Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

Antônio C. Lacerda Leite


 

Comentário sobre o livro “Estigmas do Tempo”
de Rubenio Marcelo


 

Não fosse a enorme estima que devoto ao amigo e grande poeta RUBENIO MARCELO, certamente eu teria declinado da tarefa de escrever sobre este maravilhoso Livro "ESTIGMAS DO TEMPO". Pois não sendo eu afeito à poesia, embora seja um fervoroso admirador dessa arte, vejo-me com alguma limitação para desincumbir-me do honroso mister a contento. Desta forma, para não cometer o pecado de lesa-poesia é que vou tentar seguir os passos do notável vate e vagar livre, leve, solto e descontraído, sem peias nem apego a preestabelecidos padrões e mergulhar no universo das forças interiores do Espírito, na tentativa de sondar a mensagem e a forma com que o poeta enxerga o mundo.

Antes, porém, farei uma pequena regressão no tempo, para registrar a forma como travei o primeiro contacto com o ilustre poeta, se não me falha a memória, no ano de 1989. O fato se deu em uma agência do correio, na cidade de Campo Grande (MS), ocasião em que eu postava uma correspondência para o gigante trovador popular Ivanildo Vila Nova. Isto mesmo, a poesia popular e o cantador de viola foram os elos que aproximaram estes dois nordestinos errantes, nesta quadra da existência, dando nascimento a uma amizade fraterna que certamente perdurará pela eternidade da existência espiritual.

Não tendo tido o privilégio do convívio fraternal e amigo com Rubenio nos últimos quase oito anos, imagino ser ímpar a presente oportunidade para agradecer a generosidade do poeta-amigo-irmão em agraciar este humilde escrevinhador com o belíssimo poema "Cantadores em Desafio". Entretanto, para concretizar este solene preito de gratidão, necessito buscar auxílio na seara da cantoria, onde descubro, nas rimas de "O Poeta e o Passarinho", entoado nas vozes do saudoso e genial Lourival Batista - o "Louro do Pajeú" - e do grande Oliveira de Panelas, estes belos e significativos versos:
“O poeta e o passarinho / São ricos de inteligência / Simples como a natureza / Eternos como a ciência / Estrelas da liberdade / Peregrinos da inocência / Herdeiros da Providência / Um no chão, outro voando / Um pena com tanta pena / Outro sem pena penando / Um canta cheio de pena / Outro sem pena cantando.”

A despeito da minha limitada aptidão para o mister da apresentação propriamente dita, cabe ressaltar que o leitor amigo não se ressentirá de uma à altura do autor de ESTIGMAS DO TEMPO, vez que o ilustre e culto poeta, músico e escritor Geraldo Ramon Pereira, em seu bem-elaborado Prefácio, discorre, longa e sabiamente, sobre os ecléticos e inumeráveis dotes do - também poeta e músico - Rubenio Marcelo, além de brindar-nos com um verdadeiro trabalho de crítica literária.

Assim é que busco inspiração nas palavras do nobre prefaciador, tentando mergulhar fundo na sua deixa: "supremo binômio - Criador-criatura", para registrar que a Vida é a maior entre as expressões artísticas, pois "é a emanação do pensamento de Deus que se exterioriza em completa harmonia, portanto, como forma sublime de Arte."

Cônscio dessa grande responsabilidade de mediador entre as diferentes esferas da criação, onde a vida vibra e palpita em perfeita consonância com a harmonia universal, é que Rubenio se esmera, esbanjando sabedoria e redefinindo a arte de fazer poesias. Em seus fecundos versos e rimas, ele nos convida a viver intensamente a vida, conclamando-nos a entrar em sintonia com as afinadas polifonias do grande concerto da Fraternidade Universal.

E nesta senda ele nos guia com inigualável magia, dando um novo sentido à arte e advertindo-nos quanto ao verdadeiro papel desta no nosso mundo transitório: "materializar a beleza invisível de todas as coisas, despertando a sensibilidade e aprofundando o senso de contemplação, promovendo o ser humano aos páramos da Espiritualidade”.

É neste contexto de riquezas inexauríveis que o escritor Rubenio Marcelo convida-nos a empreender uma viagem extasiante pelas páginas de ESTIGMAS DO TEMPO. Os leitores podem ficar seguros que, nessa empreitada estonteante, deparar-se-ão, a cada instante, com um universo novo e repleto de realidades até então insondáveis, mas que o nosso poeta, na condição de legítimo "mensageiro e semeador de sentimentos paranormais", no-lo descortinará e sabiamente nos convidará a nele adentrar.

Rubenio Marcelo, nesta obra, voa livre pelo universo das formas e vibrações, e, através dos seus ricos e bem-elaborados poemas, fala-nos, ao coração, dos reais valores que dignificam a vida. Exercitando o maravilhoso dom de medianeiro consciente, e algumas vezes inconsciente, o nosso poeta nos estimula a valorizar o dom da vida através das lições diárias que nos redimem e nos impulsionam em direção ao nosso fim último: Deus. Assim é que nos fala da verdadeira liberdade, da amizade sincera e desinteressada, da inarredável solidariedade e fraternidade universais, e, acima de tudo, da nossa capacidade de exercitar o verdadeiro AMOR, aquele que realmente nos redimirá e nos reunirá em torno do Criador. Para tanto, ele nos convida a refletir acerca da vida daquele que é a "fonte perfeita de inspiração", o nosso grande Mestre e modelo: JESUS CRISTO. Ouçamos, pois, a mensagem do poeta e extirpemos das nossas vidas os estigmas que ainda nos impedem de exercitar o amor em sua real plenitude.

Finalizando as minhas singelas observações acerca desta genial obra poética - ESTIGMAS DO TEMPO - recorro novamente à sabedoria latente da alma do menestrel popular e vou buscar, mais uma vez, nos versos de "O Poeta e o Passarinho", a definição adequada para a mensagem insculpida neste opúsculo magistral da lavra do POETA Rubenio Marcelo:

“O poeta traz na veia / Os segredos do além / Quando canta de improviso / Não pergunta de onde vem / O poeta e o passarinho / Não sabem o valor que têm.”


Antônio C. Lacerda Leite
Escritor e Pesquisador Cultural
NEW YORK, NY - USA


 

 

 

 

 

31.03.2006