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 Camilo
            Martins Neto 
                                                     
             
                                  
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            
             
            O 
            cumpade Zé de Lica 
  
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
             
            E aí, cumpade, quê qui há? 
             
            o cumpade zé de lica 
             
            O sujeito era meio totalmente desabilotado, e eu era criança, mas me 
            lembro muito bem. 
             
            Andava sempre de palitó e dizia-se sacristão. 
             
            Morria alguém era ele que tocava o sino da igreja que ficava na 
            cidade baixa, ao lado do pé de juá, perto da casa da mãe egídia, da 
            mãe pêda, parteira boa por demais da conta e um amor de pessoa. 
             
            Hora da missa, lá estava ele, zé de lica, tocando o sino. 
             
            Um dia resolveram construir outra igreja lá na cidade alta. Tinha 
            mais moradores, era mais bonito lá em cima, etc e tal... 
             
            Construiram e já rebocada, pintada, quase pronta. 
             
            Um engraçadinho achou de perguntar para o cumpade zé de lica 
             
            - E aí cumpade zé, que qui há? 
             
            - Tá tudo muito é bom – disse o sujeito sorridente ( um dente podre 
            e o resto tudo estragado) 
             
            - E a igreja já está pronta pra ser inaugurada? 
             
            - Já, já sim, só falta o diabo da santa, qui inda tem qui levar pra 
            lá, qui é pra mode inagurá; mas já, já nóis leva e inagura aquela 
            danada, qui ficô inté foi muito bonita! 
             
            Não deu mais pra dizer nada, o zé de lica seguiu sua caminhada de 
            peito pra fora, barriga pra dentro, jogando os braços pro lado, 
            caminhando todo espalhafatoso, que era sua marca registrada e bem 
            conhecida na cidade...( ninguém mandou perguntar) 
             
            Chegando lá na antiga igreja estava um grupo de pessoas esperando o 
            padre manoel que vinha da cidade de são pedro do piaui, que era a 
            paróquia da qual a igreja de agricolândia pertencia e afoito foi 
            logo perguntando: 
             
            - Cadê o diabo do pade, num chegô, não? 
             
            - As véias se benzendo reponderam – isso é modos de perguntar zé, 
            onde já se viu, chamar o santo pade de diabo! E porque você quer 
            saber? 
             
            - Craro, madrinha, si o pade num chega, eu sou sacristão e faço já, 
            já, o diabo desse batizado! 
             
            Claro que o zé de lica estava mais era interesssado nos comes e 
            bebes depois do acontecimento, [ e ele era besta? ] 
             
            Mas era uma figura folclórica o cumpade zé de lica, e eu me lembro 
            muito bem. 
             
             
  
                                                     
                                            
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            
            
             
             
            Queridos bichanos 
  
            
             
  
            
            Maria do nelo é esse tipo que está sempre cuidando de tudo e com 
            muito cuidado mesmo! Exagero à parte, vejam só o acontecido: 
            Um 
            dia andava na cidade com sua inseparável saia de volta –ao - mundo ( 
            nem sei onde ainda achava aquele tecido pra comprar) e com um saco 
            nas costas, mas um mal cheiro insuportável, carniça pura. Daí, a 
            marli da cumadre loura, muito curiosa, perguntou pra maria do nelo:
             
             
            - Maria, mermã, o que qui tu leva aí nesse saco?  
            - Ah! Cumade, é meus gatin qui eu cuido, num sabe? Dou banho neles, 
            dou comidinha na boca, os bichin são umas gracinha! Eu já botei inté 
            os nome, é o pitomba, a barata, a porca e o menorzinho eu chamo de 
            biscoito, num são lindios? 
            - Mas, maria, e esse mal cheiro, deixa eu ver... 
            - Pode vê, eu num mim porto não! 
  
            
            Quando a maria abriu o saco a coitada da marli quase caiu pra trás 
            durinha, o mal cheiro terrível! Os gatos estavam mortos... 
             
            - Mas, maria, os coitados dos bichanos estão mortos! - disse a marli, 
            estupefada com a cena horripilante. 
            - Hem, hem, de vera – ( de vera, quer dizer de verdade ou é verdade) 
            exclamou a maria do nelo – sabe qui eu nem tinha notado... Coitadins! 
            Então eu vou é pru sumitéro interrá os bichim e rezá muito pra são 
            borba gato! 
  
            E 
            lá se foi a maria com os gatos que ela tinha tanto cuidado, todos 
            mortos já havia cinco dias e estavam era se decompondo e a maria 
            andando pra cima e pra baixo com os bichos e o pior sem sentir um 
            pingo de fedor.  
            E 
            ficam todos meneando a cabeça... Doido é doido. Isso eu me lembro 
            muito bem pois a maria do nelo é outra daquelas figuras que a gente 
            não esquece. 
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