Itabajara Catta Preta
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RETRATO NO FUNDO DO ESPELHO
Esta não é a face da
minha juventude!
Não creio nestas rugas e não
creio
nesta feição austera, séria
e rude;
e esta barba grisalha é de
algum rosto alheio.
Este espelho está velho e já
perdeu a virtude
da boa educação, do gentil
galanteio;
já não reflete bem; já
não sabe a que veio.
Este semblante triste não me
ilude.
Não sou eu, não sou
eu este ancião tão feio!
Sou, sim, esse que vejo sobre a mesa posto,
lá no fundo do espelho, sobre a cantoneira.
Vou vestido a rigor e exibo com bom gosto,
a princesa do amor, a meu braço, altaneira.
Cabeleira de poeta; o porte bem composto;
e esta luz em meus olhos é
que é verdadeira.
Tenho, assim, a cabeça erguida,
e na viseira
o anseio do ideal que ilumina
o meu rosto
e mostra, no porvir, a glória
toda inteira!
Sou aquele. E não este. É
maldade e loucura
colocar em meu rosto ais e nãos...
e a mentira
de contar quarenta anos de lonjura
entre o retrato e o espelho... Ao
arpejo da lira,
foram minutos só, de sonho e de ventura!
Na minha mocidade, inda canta e suspira
o ideal a ganhar, a iluminada mira
de conquistar do amor a feliz aventura...
— A verdade é o retrato. Este espelho
é mentira! |
MEU JAZIGO
Quando eu morrer, que a minha
campa seja
nua, sem lousa,
para que um crente, orando nela,
veja
que ali repousa
um simples.
Quero mais: - que a cruz erguida
à cabeceira,
seja de troncos, lisa, não
polida,
bruta madeira.
Do cemitério, fique sita a um
canto
humilde e chão
— que não chegue até
mim a dor e o pranto
dorido e vão,
que a saudade tortura e não
consola, nem esmaece —,
para que pense quem me faça
a esmola da santa prece
que fui um santo...
Que me plantem sobre ela uma
roseira
de trepadeira,
rodeada de modestas açucenas,
para que diga quem me vir florindo:
" - Foi um poeta,
apenas!"
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MÃE DO CÉU E MÃE
DA TERRA
Jesus,
antes de morrer na cruz,
deu aos homens uma prova mais
de seu amor:
- SUA MÃE!
Sua mãe, para ser nossa mãe!
- SUA MÃE!
Sua mãe, para ser nossa mãe!
E passamos a ter a glória
de venerar a nossa Mãe do Céu,
imaginando o amor de Jesus por ela
semelhante ao nosso amor
pela nossa própria mãe da
terra!
Também, ao manifestarmos o carinho
que sentimos pela nossa mãe
terrena,
ousamos (que filho não?)
compará-la com a Mãezinha-do-Céu
- relicário de todas as virtudes!
-
Eu, porém,
fiquei sem termo de comparação,
tanto no primeiro como no segundo
caso:
Minha mãezinha morreu;
e agora
só tenho duas mães celestes...
Tudo o que peço
por intermédio
de minha Mamãe-do-céu
recebo em dobro.
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POR UMA INFANTA DEFUNTA
O sol escondeu a face,
as nuvens se amontoaram
no céu escuro e chumbado.
De chuva frígida e alvace,
os nimbos o céu tornaram
As folhas estremeceram...
Soprou um vento gelado
e, por tudo, um arrepio
correu... e as folhas tremeram
em cada galho engelhado,
DE FRIO.
Os passarinhos calaram...
Em um momento solene,
ao golpe ríspido e bruto
da morte, as aves calaram.
Pairou silêncio perene
DE LUTO.
Todas as flores morreram...
E cada botão fechado
crestou-se num só momento.
As flores emurcheceram
nos jardins e pelo prado
NUM LAMENTO,
Os corações amorosos
de todos quantos a amaram...
Oh! Que momento infeliz!
Seus pais... seus irmãos chorosos...
Quanto! Quanto a lamentaram
THAÍS!
Celestiais coros cantaram
Hosana! Alelúia! Lôa!
Ao lhe ser dado o troféu...
Anjos e virgens cantaram
ao lhe ser posta a coroa,
NO CÉU!
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NOSSA SENHORA DA PRIMAVERA
Nossa Senhora de setembro,
só por ti é que as
rosas nascem.
Natividade, és a primavera
que desabrocha em cada ramo
e floresce nas almas.
É preciso ser cristão e
ser poeta
para sentir a beleza completa
da rosa Nossa Senhora
de Nossa Senhora rosa;
Sempre, quando setembro,
tenho teu nome assim invocado:
- Nossa Senhora da Primavera -
A rosa mais bela das rosas que
amo,
dentre todas que nascem...
que desabrocha em cada setembro,
que floresce em cada primavera.
Das flores a mais viçosa
dentre todas que nascem:
rosa Nossa Senhora,
Nossa Senhora da Primavera!
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UM POEMA
Se eu te fizesse um poema de
versos livres
como asas ao
vento;
moderno, sensual, terno e eterno,
escrito em tinta indelével no
caderno dos versos mais íntimos,
que guardo comigo mesmo para ninguém
ver,
serias tu mesma esse poema.
Porque tu és a inspiradora de
meus cantares
e rimo para mim mesmo teu nome:
- ELINA
com expressões arroubadas de amor:
carinho e sonho, ideal, saudade, vida...
Se eu te fizxesse um poema de versos livres
como folhas
ao vento;
diria que nossa vida em comum tem
sido
para mim razão de ser, essência
do divino, milagre
de sentimento, encanto e doçura,
a felicidade mais pura
que eu poderia desejar em toda
a existência.
Se eu te fizesse um poema de
versos livres
como pétalas
ao vento;
diria que desde o primeiro olhar,
todos os teus gestos, palavras, abraços
e beijos, carinhos sublimes de ternura,
foram minha cornucópia de felicidade...
Se eu te fizesse um poema de
versos livres
como
ideais ao vento;
contaria que aquela caixinha de que
um dia te falei
- caixinha cinzenta, delicada, frágil,
em forma de coração,
que se romperia ao só calor
de teu primeiro beijo -
dilatou-se á força de
teu milagroso toque
e tornou-se maior que o mundo e
que o infinito...
Se eu te fizesse um poema de
versos livres
como o só
mesmo vento,
seria ele um poema universal,
minha querida, se eu te
fizesse um poema de versos livres...
se eu te fizesse um
poema...
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