Ana
Paula Tavares 
 
  
MUKAI*
 
2 
 O ventre semeado 
 deságua cada ano 
 os frutos tenros 
 das mãos 
 (é feitiço) 
 nasce 
 a manteiga 
 a casa 
 o penteado 
 o gesto 
 acorda a alma 
 a voz 
 olha pra dentro do silêncio
milenar. 
  
4 
 O risco na pele  
 acende a noite  
 enquanto a lua 
 (por ironia 
 ilumina o esgoto  
 anuncia o canto dos gatos)  
 De quantos partos se
vive  
 para quantos partos se
morre 
um rito espera-se faca 
 na garganta da noite 
 recortada sobre o tempo  
 pintada de cicatrizes  
 olhos secos de lágrimas  
 Domingo, organiza a cerveja 
 de sobreviver os dias. 
 . 
* Mukai:
- mulher 
 |