Abilio Terra Junior
Bronto
Bronto olhava em
torno de si e pensava no que havia feito. Não fora sutil, pelo
contrário, destruíra muitas peças de vidro enquanto bailava com a
Framboesa. Mas, pensando bem, aceitara muitas normas sem questionar
; também nunca lhe deram um espaço propício a qualquer
questionamento. De vez em quando, era bom quebrar algumas regras.
Introspectivo, sondava suas entranhas milenares em busca de
respostas.
As moças
gritavam na rua, na algazarra com que provocavam os rapazes. Esses,
para não perderem o brio, também gritavam, mas sem a mesma ênfase.
Como homens, possuíam um censor mais atuante. Nunca conseguiriam
sequer se aproximar da exuberância feminina, com aquela
espontaneidade com regras ocultas, de que só as mulheres são
capazes.
Framboesa também
estava cansada. Suas pernas, pequenas mas bem torneadas, até
tremiam, após tanto tempo dançando. Seus olhares se dirigiam, lentos
e cálidos, ao Bronto, como carinhosamente o chamava, em suas ternas
trocas de mensagens de amor. Sabia ser impossível a consecução
daquele amor, mas ainda assim, seu coração batia descompassado, cada
vez que o via.
Em seu ócio criativo, Bronto imaginava mil caminhos em que criaria
situações incomparáveis para si e para a comunidade, tanto dos
brontossauros quanto das framboesas. Sua imaginação, tão fértil, e
sua realização, tão incipiente. Era aquela velha equação, típica da
sua espécie.
Os brontossauros
eram conhecidos como estritos cumpridores dos seus deveres. Contudo,
possuíam uma tendência inata para se anular diante de espécies bem
menos sensatas que a deles, como, por exemplo, a das framboesas. Um
dia, Bronto bem o sabia, a sua espécie desapareceria, mas a das
framboesas perduraria, apesar da sua inconstância e
superficialidade.
Ele era
inteligente e culto. Além disso, possuía uma incrível capacidade
premonitória. Enxergava pelos milênios afora todas as grandes
catástrofes que estavam por vir, a princípio, naturais, mas depois
provocadas por outras espécies menores, desatinadas em sua vaidade e
egoísmo.
Tristonho ficava
então ao compreender, pela sua sensível intuição nascida das suas
notáveis glândulas, que tudo o que havia naquele diverso mundo iria
sucumbir ao longo do tempo. E de como ele, Bronto, nunca seria
entendido, em tempo algum, a despeito de toda a sua incansável
acuidade.
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