Cláudio Aguiar
Confissão de dívida e outros
poemas
A reedição do livro Confissão de
Dívida, com o qual o poeta Majela Colares estreou em 1993, agora,
acrescido de Outros Poemas, é sem dúvida, o patente exemplo de um
talento que se firma no cenário da poesia brasileira contemporânea.
Se, por um lado, seus primeiros poemas apresentam uma clara
inquietação temática, por outro, quase todos, foram erigidos também
dentro de um clima de constante busca de novidade formal. Em nenhum
momento, porém, essa busca foi feita sem um lúcido esforço estético,
ainda que seja impossível negar a influência em maior ou menor grau
na obra de qualquer escritor.
Há, na maioria dos poemas de Colares,
uma carga de perplexidade diante do destino dos homens e das coisas
que, às vezes, nos dá a impressão de ter chegado ao paroxismo, mas
logo o poeta consegue fugir do delírio que poderia levá-lo ao
pessimismo absoluto e faz ressoar com força um sinal de esperança,
como se de seus versos partisse um raio de luz no final do túnel.
Diante da atitude confessional que
aparece sugerida no próprio título desta obra, há situações que nos
induzem a pensar na velha e razoável idéia de que a poesia, mesmo
sendo algo difícil de ser definido, sempre oferece aquilo que a
natureza nos nega. E porque não poderia ser de outra forma, ela
termina nos fazendo ver, admirar ou sentir verdades que parecem
brotar de uma fonte filosofal. Este registro Colares vem mantendo
com pertinácia e coerência. É possível que, no afã de tocar nessas
verdades, o poeta cearense tenha se armado da ira comedida mas
eficaz para escrever seus versos, como diria o vetusto e sempre
moderno poeta latino Juvenal. Talvez, por isso, possam ser notadas
em Confissão de Dívida e Outros Poemas as primeiras preocupações com
questões filosóficas.
Majela Colares, portanto, a se julgar
pelo valor expressivo de seu livro de estréia, vem confirmar uma
carreira que se consolida, sobretudo, pelo aparecimento posterior de
livros como Outono de Pedra (1994), O Soldador de Palavras (1997) e
A Linha Extrema (1999), que o credenciam como um dos mais
importantes valores da linhagem de poetas brasileiros aparecidos ao
longo da década de 1990.
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