Lolita Ramirez
Av. Infante D. Henrique, n° 8
8900 Monte Gordo Algarve
P o r t u g a l
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A TI, MÃE
Húmus e terra! Campo fecundado!
Mito e signo de onírico Morfeu!
Rosa de carne, sangue acrisolado,
Semente em Ti ... princípio de ser Eu!
Milagre-Amor, desejo consumado
Que em Medusa vibrátil me envolveu;
Ínfimo grão, de espírito dotado,
Fruto maduro em terno geniceu!
O tempo cavou sulcos de mansinho,
Fez do cetim macio um pergaminho
E as mãos cansou de intérmitos desvelos.
Hoje são já doridos os teus passos ...
Os olhos são reflexos de cansaços
E Gémeos do luar são teus cabelos.
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ALÉM MAR
(Aos que tombaram, A todos)
Eu choro a tua morte, meu irmão,
No leito de capim loiro e maduro
Como trigo ceifado sem dar pão
Trilhado por engenho prematuro.
Choro a tua fome a solidão
Vestindo de saudade o beijo puro ...
E choro a tua sede de ilusão
Olhando o charco estéril do futuro.
Moçambique! Guiné! Timor! Angola!
A vítima submissa que se imola
Em cada rubro ocaso enfeitiçado ...
Dorme, menino, o sono dos vencidos
Olhos vazios, os lábios ressequidos ...
O peito aberto ... o sonho destroçado!
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SONHO LUSÍADA
(À Milú Aragão Teixeira)
Não vou jamais trilhar esse caminho!
Não quero esse querer e essa verdade!
Há máscaras, disfarces que advinho
Pra lá de vãs razões e veleidade.
Eu não vou por aí. Prefiro o espinho,
A rota tenebrosa, a tempestade,
O vento que fustiga em remoinho
Mas desperta e apraz minha vontade.
Eu navego nas asas da loucura
Sou astrolábio em escuna de aventura
Sobre o salgado mar que em mim se enleia ...
Cruzo distâncias pra beijar tristezas
E ser padrão em Terras Portuguesas
E ser de Portugal outra Epopeia.
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FAINA
(Aos Pescadores da minha Terra)
Cai a tarde! Traineiras barra fora
Contemplo da janela, de entre as flores
À beira-rio. Lá vão de novo embora
As proas contra vagas e temores!
Que Deus vos guarde! A faina não demora!
Faina de pesca, o pão dos pescadores ...
No rio se espelha o céu e a gente implora:
Os traga em bem a Virgem-Mãe das Dores!
Que o mar, líquido berço esmeraldino,
Benigno seja e poupe ao seu destino
Do naufrágio a tragédia desumana.
Traineiras a partir! Hora tão bela! ...
Lá vai a Brisa, a Pérola, a Carmela,
A Cajú mais a Flor do Guadiana.
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REGRESSO
Meu amor, vem comigo, de mãos dadas,
Por veredas de outrora e, de mansinho,
Revivamos as ternas madrugadas
Entre trigais e urze e rosmaninho ...
Repara que as papoilas encarnadas
Que o vento move, em louco remoinho,
São beijos e carícias fecundadas
Por nosso amor ao longo do caminho!
Tal como o tempo, o rio perpassa e corre
E corre o nosso amor que nunca morre
Porque amar é estar sempre à tua espera.
Esvai-se o dia? Vem outro alvorecer.
Vai-se o inverno e torna a renascer
A flor que eu sou na tua Primavera.
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CANOA
Para lá do abismo o medo, o nada,
Limite de projectos concebidos ...
Esboço, penumbra, sombra descarnada
Arrastando a tragédia dos vencidos!
Estou só como canoa abandonada
No infindo areal dos meus sentidos,
E a vaga é liquefeita gargalhada
Plasmando mil fantasmas ressurgidos.
Canoa sou nas vagas de teus beijos,
A tempestade enfrento dos desejos
Nas noites de Calema e de Mistral ...
E as mãos quais duas âncoras afundo
No abismo translúcido e profundo
De teu corpo de nácar e coral.
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AMOR SAUDADE
(À Belucha e à Guida)
Amor, se é verdadeiro, já não sai
Da alma, tem eterna duração,
O fogo, quando ateia, não se esvai,
Fica latente em místico clarão.
Amor corre nas veias, gira e vai
No âmago florir do coração;
A compasso, se expande e se contrai
Soprando vida em cada pulsação.
Amor é ave bela em liberdade,
Esvoaça entre a amargura e a saudade,
Sentimento que tanto fere e dói ...
E é neste amor sofrido que acredito ...
Que rasga latitudes de infinito
Dentro da própria alma que o constrói.
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Remetente [e homenagem de]:
Irma Cêa Fernandes irma@netgate.com.br>
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