Rodrigo
Alves
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Outra matéria: Entrevistado: José Castello
Outra matéria: Boas idéias e tecnologia
permitem
que poetas publiquem seus livros
Procurados
Pare de procurar pelos novos poetas.
Eles já estão aí e não querem saber
de movimentos únicos ou rótulos
RODRIGO ALVES
in Jornal do Brasil,
Idéias, 19.06.1999
Está encerrada
a temporada de caça. Uma nova geração de poetas se
espalha, livre de qualquer ditadura estilística e - no melhor sentido
da expressão - atirando para todos os lados: teatro, vídeo,
CD, artes plásticas e, quem diria, até mesmo o bom e velho
livro. Mesmo que em meios diferentes, há gente nova produzindo.
Quantidade? Muita. Qualidade? Só o tempo vai dizer.
"Tenho visto um número
muito grande de poetas, mas é difícil dizer quem fica e quem
não fica. Ainda estamos tateando", analisa o poeta paulista Heitor
Ferraz, 34 anos, um dos mais conceituados entre os novos. A carioca Bianca
Ramoneda, 27 anos, concorda e prefere manter a cautela. "Está chovendo
poetas, mas não sei se são poetas bons. Eu sinto é
que tem muita gente fazendo poesia e existe uma efervescência, mas
ainda vejo muita insegurança", diz ela.
A relação
entre quantidade e qualidade ainda não agrada a todos, mas gregos
e troianos concordam que a poesia está novamente em pauta. "Acho
que há pelo menos umas três gerações acumuladas
no Brasil, em consonância com várias linguagens", diz o paulista
Augusto Massi, 40 anos, que foge das reclamações e choradeiras.
"Existe um trauma da falta de espaço para poetas, do qual eu não
compartilho. Há um mercado editorial mais organizado, várias
revistas, eventos. Acho que é um ótimo momento, fruto de
um trabalho de pelo menos 15 anos para cá".
Outro paulista, Rui
Proença, de 42 anos, vai mais além. "Temos hoje cerca de
duas centenas de poetas entre 30 e 50 anos com uma qualidade média
alta. É um momento muito particular". O carioca Jacinto Fabio Corrêa
acha que o importante é produzir. "Nunca vi aparecer tanto poeta.
A qualidade é muito discutível, mas é um fenômeno
a coragem dessas pessoas", diz ele, resumindo o que parece ser o pensamento
comum.
O fato é que
há diferenças entre a produção de hoje e a
dos anos 60 e 70. E são os veteranos que apontam as razões.
"Talvez pela leitura em maior quantidade, os poetas hoje já nascem
prontos. A poesia deixou de ser maldita para ser bendita", diz o poeta
Claufe Rodrigues. Mano Melo acha que a grande diferença está
na bagagem cultural. "O mais essencial vai ultrapassando gerações
e levando a poesia adiante. Todo esse movimento fica como uma semente para
as novas gerações", diz ele.
Já Armando Freitas
Filho acha que a liberdade é a principal característica dos
jovens poetas. "Eles não levam muito em conta a pressão de
escolas e movimentos literários, como acontecia no meu tempo. Sofríamos
um patrulhamento e sempre escrevíamos contra. O pessoal de hoje
escreve a favor, principalmente deles próprios".
Além do ecletismo
de estilos, hoje há também o ecletismo estético, no
qual os poetas usam e abusam de recursos tecnológicos e de outras
artes na elaboração de suas mensagens. Apesar da insistência
de alguns em manter a poesia em sua forma original, nas páginas
do livro, é inegável que a tendência multimídia
toma conta do meio hoje.
João Bandeira, 36
anos, declara-se um "devedor ao pessoal da poesia concreta" e condiciona
seu trabalho à busca por novas maneiras de escrever poesia. "O mercado
vem sempre depois, acho que é mais a interpenetração
da linguagem e dos domínios artísticos", explica. "Dos anos
60 para cá, a tecnologia foi se democratizando. O importante é
ter uma prática para não ficar uma coisa gratuita", ressalta.
Bianca Ramoneda, que
também trabalha com teatro, acha que a multimídia é
uma forma de atrair o público. "É uma opção
de mercado sim. Se você não consegue cativar o público
leitor, pode trabalhar por outros canais", diz ela.
Uma outra corrente
defende a poesia pura e simples, sem influência das outras artes.
É o caso dos cariocas Alexandra Maia, 26 anos, e Pedro Amaral, 24.
Para ela, a poesia perde força quando está misturada. "Nos
recitais que estamos realizando, só queremos poesia falada, sem
performance", afirma. Pedro vai mais longe. "Nem me sinto à vontade
nos recitais. Acho que é perigoso criar a expectativa de que a poesia
é algo performático", diz ele.
Com a produção
crescendo, como fazer para que o mercado absorva esse contingente? Jorge
Viveiros de Castro, editor da Sette Letras, respira poesia e ainda tenta
entender o momento que o produção nacional atravessa. Ele
vibra com o avanço tecnológico. "Agora consigo fazer tiragens
pequenas e vou colocando os livros no mercado. Com a facilidade da tecnologia
podemos fazer um livro com o espírito do mimeógrafo dos anos
70", diz Jorge.
É impossível
falar em vantagens tecnológicas sem ao menos citar a rede mundial
de computadores. E quem dá a dica é um outro veterano, o
poeta Antônio Cícero. "Acho a Internet hoje muito mais importante
para a divulgação de poesia do que os recitais e saraus",
avalia. Opções na rede não faltam, o difícil
é separar o joio do trigo. O maior site de busca brasileiro, o Cadê,
registra 527 sites sobre poesia nacional.
Alguns se destacam,
como o Jornal da Poesia (http://www.secrel.com.br/jpoesia),
editado por Soares Feitosa, que catalogou 2 mil poetas num interessante
espaço de divulgação. Já Elson Fróes
fez a Pop Box (http://users.sti.com.br/efres/home.htm), outro
espaço cultuado pelos poetas. Vale destacar também a revista
Palavra P (http://www.palavra.com.br), editada por Pedro
Abramovay e Matias Mariani.
O atalho por outros
caminhos ajuda a nova geração a escapar do estereótipo
do "poeta que morre de fome" e continuar pagando as contas estando ligados
às letras, em sites, revistas especializadas, exposições
e performances. Mesmo assim, continua valendo a máxima de que é
impossível viver só de poesia. "Se nem Ferreira Gullar vive
de poesia, quem vive então?", pergunta Alexandra Maia. Claufe Rodrigues
concorda: "Tem gente que vai vivendo de uma maneira ou de outra, fazendo
uma coisa aqui e outra ali. Mas só de poesia não dá.
Nem Drummond conseguiu", define.
Recitais de poesia estão
ressurgindo
Depois de um longo tempo na
geladeira, a poesia voltou a ser um bom programa, principalmente no Rio
de Janeiro. Este ano, recitais e saraus ressurgiram com força total.
"Tem gente que vai aos recitais pra namorar e acaba levando uma poesia
para casa. O importante é que as pessoas estão comparecendo",
diz Heloísa Buarque de Hollanda, organizadora da antologia Esses
poetas (Editora Aeroplano).
Claufe Rodrigues se
juntou a Alexandra Maia, Mano Melo e Pedro Bial na série de recitais
Ver o verso, que acontece a cada 15 dias no Copérnico, no
Planetário da Gávea. A estréia foi na última
quarta-feira, com sucesso absoluto de público. "Estamos chamando
atores para declamar textos mas não queremos performances", diz
Alexandra, rapidamente apoiada por Claufe: "Gosto de promover a poesia
escrita".
O poeta Paco Cac está
à frente das Sextas Poéticas do Museu da República,
evento que acontece uma vez por mês. "Minha proposta é aproximar
tendências, não estou aqui para filtrar nada", diz ele. O
próximo encontro é no dia 9 de julho, às 20h, na sala
de multimídia do Museu. Na Casa de Cultura Margarida Rey acontece
o Panorama da Palavra, abrindo espaço para novos poetas mostrarem
seus trabalhos. Os encontros acontecem toda segunda-feira, às 20h30.
Outra chance de divulgação
será o Prêmio Sesc de Poesia. Quem estiver interessado
em participar, pode ligar para o telefone 539-1202. Até a televisão
já se rende ao encanto dos poetas. Foi o caso da TV Cultura, que
levou ao ar no último dia 9 o programa Versos diversos, analisando
a nova produção brasileira. O produtor Ivan Marques diz que
finalmente está havendo o casamento entre TV e poesia. "A repercussão
foi ótima, tivemos um excelente retorno. Não queríamos
indicar nomes, e sim mostrar trabalhos diferentes", diz ele.
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do JP
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