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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

<acmm@secrel.com.br> 

Poesia:

 

Antônio Carlos de Martins Mello, Fortaleza, 2002

Só a DIDÁTICA em prol do Homem legitima o conhecimento

A outra face do editor Soares Feitosa, o tributarista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

— Quem é? — sou eu, a sessentã velhice.

— Que queres? — Nada, simplesmente olhar-te.

— Que a vida é? — A vida apenas parte.

— Que dirá mais? — Mais nada, ela já disse.

 

— E essa mortalha? — É pra que te vestisse.

— Já me vesti! — Então, vim pra mudar-te.

— Onde é que estou? — Sei lá, nalguma parte.

— Devo chorar? — Melhor se alguém sorrisse.

 

— Deixa fugir! — És preso, não consegues.

— Quem vem depois? — Escuridão sombria.

— O que virá? — Melhor olhar pra trás.

 

— E chego lá? — Melhor que tu não chegues.

— E viverei? — Já foi tua alegria.

— Terei meu bem? — jamais, jamais, jamais.

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

Soneto II

 

 

Vejo-te assim, na confiança entregue

aos puros sonhos, de que sou seguro

há tantos anos, neste quarto escuro,

enquanto a vida seu caminho segue.

 

 

Juro que sonhas nas crianças — juro!

com mil temores, que o cuidado ergue

sem que ao teu lado teu descuido enxergue

que, de tão velho, muito pouco duro.

 

 

Vêm-me os sessenta. Que será depois?

Como estarás sem que sejamos dois?  

Como andarás sem minha mão, sozinha?

 

 

Vive tua vida, que estarei distante,

prá nunca ver-te com nenhum amante

pois não há céu se já não fores minha.

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

Soneto II

 

Seja o que for, se dói não me arremino. 

Se não, esqueço e troco de assunto.

É morte? — E, pena, pois já vivi muito,

pior seria se fosse um menino.

 

É câncer? É pena perdê-lo no indigno.

É a AIDS?  Fico sem ninguém mais junto.

Que mais será? — pois eu é que pergunto.

É a sorte? — É simplesmente o meu destino.

 

É a noite? — Não! É muito, muito cedo.

É hoje? — Não: é muito, muito tarde!

É sempre? — Não: nunca, jamais existo.

 

É o quê? — É algo simplesmente tredo.

Que é tredo? — E eu sei?  E mais que ser inda há de?

Taí: É isto, simplesmente isto!

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

Três pétalas

 

 

Três pétalas plantei como a herança

que deixarei pra ti, posteridade,

na quadra em que percebo que a idade

encurta os horizontes e me cansa.

 

Foram-se as ilusões da mocidade

e a incerteza feliz da rica infância,

mas, restando o universo de esperança

para os três, que  maior felicidade!

 

Moniquinha – esta doce tagarela!

Pequechucha - de áureas madeiras!

Meu Antônio – protótipo da calma!

 

Olhem pela mamãe, dando pra ela

tudo quanto não dei com minhas queixas,

com a tristeza e amargor desta minh’alma.

 

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

A DUAS MÃOS I

     em parceria com Luciano Maia

 

 

O sono me assedia, as pálpebras se fecham

e a luz de outra data à mente se insinua

a fim de que teus dotes junto a mim se mexam,

aos requebros ciganos qual de mulher nua.

 

Jogar-te eu bem quisera em plena e fria rua

as lágrimas do céu nem querem nem te deixam

e além do mais por ver-te tão assim se vexam

no transitório absconso da verdade crua.

 

Coitado, então, de mim, sem saber qual destino

darei a quem me ligo com doidice imensa

como a jungir o diabo co’ algum ser divino.

 

E a noite agora fúlgida a brilhar compensa

fazimentos da alma, encanto e muito tino,

ganhando a lucidez, vencendo a malquerença.

 

 

[Escrito na última página de um exemplar do livro do Desembargador FERNANDO XIMENES Controle de Constitucionalidade das Leis Municipais – Atlas/SP 2002 – Ideal Clube, Fortaleza, CE, na noite do lançamento, 14.03.2002] Traz  ainda o imprimatur do Alexandre

Figueiredo, que assinou]

 


 

A DUAS MÃOS COM LUCIANO MAIA  II

 

 

Vai-se a última bomba requestada,

vai-se outra mais, são das americanas,

muitas outras iguais e bem bacanas,

fingindo-se sozinhas para nada.

 

Ribombando com a fúria de quem brada

de canhões de depois das Taprobanas,

agora mesmo vejo a disparada

da campanha mais vil entre as profanas.

 

Perdi-me entre os enredos do poema,

confundindo na súplica pequena

de uma verve imbecil que inda me move.

 

E buscando o mais alto da existência,

sinto esvair-se a minha experiência

na recorrente prova de outros nove.

 

 

[Escrito na contracapa de um exemplar do livro do Desembargador Fernando Ximenes, Controle de Constitucionalidade das Leis Municipais – Atlas/SP 2002, lançado no Ideal Clube, na noite de 14.03.02. Ainda com o imprimatur do Alexandre Figueiredo, que assinou]

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

 NOITES DE JUIZ

 

              11.05.99

 

Sentenças que escorreis destes meus dedos

E vindes de meu cérebro cansado,

Tirais vossas virtudes de meus medos

Dos quais nos vemos tão mal compensados,

 

Depois, sobre meus tardes e meus cedos

Fazeis cair meus sonos aos bocados

E doces ilusões em dias azedos

Pagais-me com tão míseros trocados!

 

Ide aos píncaros torpes das termópilas!

Lançai-vos sobre as lanças que ensombreiam

Os temores das guerras intramuros!

 

Vão-se!...Fujam! Horrípilas anárquicas!

Aos infernos, sentenças que permeiam

De tristeza meus males tão obscuros!

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ANTÔNIO CARLOS DE MARTINS MELLO

Vagas ondas, murmúrio que se acaba

 

Vagas ondas, murmúrio que se acaba

'sim que pára a chuvinha de dezembro,
mas das cheias da ponte inda me lembro,
lá embaixo roncando o Ipuçaba
 
Serra abaixo era a Bica que roncava,
como fosse pendente um grosso membro,
balangando no cós de um mamulengo,
barro puro, medonho, aquela raiva!
 
Águas pátrias que vejo como assombros,
mesmo que todo o mundo não as veja,
porque um rio assim somente eu tive!
 
Não o tenho mais, que a vida em seus escombros
já faz com que eu mesmo já nem seja,
nem cuide que o Ipuçava ainda vive.

 

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