Rodrigo
Alves
Boas idéias e tecnologia permitem
que poetas publiquem seus livros
in Idéias, JB
17.07.1999
Todo mundo sabe que o mercado
editorial muitas vezes fecha as portas para novos autores, principalmente
quando se trata de poesia. Mas isso não significa que os jovens
talentos devem cruzar os braços e passar o resto de seus dias reclamando
da vida. Com um computador na mão e muitas idéias na cabeça,
os novos autores colocam a mão na massa - e no próprio bolso
- para que seus livros cheguem ao mercado. E recuperam o investimento.
O poeta carioca Ranieri Mazzilli
Neto bem que tentou uma edição tradicional de sua poesia.
Bateu na porta de grandes editoras, mas só obteve respostas negativas.
Resolveu então agir por conta própria e bancou a edição
de Tanderepá, seu segundo livro. "Foi bem diferente da publicação
do meu livro anterior, Adrenalina, de 1987. A tecnologia mudou bastante",
explica. "Gastei R$ 3 mil numa tiragem de 500 exemplares, que eu considero
boa para poesia".
Ranieri usou o método
tradicional para quem publica livros por conta própria: conseguiu
um amigo para cuidar do projeto gráfico, uma empresa para fazer
o fotolito e uma gráfica para cuidar da impressão. A paranaense
Silmara de Oliveira Fernandes foi pelo mesmo caminho: contando com a ajuda
da Universidade Estadual de Londrina, ela lançou Quadradinhos de
sabão no ano passado. O livro - com tiragem de mil exemplares, bem
acima da média - traz poesias hai-kai em folhas soltas dentro de
um estojo de madeira, numa produção que deu trabalho e custou
caro.
"As caixinhas foram feitas
uma a uma e custaram R$ 2 mil. Meus amigos foram meus patrocinadores",
diz Silmara, que em momento algum se arrependeu da produção
ousada. "Aumentou o custo, mas fazia parte do projeto desde o início".
André Luiz Pinto,
autor de Flor à margem, conseguiu uma tiragem de 300 livros por
apenas R$ 800. Para isso, abandonou o fotolito e partiu para um sistema
de impressão por xerox. "O maior problema é o custo", diz
André. "O fotolito é muito caro, a gráfica também.
Mas quando você acha que o trabalho tem valor, é preciso passar
por cima das dificuldades".
Existem ainda outras maneiras
de escapar do preço salgado do fotolito sem deixar a qualidade cair.
Quem dá a dica é Jacinto Fábio Corrêa, um veterano
em livros independentes, com seis títulos publicados. "Em vez do
fotolito, o miolo pode ser feito em poliester ou papel vegetal. Uma caixa
com 100 folhas de poliester custa R$ 70, e dificilmente é preciso
mais que isso para o livro. Essa é a saída", aconselha. Jacinto
gastou quase R$ 2 mil em seu último livro, O diário do trapezista
cego, optando por um cuidadoso trabalho artesanal, com tira de madeira
na capa e detalhes em alto relevo.
Engana-se quem pensa que
o problema acaba quando o livro sai da gráfica. Continua a batalha
por uma boa divulgação. O acordo com as livrarias geralmente
é feito pelo sistema de consignação, com 60% do preço
de capa para o autor e 40% para o livreiro.
Apesar das dificuldades,
quem já está no ramo garante que o dinheiro empregado quase
sempre volta. Alexandre Montaury, que lançou o livro de poemas Feito
confim de relâmpagos e sempres, teve um retorno rápido. "Em
três meses já tinha recuperado o dinheiro para cobrir os gastos",
diz ele.
Os livros independentes marcam
presença em livrarias como Argumento, Timbre, Dazibao e Travessa.
Para Cristiana Machado, dona da Timbre, a parceria é tão
importante para os autores como para a livraria. "Temos uma enorme estante
de poesia, então todos os autores novos são bem vindos",
diz ela.
Laura Gasparian, da Argumento,
concorda e vai além. "O mercado se fecha muito para a poesia, por
isso os autores buscam essa alternativa". E ao contrário do que
muitos pensam, os livros não ficam encalhados nas prateleiras. "De
maneira geral, os autores independentes até vendem bem. Estão
sempre sendo repostos", garante.
Página incial de Rodrigo Alves
Página inicial do Jornal de Poesia
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