Livro de Orlando Tejo ganha 11ª edição pela
Calibán, organizada pelo poeta Majela Colares
Janeiro de 1969.
Quando Orlando Tejo chegou à sua casa, a pé,
dona Nevinha
estranhou: “Cadê o jipe, meu filho?”. O
jornalista trazia debaixo do braço uma máquina
de escrever portátil, uma Elgin de cor azul
clara. “Troquei nessa máquina aqui”, informou.
“Meu filho, o seu carro levava você a tanto
lugar”, a mãe se impacientou. Tejo então
profetizou: “Com o que eu vou escrever aqui mãe,
eu vou viajar mais longe”.
E viajou. Naquela
máquina, Tejo escreveria um livro que criaria
polêmicas, venderia milhares de exemplares e
imortalizaria um poeta que tinha tudo para ficar
restrito às brincadeiras dos cantadores, vindo a
inspirar, posteriormente, músicos como Belchior,
Zé Ramalho e Siba Veloso. Além disso, a obra Zé
Limeira foi adotada na Universidade de Sorbonne,
na França, por iniciativa do professor Raymond
Cantel.
A mais recente
edição de Zé Limeira, o poeta do absurdo, a 11ª,
já está nas livrarias. Para quem indaga sobre a
existência ou não do poeta negro, alto, de voz
de aço e de lenço encarnado no pescoço, Tejo dá
de ombros e num sorriso despista o interlocutor,
evocando o discurso forense do tempo da
Faculdade de Direito do Recife, onde se formou
advogado, profissão que nunca exerceu: “Em caso
de dúvida, pró réu. Quem diz que Zé Limeira não
existe, vai ter que provar a inexistência dele”,
safa-se, meio sério, meio brincando.
Tejo não foi o
único nem o primeiro a registrar a existência de
Zé Limeira. Antes da primeira edição de Zé
Limeira, o poeta do absurdo, publicada em 1971,
o menestrel Vital Farias publicara o cordel Zé
Limeira, o surrealista dos pobres. O repentista
José Alves Sobrinho, que aparece em várias
passagens do livro de Tejo cantando com Zé
Limeira, registra a vida e obra do Poeta do
Absurdo num verbete em seu livro Dicionário
biobibliográfico de repentistas e poetas de
bancada, escrito em parceria com o pesquisador
Átila Almeida.
De acordo com
Sobrinho e Almeida, Zé Limeira é o pseudônimo de
José Galdino da Silva, nascido em Campina
Grande, em 1899 (a versão de Tejo diz que ele
nasceu em 1886) e falecido em Teixeira, em 1955.
No verbete se diz que “mais de 90% dos versos
que lhe são atribuídos foram fabricados em
Campina Grande e João Pessoa, a pedido e por
encomenda”. O verbete se contradiz. Em princípio
afirma: “Vez por outra Zé Limeira saía da
realidade, o que não quer dizer que fosse o
desmiolado, e cômico dizedor de disparates”. Em
seguida, diz que “Limeira (...) era capaz de
confundir Belém da Judéia com Belém de Caiçara”.
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