há mecanismo no espaço físico das ruas. 
 ruas estreitas apertando 
 casas e cones:
 ruas largas aceitando 
 esquinas e deltas; 
 ruas que se eu penso 
 são becos, burgos, rampas. 
 todas repletas de criaturas mecânicas 
 que dormem o sono depressa 
 da aceitação sem hino, 
 que amam com uma ternura 
 dúbia e morta.
 cheias de criaturas chamadas práticas 
 que choram uma vez por ano
 que perdoam uma vez por ano 
 que são solidárias uma vez por ano. 
 as vitrines são bailarinas feéricas 
 bonecos que expelem fogo pela boca 
 ursos que falam com um gramofone no peito 
 papai-noel sem mais a obesidade secular. 
 estão cheias de criaturas metódicas 
 que pensam que jesus cristo é romano 
 que leram a bíblia para duvidar 
 que informam que o anjo gabriel 
 é vesgo e coxo.
 as igrejas são santos de celulóide 
 sinos automáticos
 cérebros eletrônicos medindo o fervor 
 dos salmos e a carência dos deuses. 
 o recém-nascido 
 é ensaiado nas televisões 
 o recém-nascido 
 tem um olho azul de vidro
 o recém-nascido
 tem o cabelo partido ao meio. 
 as ruas estão cheias 
 dos que não perdoam uma vez por ano 
 dos que não são solidários uma vez por ano 
 dos que não choram uma vez por ano. 
 o canto do galo já não tem sete ecos 
 a estrela que guia já não tem sete cores 
 o rei que indaga que indaga 
 já não tem sete servos. 
 os reis magos são todos 
 do perímetro urbano, 
 os bichos que adoram 
 são bichos domésticos, 
 os pastores são todos 
 do perímetro urbano. |