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Carlos Herculano Lopes

 

CIÊNCIA - História de mistura e violência
 


Jornal Estado de Minas

 

 

Na época das comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, foi realizado em Águas de Lindóia, São Paulo, o 47º Congresso da Sociedade Brasileira de Genética, que teve como organizador o professor Sérgio Pena, da UFMG. As razões que justificaram aquele simpósio, que levou à cidade paulista cientistas de todo o País, foram, além das comemorações, a heterogeneidade populacional brasileira, resultante da mistura de povos de três continentes durante séculos.

Aqui convivem os ameríndios autóctones, os colonizadores europeus, principalmente portugueses chegados em 1500, e as populações negras da África, trazidas por ocasião do tráfico de escravos para as Américas , diz Sérgio Pena. Algum tempo após o simpósio, ele teve a idéia, concretizada agora, de documentar o resultado no livro Homo Brasilis, que lança amanhã, na Academia Mineira de Letras.

No trabalho, que reúne geneticistas, historiadores, lingüistas e antropólogos, a questão fundamental, em toda sua complexidade, é desvendar quem é o brasileiro hoje e como ele surgiu. Sérgio Pena fundou e dirige em Belo Horizonte o Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais (Gene), primeiro do gênero na América Latina a oferecer diagnóstico clínico pelo estudo do DNA, especialmente de determinação de paternidade. Para ele, autores como Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro enfatizaram, em seus trabalhos, a natureza tri-híbrida da população brasileira.

Como resultado do estudo não só desses autores, como também de vários outros, foi possível ao cientista e à sua equipe obter dados que, no decorrer do estudo, deram respaldo científico a essa noção e acrescentaram o importante detalhe de demonstrar um processo de reprodução direcional. Entre as conclusões a que chegaram, Sérgio Pena, mineiro de Belo Horizonte, diz que a contribuição européia na formação do brasileiro veio basicamente através dos homens, enquanto a ameríndia e a africana foram principalmente pelas mulheres .

Isto se explica porque os primeiros portugueses que aqui chegaram não trouxeram suas mulheres, o que os levou, então, a iniciar rapidamente o processo de miscigenação com as índias. Já com a vinda dos escravos, no século XVI, este processo se estendeu às africanas , prossegue o cientista, para quem o nascimento do povo brasileiro não constitui uma história muito bonita, uma vez que foi feita basicamente às custas de violência e opressão social das ameríndias e africanas pelo colonizador português .
 

 

 

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Carlos Nóbre