizesse  um  poema  de  versos  livres
         como  pétalas  ao  vento;
diria  que  desde  o  primeiro  olhar,  todos  os  teus  gestos,  palavras, abraços  e  beijos,  carinhos  sublimes  de  ternura,
foram  minha  cornucópia  de  felicidade...
 

Se  eu  te  fizesse  um  poema  de  versos  livres
           como  ideais  ao  vento;
contaria  que  aquela  caixinha  de  que  um  dia  te  falei
-  caixinha  cinzenta,  delicada,  frágil,  em  forma  de coração,
que  se  romperia  ao  só  calor  de  teu  primeiro  beijo -
dilatou-se  á   força  de  teu  milagroso  toque
e  tornou-se  maior  que  o  mundo e  que  o  infinito...
 

Se  eu  te  fizesse  um  poema  de  versos  livres 
      como  o  só  mesmo  vento,
seria  ele  um  poema  universal,
minha  querida, se   eu   te   fizesse  um  poema  de  versos  livres...
se  eu   te   fizesse   um  poema...
 

Página anterior de Itabajara
.
 Mais poemas de Itabajara]  [Página inicial do JP