o teu corpo será cálido 
 porque se faz na crisálida 
 do meu silêncio que não amadurece o grito; 
 porque se faz no claustro 
 do flanco sem o mistério 
 do meu olhar onírico e torturado. 
 o teu corpo não vai sofrer 
 as lâminas primitivas 
 de um signo ríspido 
 surdo como o recinto das pedras, 
 porque se faz num tempo 
 suavemente indormido 
 em que a madrugada 
 estiliza na seiva o riso, 
 e liquefaz para meu corpo 
 seu despojamento lírico. 
 o teu corpo nunca estará 
 frio e absorto 
 porque se teu hálito 
 se incorpora ao meu medo, 
 a madrugada plasma em tua carne 
 um canto para o degredo. 
 o teu corpo nunca estará 
 vazio e morto, 
 porque se faz no tempo 
 em que em mim já não reponho 
 este lirismo em que me fiz 
 para humanizar teu peito. 
 o teu corpo será cálido 
 porque se faz na crisálida 
 do meu silêncio que não amadurece o grito. |