somos apenas para dizer palavras 
 e entregamos o nosso corpo nas ruas 
 depois repousamos os músculos. 
 não somos puros porque 
 despidos depois de amar 
 não permanecemos. 
 nos perdemos na busca de símbolos: 
 só as casas têm números 
 só os homens têm nomes. 
 queimadas as pálpebras nas cinzas do sono 
 não sabemos que a madrugada se faz 
 nas estrelas que gotejam sangue. 
 morremos e não percebemos as semelhanças 
 que há no peixe e no pássaro 
 no musgo e no vento. 
 possuímos um silêncio para os mortos 
 e um tumulto para o que amamos. 
 guardamos cores na lembrança 
 e envelhecemos antes de sair da infância. 
 refletimos o nosso medo e solidão 
 nos muros, nos bichos, nas flores, 
 sem sabermos que os mortos são fotogênicos 
 sem acharmos a serenidade 
 que faz este mar azul. |