SOLANO TRINDADE
[in jornal A Tarde, 27.02.1999]
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Solano Trindade nasceu em Recife (PE), em
24 de julho de 1908, e morreu no Rio de Janeiro em 1974. Fez
o curso propedêutico da Academia de Comércio de Recife, foi
operário e funcionário público federal, no início
de sua carreira (Serviço Nacional de Recrutamento). Publicou Poemas
de uma vida simples, 1944, Seis tempos de poesia, 1958, e Cantares de um
povo, 1963, entre outros. Os poemas aqui publicados foram extraídos
de Antologia da Nova Poesia Brasileira (RJ, 1948), organizada pelo poeta
(também já falecido) J.G. de Araújo Jorge, para a
Editora Vecchi Ltda.
Três poemas de Solano Trindade
Balada do Amor
É preciso fugir
De todo o amor que faz sofrer
É preciso fugir do amor...
Talvez a chuva lá fora faça bem
Talvez o frio da noite
Seja como alguém...
Negra bonita
Negra bonita de vestido azul e branco
Sentada num banco de segunda de trem
Negra bonita o que é que você tem?
Com a cara tão triste não sorri pra ninguém?
Negra bonita
É seu amor que não veio
Quem sabe se ainda vem
Quem sabe perdeu o trem
Negra bonita não fique triste não
Se seu amor não vier
Quem sabe se outro vem
Quando se perde um amor
Logo se encontra cem
Você uma negra bonita
Logo encontra outro bem.
Quem sabe se eu sirvo
Para ser o seu amor
Salvo se você não gosta
De gente da sua cor
Mas se gosta eu sou o tal
Que não perde pra ninguém
Sou o tipo ideal
Pra quem ficou sem o bem...
Reflexão
Vieste acender o meu fogo poético,
E minh’alma se abriu pras grandes festas,
A música dos teus poemas,
Faz-me dançar o bailado,
Da primeira mocidade...
Eu sinto vontade de não ser sexo,
Para brincar contigo como criança,
E brincar de cirandinha com tu’alma.
Mas como sou sexo,
Vou assistir um espetáculo humano;
A confecção de bandeiras iguais,
Para seres que parecem diferentes.
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