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Anderson de Araújo Horta





Entrevista a Danilo Gomes




 

Anderson de Araújo Horta nasceu em Tombos, Minas Gerais (Zona da Mata), em 1906. Formou-se em Direito pela Universidade do Brasil, Rio de Janeiro. Sempre advogou. Lecionou inglês, geografia e história. Em 1934 casou-se com a poeta e professora Maria Braga Horta. Em 1947 editou o Anuário do Rio Doce. Tem um romance inédito e grande número de poesias, algumas das quais publicadas em jornais e revistas. Em Carangola, MG, compôs seus primeiros versos e editou o jornal literário Átomo. Um dos fundadores do Centro Carangolense de Letras. O escritor Vivaldi Moreira, atual Presidente da Academia Mineira de Letras, publicou um estudo sobre sua poesia, na revista Pan, de São Paulo. Seu poema "Rio Subterrâneo" foi publicado na coluna literária que o poeta Édison Moreira mantinha no Estado de Minas.

Em 1962, obteve, em parceria com seu filho Anderson Braga Horta, a "Medaglia dell'Amicizia Italo-Brasiliana", no concurso internacional de poesia "Grande Coppa Città di Brasília", instituído em Roma (o poema se intitulava "Mamãe Coragem").

Anderson de Araújo Horta recebeu, em 1969, menção honrosa no 2.° Torneio Nacional da Poesia Falada, de Niterói, com o poema "Rio Subterrâneo". Em 1971 participou da Antologia dos Poetas de Brasília, de Joanyr de Oliveira. Figura com o soneto "Acróstico", dedicado a Goiânia (de que foi o primeiro Promotor Público), nas Memórias de Pedro Ludovico (algum revisor, certamente novo, substituiu-lhe o nome, ali, pelo de seu filho Anderson).

Figura no 2.° volume de Poetas do Brasil, de Aparício Fernandes, com a coletânea "Poemas Subterrâneos".

DG — Onde publicou seus poemas?

AAH — Tenho muito pouca coisa publicada. Lembro-me, apenas, do seguinte: Revista do Ginásio Municipal Carangolense, Jornal do Instituto Propedêutico Carangolense, Correio Carangolense, Revista Fon-Fon, Correio da Manhã, O Jornal, Estado de Minas (coluna do poeta, jornalista, editor e acadêmico Édison Moreira), Revista Pan, Jornal Literário Átomo, Jornal de Brasília, Jornal de Domingo, Antologia dos Poetas de Brasília, Antologia Poetas do Brasil, e, finalmente, Memórias, de autoria do fundador de Goiânia, Dr. Pedro Ludovico Teixeira.

DG — Tem escrito novos poemas? Quais os temas, de modo geral?

AAH — Sim, tenho escrito novos poemas, cujas interrupções, aliás, lembram, ou até demonstram a minha pouca ou nenhuma vocação para o artesanato. Isso talvez responda ao resto da pergunta; pois se o engajamento a temas tem, porventura, conotações de regularidade e segurança, a minha poesia é inteiramente desprotegida.

DG — Como era o jornal literário Átomo e qual a função do Centro Carangolense de Letras?

AAH — O jornal literário Átomo simplesmente se propunha a despertar a vocação artística e literária de Carangola para uma espécie de movimento renovador. Muitas causas já se haviam identificado no síndroma cultural dessa grande cidade. A marcante, sem desdouro de outras, é relembrada por Vivaldi Moreira, em seu utilíssimo Minas em Foco, n.° 62, de julho de 1958: – o advento, jamais esquecido e jamais superado, de Jonas Faria de Castro. Inesquecíveis, também, a chegada e o trabalho do emérito professor Luiz Augusto Pereira Victória. Outra não poderia ser, portanto, a função do Centro Carangolense de Letras.

DG — Pretende publicar seus livros de poemas? Já têm títulos?

AAH — Se dissesse que não, mentiria; se dissesse que sim... Ora, nem ao menos penso em título!

DG — Como se sentiu recebendo a "Medaglia dell'Amicizia Italo-Brasiliana", em parceria com Anderson Braga Horta, o filho poeta que todos admiramos?

AAH — O fato de estar ao lado do meu filho já é, por todos os títulos, uma láurea. "Mamãe Coragem", o meu poema premiado no referido concurso, foi depois musicado pelo caçula, Goiano Braga Horta.

DG — Para o senhor, o que é poesia? Quais seus poetas "de cabeceira"?

AAH — Entendo que a poesia (toda poesia) é um convite. Sim, um convite para a festa das idéias. Pode ser, alegoricamente, um banquete, simples almoço, ou um psicodélico "pagode" mineiro; mas sempre uma festa de idéias. E o poeta, já se vê, é um festeiro, um catalisador em perspectiva. Passa a vida soltando os seus ricos balões coloridos, sem destino, sem preferência, sem discriminação. Nem sabe, nem teme, nem espera coisa alguma, exceto que está exercendo o ofício mais democrático do mundo. Por isso é que ele, o poeta, pertence à estirpe dos "homens de boa vontade"! Eu não tenho "poetas de cabeceira", ou melhor, meu poeta de cabeceira é minha mulher, uai!

DG — O que disse o crítico e ensaísta Vivaldi Moreira, na revista Pan, sobre sua poesia?

AAH — Vivaldi Moreira é muito mais do que um polígrafo. Tenho em mãos o seu discurso de recepção na sessão solene de dois de março de 1972, em que se empossava na Cadeira 21, da Academia Mineira de Letras, o acadêmico Hilton Rocha. Lá está ele, colocando na fronte do seu ilustre colega os louros da lição de Kierkegaard. Vivaldi Moreira sempre foi, assim, o seu próprio caminho. Por isso, a felicidade que ele me proporcionou, na revista Pan, me acompanha até hoje. O ilustre crítico se referiu a Stern. E quem sabe tivera, o meu lúdico soneto "O Ratinho", concorrido para alguma reedição do seu simpático e "voltaireano" sorriso... (Teria tido razão o ilustre jornalista Luís Carlos de Portilho, no Correio Católico, de Uberaba, de 22 de outubro de 1969, quando se referiu a mim como "esse manso e inspirado poeta"?)

DG — De que trata o romance inédito, que o senhor escreveu? Vai publicá-lo?

AAH — Esse romance concorreu a certo concurso de O Cruzeiro. Sem êxito. É um caso de amor, com experiências no quadro do desequilíbrio emotivo. Não penso em publicá-lo.

DG — O que significou, para o senhor, ter-se casado com uma poeta?

AAH — Para início de conversa, não me casei com uma poeta. Casei-me, sim, com uma mulher da cabeça aos pés. O fato de ela ser poeta, e grande poeta, apenas o confirma. Por isso, o nosso casamento é "comme il faut".

DG — Pretende também publicar suas memórias? Já têm título? Poderia dizer alguma coisa a respeito?

AAH — Essa idéia seria apenas válida, na medida em que válidas fossem minhas reações ao meio. Estou me referindo, naturalmente, à vida. Não estou certo tenha ela concorrido para estimular ou mesmo justificar o gênero. Entretanto, não endosso e nem sequer invejo as lamentações de Temístocles aos seus amigos, no sentido de que a glória de Milcíades não o deixava dormir. Ora, ora, esse Temístocles era um tolo... pois não há nada como a honra dos pais, o amor da mulher querida e a felicidade dos filhos e netos.


(Se ao menos ele tivesse flores...)
Monsenhor, monsenhor,
tu és a flor mais bela
do meu jardim!