A falsa COCHONILHA DO CARMIM
e a devastação da palma forrageira
no Nordeste
Francisco José Soares Feitosa*
“Há aproximadamente 10 anos foi introduzida, com fins
comerciais, uma espécie de Dactylopiidae no
Nordeste do Brasil, aonde abundam as plantações de
Opuntia fícus indica, a principal cactácea
forrageira da região. Por desconhecimento, introduziu-se
Dactylopius opuntiæ e não Dactylopius coccus.
Atualmente, a EMBRAPA e outros organismos governamentais
dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba
estão desenvolvendo planos de controle integrado da
cochonilha, pois Dactylopius opuntiæ é uma
espécie invasora altamente prolífica e está ocasionando
grandes perdas das plantas forrageiras”.
Esta a informação fundamental do livro fundamental da
história da palma no Brasil, desde o Brasil colônia, de
Nelson Papavero e Lucía Claps. (Clique
aqui)
Ainda que livro fundamental, pela extensão e erudição da
pesquisa, traz um erro quanto à data da infestação da
cochonilha no Nordeste: o livro é de 2014, refere dez
anos, mas a introdução da Dactylopius opuntiæ
ter-se-ia dado em 1998, por aí, ninguém sabe, ninguém
viu, um pesado véu de mistério. Os autores trabalham o
sujeito indeterminado: “foi introduzida”,
“introduziu-se”, como se os fatos não tivessem decorrido
da atividade humana.
A
realidade é que milhares de hectares de palmas, numa
região miserável, já despareceram. Diferentemente da
vassoura de bruxa nos cacauais da Bahia, não teria
havido um ato deliberado para prejudicar. Muito pelo
contrário, registros há de que a intenção – a boa
intenção! - teria sido colocar ao dispor dos produtores
uma nova fonte de renda, a “grana fina” do corante
carmim, produzida pela cochonilha.
O
pior é que em qualquer conversa com os mais jovens, as
informações são no sentido de que a tal cochonilha do
carmim teria sido introduzida por Delmiro Gouveia, para
tingir suas linhas de coser na fábrica das margens do
São Francisco, há mais de um século.
Simples nordestino, sob os efeitos da praga que tem
dizimado os palmais do semiárido, estou no direito de
perquirir: Quem, quando, como? Google para que te quero,
vamos, pois, às pesquisas:
Milhares de hectares da palma gigante em PE, PB, e RN
estão perdidos, dizimados, mortos, extintos. A praga
avança, na força do vento e dos muitos meios de
contaminação (gado, guaxinins, pássaros, raposas,
vaqueiros e suas roupas, calçados, ferramentas e
máquinas), para CE, PI, AL, SE, BA e norte de MG em
grande velocidade. (clique
aqui)
São Paulo também? Com certeza! São Paulo planta a palma
gigante para a produção de frutas, o caríssimo
Figo da índia,
uma delícia. Em suma, um desastre de mais de um milhão
de km2, a atingir produtores rurais, cujos rebanhos
(seis anos de seca), dependem da palma.
Agora mesmo, 22.4.2018, a TV noticia que a cochonilha
terminou de chegar a Botuporã,
no centro da Bahia, já descambando para o sul. Os
produtores estão em pânico. (clique
aqui)
—
Sim, quem trouxe essa peste?
Faço um registro em prol do geógrafo Ivandro de Oliveira
Pinto que, em sua Dissertação de Mestrado (clique
aqui),
2015, traz alguns fatos, ainda que “ao portador”,
ninguém sabe quem. Ivandro transcreve o discurso de
Jarbas Vasconcelos (clique
aqui), Senado Federal, outubro de 2009,
precioso como fio inicial:
“Venho hoje a esta tribuna para falar de um assunto que
é de grande importância para o setor da pecuária de
leite no meu Estado de Pernambuco. Trata-se da praga da
cochonilha do carmim, que vem devastando há uma década
as plantações de palma forrageira no Sertão e no Agreste
pernambucanos. Para quem desconhece a cochonilha, se
trata de um pequeno inseto originário do México e que é
a principal base de um corante natural de cor vermelho
escuro, utilizado em alimentos e também na produção de
medicamentos e de roupas. O problema é que esse pequeno
animal se alimenta da seiva de cactos, como é o caso da
palma – utilizada em larga escala pelos criadores de
gado leiteiro em todo o Nordeste. Há cerca de 11 anos, a
cochonilha mexicana foi introduzida ilegalmente em
Pernambuco, iniciando um processo de expansão pelo
interior do meu Estado. O que era para ser uma
alternativa econômica para pequenos produtores rurais se
transformou numa praga que vem devastando as plantações
de palma forrageira.
[...] “Daí a gravidade da praga da cochonilha que ameaça
dizimar essa que é uma das poucas riquezas dessa tão
sofrida população do Semiárido nordestino.
[...] “Durante o período em que estive à frente do
Governo de Pernambuco, entre 1999 e 2006, empreendemos
diversas iniciativas para combater a cochonilha, mas ela
se apresentou mais resistente do que imaginavam os
técnicos da Secretaria de Produção Rural.
[...] “Por tudo isso, é extremamente preocupante o
avanço da praga da cochonilha. Já existem informações de
que o inseto já foi identificado também no vizinho
Estado da Paraíba. Senhor Presidente, acredito que é
chegada a hora dessa luta contra a cochonilha contar com
o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Temo que essa praga vá além das
fronteiras de Pernambuco e coloque em risco toda a bacia
leiteira do Nordeste. Vejam
“Algumas viagens ao México foram empreendidas pela
diretoria do IPA, acompanhada por técnicos locais e de
outras instituições de pesquisa do Nordeste, a exemplo
da EMEPA (PB) e da EMPARN (RN), entre os anos de 1996 a
1998. Ao que parece, objetivavam essas autoridades
conhecer a diversidade da palma forrageira existente
naquele país e firmar algumas parcerias, como de fato
existiram. Daí resultou na importação de uma grande
quantidade de variedades de palma que foi dividida entre
as instituições citadas, a exemplo de uma coleção
destinada para usos hortícolas e outra especializada na
produção de frutos, ainda existentes no IPA.
“Conhecendo a extensão dessa cultura e vendo-se que o
seu maior emprego no México era como alimento para
cochonilha do carmim, conhecida como “grana fina”, capaz
de alta produtividade e de corante de alta qualidade,
vendido no mercado internacional a um bom preço em
dólar, a direção do IPA elaborou um processo e o
encaminhou ao Ministério da Agricultura pedindo
autorização para a importação da “grana fina”.
Importante lembrar que o México, Peru e Ilhas Canárias
são os maiores produtores mundiais de carmim.
“Enquanto o Ministério analisava o pedido, o IPA
escalou dois pesquisadores para coletar espécies nativas
da cochonilha nas caatingas do Nordeste, tendo sido
encontrada em Serra Talhada-PE e no distrito de
Pendência, município de Soledade-PB, segundo se
informa.
“As amostras aí coletadas foram encaminhadas para a sede
do IPA, no Recife, onde foram feitos ensaios para estudo
da biologia do inseto e outras determinações.
“O
Ministério da Agricultura negou o pedido de autorização
para a importação do inseto, enquanto os ensaios
continuaram com o inseto coletado nas caatingas
nordestinas, na expectativa de se comprovar uma boa
fonte de renda para o homem do campo. Em função disso,
em 1998 novos ensaios foram conduzidos, desta vez na
Fazenda Cachoeira, sede da Estação Experimental de
Sertânia, PE, em ambiente controlado, verificando-se que
de fato havia viabilidade pela grande eficiência na
multiplicação do inseto e na produção do corante.
“Enquanto esses ensaios eram conduzidos, houve uma
grande divulgação da provável atividade, com a produção
de folders, publicação de matérias em jornais de grande
circulação no estado e propaganda em exposições de
animais da época, apresentando-se a cochonilha como a
redenção do sertanejo, pois, a partir de então, tinha
diante de si um produto que seria vendido em dólar no
mercado internacional (IPA, Cochonilha do Carmim,
folder).
“Esse material mostrava que os quatro países produtores,
Peru, Ilhas Canárias, México e Chile dominavam o mercado
mundial, com 200 toneladas do inseto beneficiado por
ano, representando apenas 30% desse mercado. Isso tudo,
somado à exigência da OMS de que as indústrias deveriam
substituir os corantes artificiais pelos naturais até
1998, mostravam as possibilidades de ascensão desse
mercado, razão por que o IPA estava interessado em
investir na produção da cochonilha. Para tanto, o IPA
firmou convênio naquele ano com a Universidade Autônoma
de Chapingo, no México, mandando técnico para conhecer
as tecnologias de manejo de criação do inseto, no Centro
de Pesquisas da Grana Cochonilha, em Oaxaca (México),
enquanto professor daquela Universidade veio a
Pernambuco.
“Em fins de 1999 surgiram os primeiros relatos de que
havia áreas de palma em propriedades particulares, no
município de Sertânia, infestadas pela cochonilha do
carmim. A notícia não foi divulgada e o governo só tomou
conhecimento no final do ano 2000.
“Algumas hipóteses foram aventadas para explicar o
ocorrido. Como o primeiro foco foi detectado próximo à
estação do IPA, onde havia sido realizado o ensaio com a
cochonilha, logo se divulgou que o IPA teria deixado
escapar o inseto para o campo, quando o ensaio foi
conduzido em recinto fechado e em condições controladas.
“Outros alegavam que, em razão da grande divulgação dos
benefícios da atividade para o produtor, alguns desses
poderiam ter levado raquetes de palma com a cochonilha
para as suas propriedades e daí contaminado os palmais.
“Conta-se que, em exposição de caprinos e ovinos de
Sertânia, autoridades do governo de então teriam feito
propaganda da cochonilha, com raquete infestada em
punho”.
—
De lá 2009 para cá?
A
palma forrageira não resistiu. Acabou. Perda total. Onde
ainda não acabou (PI, CE, AL, SE, BA e MG), vai chegar e
acabar. Não há remédio, nem controle. O montante do
prejuízo? Incalculável.
Um
instante: quando falamos “palma forrageira”, regra geral
referimos a palma gigante, a de maior área plantada
desde a “Seca do 32” (1932), vide Guimarães Duque (clique
aqui), e agora em processo de extinção.
(Seca do 32? Foi uma das poucas “secas-secas”, isto é, o
ano em que chove praticamente zero, a seca-total. A
“Seca do 58” (1958) foi outra Seca-seca, quando os
bispos reuniram-se em Campina Grande, PB, e do protesto
deles surgiu a SUDENE, em que a roubalheira foi tamanha
que mandaram fechar, mas isto é outro assunto; aliás, o
mesmo assunto, o assunto de sempre. Veja aqui o que é a
Seca-seca (clique
aqui)
A
rigor, a palma são duas, de modo bem simplório, a
facilitar o entendimento:
i)
a palma gigante, espécie opuntia, do clima e
terrenos mais severos, agora sob o ataque impiedoso da
tal cochonilha que não é a do carmim;
ii) e a doce, também chamada miúda, da espécie
Nopalea, mais exigente em clima, mais produtiva e de
melhor palatabilidade, que não é atacada pela falsa
cochonilha do carmim, como veremos mais adiante.
AFINAL DE CONTAS, A COCHONILHA, QUAL DELAS?
Cochonilhas são muitas; se duvidar, dezenas,
centenas. Atacam tudo, destroem tudo. Entretanto,
uma variedade das tais cochonilhas, com o pomposo
nome de Dactylopius coccus, é a que produz o
carmim, um corante vermelho de valiosa utilização na
indústria alimentícia, têxtil e cosmética.
Para produção do carmim, só interessa a variedade
cocus, que é, digamos, a verdadeira, de amplo
cultivo nas palmas “cochenilliferas” do
México, Peru e outros países.
O Brasil bem que se esforçou, desde o período
colonial, para explorar a cochonilha do carmim,
monopólio da coroa espanhola por muitos séculos,
vide Nelson Papavero e Lucía Claps, obra indicada no
início deste trabalho.
— Dar uma “pernada” na coroa espanhola, traficando
cochonilha do carmim para explorar no Brasil
colônia? Sim, a coroa portuguesa muito que se
esforçou. Nunca o conseguiu. No México de então, o
carmim estava logo abaixo do ouro e da prata,
verdadeira riqueza, cultivado a sete chaves pelos
espanhóis. Ainda hoje é produto de grande peso na
pauta de exportações do México e do Peru.
Quando, então, coisa de uns vinte anos, alguém teve
a ideia de criar uma fonte de renda extra para
Nordeste, a exploração do carmim. Carmim? Sim, isto
mesmo, basta espremer o inseto, voará tinta vermelha
(“carmim” significa vermelho) para todos os lados.
Assusta, parece sangue, sangue vivo! É assim mesmo,
apenas uma tinta vermelha, um vermelho vivo.
O problema é que nem todas as cochonilhas, ainda que
se desmanchem em tinta vermelha quando espremidas,
prestam-se para a atividade industrial do carmim.
Algumas soltam tinta, mas de baixa produção e
qualidade inferior; outras, tinta nenhuma, secas, só
farinha. E a pior de todas as cochonilhas,
justamente aquela implantada há vinte anos em
Sertânia, produz pouco carmim e, mil vezes
pior, ataca o hospedeiro, a palma gigante, matando-a.
Vejamos o que diz um mexicano sobre a cochonilha:
Existen dos tipos de cochinilla,
silvestre y fina. La silvestre es un complejo de
ocho especies que crece como una plaga en las
huertas de nopal. Su colorante es de mala calidad y
de baja concentración. Se distingue de la fina
porque su cuerpo está cubierto de una madeja de "algodoncillo"
blanco en vez del polvo de la cochinilla fina. La
cochinilla fina se distingue porque su colorante es
de buena calidad y alta concentración (clique
aqui)
Não temos, no Brasil, a cochonilha do carmim, isto
é, a verdadeira. Deveras, quando o IPA (Instituto
Agronômico de Pernambuco) implantou cochonilhas em
Sertânia, imaginou seriam as do carmim, mas não
eram. Desmanchavam-se em sangue (carmim) mas era as
falsas, do tipo silvestre de que nos fala o
mexicano. No texto inicial deste trabalho, os
cientistas Nelson Papavero e Lucía Claps registram
com toda a muita clareza:
“Por desconhecimento, introduziu-se Dactylopius
opuntiae e não Dactylopius coccus”.
A cochonilha do carmim, chamada Dactylopius
coccus, que não temos no Brasil, é que deveria
ter sido implantada no projeto do IPA a gerar uma
renda extra para os agricultores da seca. Em vez da
coccus, implantaram essa outra — por
desconhecimento, com certeza —, a
Dactylopius opuntiae.
A verdadeira cochonilha do carmim, de grande
produtividade, não mata a palma. Esta outra,
implantada em Sertânia e que agora se espalha Brasil
inteiro, é a variedade feroz, selvagem, silvestre,
chamada Dactylopius opuntiæ (pronuncia-se
dactilópius opúncie), de pouca tinta e que mata tudo
o que estiver por perto, palmas, evidentemente. Que
tipo de palma? Todas as palmas? Não. Ainda bem.
Vejamos quais.
Comecemos pelo nome da fera: Dactylopius opuntiæ,
a cochonilha da opúncia. Opúncia? Sim, a nossa
palma gigante, cujo nome científico é “Opuntia
ficus-indica”, isto é, a palma do
figo-da-índia.
E fique logo claro: “figo-da-índia” é o fruto da
palma gigante, só da gigante; diga-se de passagem,
uma delícia.
Pois bem, foi a cochonilha da Opuntia que
implantaram em Sertânia, destruindo tudo. Quem?
Ninguém lhes sabe o nome quem. Falam teria havido um
pedido de desculpas do governo de PE, mas não
encontrei na www.
A cochonilha do carmim verdadeira, vamos
recapitular, é a Dactylopius cocus; o seu
hospedeiro não é a palma gigante, mas esta outra —
tremei, alagoanos! — a Opuntia cochellinifera,
isto é, a palma miúda, também conhecida como palma
doce. Quer dizer, cada espécie de palma tem o seu
“inseto preferido”. A palma gigante tem a falsa
cochonilha; a palma miúda, a cochonilha verdadeira.
Recapitulando mais uma vez: não temos, no Brasil,
a cochonilha do carmim verdadeira; temos, sim, a
falsa, a selvagem, que está a extinguir milhares de
hectares da palma gigante, e que veio de fora, do
México, como demonstraremos.
Uma pergunta: essa cochonilha que aí está destruirá
também a palma miúda? Não! A palma miúda é
resistente à falsa cochonilha do carmim, mas
hospedeira natural da verdadeira cochonilha do
carmim. O IPA, em vez de ter implantado a cochonilha
selvagem, tivesse implantado a verdadeira cochonilha
do carmim, quem estaria sob praga seria a palma
miúda?
Sim e não! Sim, porque a palma miúda é o hospedeiro
da cochonilha do carmim; mas nem tanto porque a
cochonilha do carmim verdadeira ataca, mas não mata.
Daria para conviver, digamos, como todos convivemos
com a cochonilha de escama que também
ataca, mas não mata, a não ser que o produtor abra
os braços e grite o proverbial “Come, onça!”. Se o
fizer, nem precisa de onça; lagartas e gafanhotos
acabam com tudo. Em suma, sem os devidos cuidados,
seria uma praga, mas não tão terrível quanto esta
outra, da cochonilha selvagem que mata a palma
gigante, justamente porque sua “cera de algodão”
impede a penetração do defensivo.
Por outra,
se adotadas as técnicas do cultivo do carmim, na
cochonilha verdadeira do carmim, que no México
faz-se em fazendas, como se fossem “estábulos de
cochonilhas leiteiras”, estufas de alta tecnologia,
com a “ordenha” periódica dos clatódios... haja
chão, haja técnica! Vejam como é neste site.
O fato é que os palmais de variedade “doce” correm o
risco de, nalguma outra “experiência”, soltarem para
cima delas a cochonilha verdadeira do carmim. Seria
uma nova devastação, mas não tão pesada quanto esta,
causada pela cochonilha selvagem. Botar a culpa em
Delmiro Gouveia, morto há cem anos? Por certo! [Bem
mais fácil, é assim se formam os mitos: O Delmiro!
Foi ele, ó, o Delmiro!].
Então, todas às vezes em que você ouvir falar em
“cochonilha do carmim”, tenha a certeza de que, no
Brasil, não se trata da “verdadeira cochonilha do
carmim”, isto é, da variedade Dactylopius coccus;
e sim, desta outra, implantada pelo IPA, a
Dactylopius opuntiæ, que só serve para
destruição.
Os técnicos que a introduziram sabiam disto? Parece
que não, tanto assim que continuam a chamar
“cochonilha do carmim”, quando o correto é chamá-la
“cochonilha da palma gigante” ou “cochonilha
selvagem”, ou pelo nome latino: Dactylopius
opuntiæ. Faz diferença? Faz, sim. Vale repetir:
a cochonilha do carmim não mata o hospedeiro; a que
implantaram aqui, mata.
DA HIPÓTESE MAIS PLAUSÍVEL
A famosa navalha do monge William Ockham: preferir o
argumento menos enfeitado —, mais ou menos isto,
dizia monge-filósofo há muitos séculos. De modo que,
teorias conspiratórias de lado, comecemos pela mais
plausível:
— Como implantar no Nordeste a produção de carmim?
— Trazendo a cochonilha do carmim, evidentemente.
— Vamos, então, pedir a licença de importação!
Pediram-na. (Quem
pediu? O IPA!, segundo o senador de então, Jarbas
Vasconcelos). Como a burocracia brasileira move-se a
passos de tartaruga, alguém teria falado que
conhecia cochonilhas de puro sangue nas matas da
Borborema. (Sim, a natureza está repleta de insetos
selvagens, não tão ofensivos porque no macro
sistema, desde que você não os traga para o cultivo
doméstico. Foi assim com o fungo da seringueira, no
plantio adensado da Fordlândia, projeto monumental,
na Amazônia, falido por conta de outra “cochonilha”,
o fungo Microcyclus ulei, do século passado).
Equiparam dois técnicos. Embrenharam-se eles matagal
adentro. Embornal, lanterna e canivete; o cantil de
mineral-pet, rapadura queijo de coalha e paçoca;
pois bem, os nossos heróis (quem?!), rapidinho,
cochonilhas debaixo do braço:
— Eipa! Sucesso! Achamos, aqui estão! Vejam! Chiam
sangue! De puro sangue!
Levaram-nas para o Recife, cultivo bem cuidadoso de
laboratório; depois, para Sertânia, grandes
comemorações, muitos discursos de boa cerveja; os
mais afoitos, palmas repletas de cochonilhas,
abanando-as até para quem não queria ver:
— Vejam!
Eram falsas.
O resto? Bom, o resto, a gente já sabe. (Pano bem
rápido, ninguém fale nisto. Daí o silêncio, parece).
Foram buscar cochonilhas do carmim no matagal
paraibano, mas trouxeram cochonilhas selvagens. Daí
chamarem a “cochonilha selvagem” com o nome de
“cochonilhas do carmim”, que não o são.
Se assim foi, a falsa cochonilha do carmim já estava
na mata. Levadas a cultivo, longe da competição da
floresta, a falsa cochonilha do carmim ganhou força
e vitalidade que não tem dentro da mata. Disparou!
Contudo, essa versão da cochonilha nativa, da
Borborema, não se sustenta, por uma razão muito
simples: a cochonilha que está a devastar as palmas
do semiárido não é a nossa cochonilha nativa,
da mata. É que há cochonilhas e cochonilhas, muitas,
centenas. O agr. Paulo Suassuna, especialista em
palma, assim me escreveu:
“Eu me lembro que, quando criança, em Taperoá, nós
brincávamos de índio nos pintando com aquela
“tintinha vermelha” que aqueles “bichinhos da
palmatória” produziam. Quer dizer, desde sempre, as
Cochonilhas da palmatória (Dactylopius aff.
Austrinus) existiram e nunca fizeram mal à
palmatória e nem, tampouco, à palma destinada ao
gado. Pode tentar inocular
Dactypopius austrinus em palma gigante ou
miúda que ela não consegue se desenvolver. Isto é um
fato!
Palmatória? Sim, a nossa popular quipá, hospedeira
natural dessa outra cochonilha, a Dactypopius
austrinus, que também produz algum carmim, mas
de péssima qualidade, de nada a ver com a
cochonilha verdadeira do carmim. Então, foi essa
outra cochonilha, da palmatória-quipá, que os nossos
heróis do sertão pegaram na Borborema. Foram-se
encarrapichar no matagal para nada! Diária à-toa,
pelo visto.
A confirmar o que
diz Paulo Suassuna sobre a nossa cochó da Borborema,
técnicos da Paraíba inocularam a tal cochó selvagem
que está a atacar e destruir a palma gigante, na
palmatória quipá e, ao fim de 120 dias, não houve
qualquer contaminação.
Em suma, cada variedade de palma tem o seu “inseto
cochó”. Impressiona que seja assim, a Natureza é
completa: uma briga feroz, parasitas e seus
hospedeiros.
Agora, 25.4.2018, o agr. Marcone C. M. Chagas, me
confirma via WhtsApp:
“Caro amigo, nós concluímos dois ensaios em
laboratório utilizando infestações cruzadas ou seja,
amostras de palma gigante infestadas com a
cochonilha do carmim sobre a quipá e, por
conseguinte, cladódio da quipá bastante infestado em
campo sobre raquetes limpas da gigante...
"Não houve qualquer sinal de formação de novas
colônias (infestações) em nenhum dos casos,
indicando que são espécies distintas (já esperado)
apesar dos espécimes visitarem as raquetes
livremente mas não se instalarem/reproduzirem-se.
Esses dados ainda não foram publicados.
"Fiquemos tranquilos!"
Fiquemos tranquilos com o quê, meu caro dr.
Marcone? Pelo menos com isto: a cochó da palmatória
de espinhos, (quipá) não ataca a palma gigante; ii)
a cochó que está matando a gigante não ataca a quipá.
Paulo Suassuna é de opinião de que a essa tal
cochó selvagem — veremos que ela é do México e não
daqui — também não ataca os demais cactos da
caatinga:
“A palma gigante é hospedeira única de
Dactylopius opuntiae. Sendo assim, essa história
de que a Cochonilha Silvestre está atacando a Coroa
de Frade, o Xique-Xique, o Mandacaru, o Facheiro ou
qualquer outra Cactacea, não procede! Então, eu
entendo que a versão dos técnicos que entraram nas
caatingas em Soledade e Serra Talhada e capturaram a
Cochonilha para tentar multiplicá-la visando a
produção do carmim e que assim se sucedeu o
desmantelo, está descartada. Primeiro porque a
Cochonilha que preda à palmatória (quipá) não é
Dactylopius opuntiae e segundo porque as palmas
destinadas à forragem não hospedam a Dactylopius
austrinus.”
Há outras
cochonilhas de sangue? Com certeza! Em Paracuru,
litoral norte-CE, o meu gerente muito espantado com
uma muda manga, repleta de cochós, ele as espremeu e
sangraram. Eu vi. Também espremi e os dedos
ficaram-me em sangue vivo, de puro carmim. Um
pequeno filme, também com outra variedade, a de
carapaça.
Hoje, mais
prevenido, eu e o gerente, sr. José Batista dos
Santos, temos o cuidado de carregar no bolso um
guardanapo branco, de papel toalha, ou um papel
branco qualquer para, deparando-nos com qualquer
cochó, espremê-la e fotografar. Sim, e a caneta.
Para anotar. E muito mais cochós outras nas árvores,
veja neste trabalho da Embrapa.
Cochós da mangueira (cochonilha ortézia).
Chiam sangue sim, e foi sufoco acabar com elas.
Fico me perguntando: as tais cochós selvagens da
palma gigante seriam capazes de se meterem para cima
do mangueiral do São Francisco. Tremei, beira-rio!
Ou, pelo contrário, só gostam de palma, da palma
gigante e suas variedades. Não sei.
AFINAL, QUEM?
Do ponto de vista a
História, o fato é simplesmente extraordinário. Um
acontecimento com essa magnitude, de desastre tão
medonho quanto os cururus, gatos e coelhos que
levaram para a Austrália; ou as cobras pítons para o
USA —, acontecer assim, tão recente, inteiramente
“ao portador”. Sites há que registram: “Um
agropecuarista a trouxe do México, e este inseto se
reproduziu”.
— Quem?!
Ricardo Fiúza, já
falecido? O pessoal da Fazenda Carnaúba? De fato,
foram eles ao México conhecer os palmais de lá e
aqui implantaram o sistema adensado, uma grande
ideia, sem dúvidas, um magno benefício. Este site
registra o pior: “Importaram e abandonaram”.
Tenho que essa hipótese de alguém ter ido ao México
e, em vez de trazer cochonilhas verdadeiras, ter
trazido essas que aí estão, falsificadas,
selvagens... Sei não! Pode ter sido!
O negociador brasileiro de cochonilhas teria sido
ludibriado pelo mexicano?! De fato, roda na rede
mundial de computadores esta versão, fonte bastante
autorizada:
“ORIGEM DA PRAGA A cochonilha do carmim (Dactylopius
coccus, Costa) é originária do México e criada em
vários países, com destaque para o Peru e outros
países da América Andina, para a produção do corante
natural carmim de cochonilha, de grande importância
comercial. Existem inquestionáveis referências
históricas de que o capitão Arthur Philip, chefe da
primeira frota de navios a deixar a Inglaterra
transportando condenados para trabalharem na
colonização australiana, fez uma escala de um mês no
Rio de Janeiro em 1787 com o objetivo de procurar
por palmas e cochonilhas entre outros produtos
tropicais para serem levados para a Austrália.
Entretanto não foi desta época que se originou a
catástrofe que ora acontece em plantios de palma nos
estados de Pernambuco e Paraíba pois nunca houve
nenhum registro desta praga entre os plantadores de
palma do Nordeste até o
final do século
passado quando pesquisadores do IPA (Instituto de
Pesquisas Agronômicas do Estado de Pernambuco)
trouxeram insetos cochonilhas do México para a
realização de pesquisas agronômicas no município de
Sertânia em Pernambuco. Infelizmente, as cochonilhas
se disseminaram a partir dessa área experimental
original para plantios próximos que foram
rapidamente infestados e serviram de novos pontos de
disseminação que ocorre principalmente pelo comércio
de palmas e animais infestados com esses insetos,
além do vento que pode transportar principalmente as
formas jovens, conhecidas por ninfas migrantes.
—
Quem os autores do texto acima? Autorizadíssimos:
Rêmulo Araújo Carvalho, Emepa-PB;
Edson Batista Lopes, Emepa-PB (falecido);
Antonildo Campos Silva, Agr. Secretaria Agricultura –
PB;
Robson Silva Leandro, Téc Agrícola, Sec. Agricultura -PB
Vinícius Batista Campos- Estudante de Agronomia - UFPB
Do texto acima, as seguintes conclusões:
i) Insistem no erro de chamar a variedade selvagem
como cochonilha do carmim;
ii)
Isentam Delmiro Gouveia, morto há cem anos, de ter
trazido a praga para cá, quando referem o surgimento
apenas no final dos anos 90 e não há mais de cem
anos;
Atocham a responsabilidade no IPA, quando seus
técnicos (quem?): «trouxeram
insetos cochonilhas do México para a realização de
pesquisas agronômicas no município de Sertânia em
Pernambuco».
Pode ter sido! Deve ter sido, não?!
Sub-reptícios, os técnicos (?) não podiam trazer as
cochós verdadeiras: primeiro, a licença para
importar não fora liberada; segundo, os mexicanos,
com certeza, não iriam permitir, porque assim tem
sido desde o império espanhol, quando o carmim era
tratado como segredo de estado.
Então, no México, os buscadores de
cochonilhas do carmim pegaram as primeiras cochós
que encontraram nos cactos do jardim hotel, da
pracinha de frente, sabe-se lá onde mais,
colocaram-nas cueca adentro e, pernas para que te
quero, ligeiros para o Brasil, mais ligeiros para
Sertânia, aos festejos e comemorações —, vejam!
Ou, quem é sabe, os espanhóis enfiaram-lhes as
cochós selvagens, como se fossem as verdadeiras do
carmim — vaaápo! Eles lá, os espanhóis,
chapelões imensos, rindo de nós por muitos anos.
Hombres! ó! o! ó!
— Fazer o quê?
Repor a verdade histórica, pelo menos nisto:
ficarmos sabendo, como lição, a não repetir. Estou
colecionando todos os nomes, técnicos ligados à
Opuntia fícus-indica, a nossa palma gigante,
agora devastada pela praga da falsa cochonilha do
carmim.
Dentre os muitos a quem escrevi, Paulo Suassuna
respondeu uma verdadeira lição sobre a cochó
selvagem que transcrevo no final deste trabalho. Ele
é de opinião que as cochós da Borborema estão lá,
bem quietinhas, e não fazem mal a ninguém. É uma
outra variedade, diferente da cochonilha silvestre
mexicana, a feroz, a praga verdadeira que está a
acabar com tudo.
Paulo Suassuna é a favor da tese de que técnicos
(quem?) do IPA (?) trouxeram as cochós selvagens,
por baixo dos panos, do México:
O QUE EU ACREDITO: Vou dar a minha opinião em função
de longos debates que tive com os cientistas
mexicanos, chilenos e peruanos sobre esse assunto em
todos os congressos e missões internacionais que
pude participar de 2010 para cá. Duas hipóteses
podem ser tratadas com mais afinco:
A primeira delas é que, quando o IPA fez a
importação dos contêineres com as variedades de
palma vindas de diversas regiões do México, acredito
eu que foi em 1998, algum material pode ter vindo
contaminado e daí, houve a multiplicação natural
desse material acarretando no descontrole total da
situação.
A segunda é “trela de pesquisador”. Vai-se ao
México, visita-se uma unidade de produção da “Grana
Fina” (Dactylopius coccus), coleta-se uma
pequena quantidade do material infestante, que por
serem muito parecidas, para quem não entende, pode
vir das duas espécies (Dactylopius coccus e
Dactylopius opuntiae) e armazena-se numa “caixa
de fósforos”. Ao chegar ao Brasil, multiplica-se
usando a palma como hospedeira. Eis aí a salvação
para todos os nossos problemas!
Aqui vai uma explicação técnica: A velocidade de
propagação de Dactylopius opuntiae é muitas
vezes maior do que a Dactylopius coccus,
sendo assim, com o decorrer do tempo, a população de
Dactylopius opuntiae se sobressai à população
de Dactylopius coccus e então, depois de um
certo tempo, passou-se a se multiplicar apenas
Dactylopius opuntiae. Eis aqui o nosso
desmantelo!!! Para mim, essa última é a hipótese
mais plausível, primeiro porque o ministério da
agricultura não ficou sabendo de importação alguma
de “Grana Fina” feita pelo Brasil e depois, seria
muitíssimo pouco provável que os contêineres com as
variedades de palma fossem liberados da quarentena,
caso apresentassem qualquer tipo de anormalidade.
E, extremamente preocupante, conclui o doutor Paulo
Suassuna:
Como técnico que vive em função dessa cultura,
passei por momentos terríveis porque não tínhamos
conhecimento algum sobre a praga. Acredito que,
assim como eu, muitos pesquisadores, técnicos e
produtores rurais enfrentaram os mesmos problemas.
Até chegar à conclusão de que a solução está no
manejo de variedades de palma resistentes à
Cochonilha Silvestre, muitos litros de
defensivos ineficientes foram gastos e muitas
entradas nos hospitais com diagnósticos de
intoxicação por defensivos agrícolas foram
computadas.
O doutor Daniel Duarte Pereira, autorizadíssimo, me
respondeu:
“Acho a teoria da "CAIXA DE FÓSFORO" a mais
acertada... Quem foi? Dizem que sexo frágil...”
TEM JEITO?
Parece que
não tem não. Chegou a cochonilha ao seu plantio de
palma gigante? — é aproveitar o que puder para o
gado, arrancar e queimar. Por outra, experimentos
técnicos, depois do desastre, concluíram que a
palma miúda é cem por centro resistente à
falsa cochonilha do carmim.
O problema é que a palma miúda não é produtiva senão
na zona mais úmida, tipo agreste pernambucano e
nalgumas regiões de SE/BA, extremamente exigente em
termos de zoneamento de clima. Aqui, CE, Manoel
Belarmino está cultivando a palma miúda, próximo a
Pacatuba (maciço do Baturité), 100m de altitude,
vejam este exemplar, 14 meses, 22 kg, 72 raquetes,
um sucesso, vejam (é, sim, irrigada):
Manoel Belarmino, CE, palma
miúda. Definição de Nininho das Cabras, recorde
mundial: A palma é uma hortaliça!
A outra
opção, segundo os experimentos técnicos, é a
orelha de elefante mexicana, quase que cem
por cento resistente. Eu disse quase: de
fato, os experimentos de laboratório, realizados na
Paraíba
sobre a contaminação da cochonilha selvagem, indicam
uma imunidade de praticamente 100% à orelha de
elefante e imunidade total à palma doce também
chamada miúda.
— Palma redonda, gigante e outras
variedades? Consulte o especialista: é plantar e
perder; e se já plantou, aguardar o desastre, ou…
rezar.
Preventivamente, mandar arrancar? Não,
isto não! Se a falsa cochó ainda não chegou, pode
ser que demore mais alguns anos. Nesses quase vinte
anos, a área de destruição é imensa, mas ainda
restam palmas como essas de Jailton Lopes (BA), de
absoluta sanidade. Quem sabe, daqui uns dias,
descubram um combate biológico, químico, sabe-se
qual, e seja possível para conviver com essa maldita
cochó selvagem.
Em suma, plantio novo: procure a variedade
imune. Se está no local adequado, prefira a palma
doce; se está na zona mais rude, vá de orelha de
elefante.
Solução para a palma gigante, frente a
essa praga da cochó selvagem? Não, por enquanto não
há!
Consulte
os técnicos do trecho; grupos de WhatsApp,
partilhando conhecimentos sobre o cultivo da palma
forrageira: Cícero Barretto,
do Recife, e
José Santos,
de Ipiaú, BA. Vale participar. Irrigação? Sim, nem
que seja de pouca água. Faz a diferença.
A orelha de elefante
mexicana, produtor Joaquim Lucas, Terra
Nova, PE, Fazenda Riacho dos Cavalos, Rancho Dudé.
Variedade resistente à cochó selvagem. Substitui a
gigante, não é a mesma coisa, mas é melhor do que
nada. Quem sabe, o desastre não tenha sido ruim de
todo: renovação dos palmais envelhecidos, agora de
maior produtividade com o adensamento.
ERROS & NOMES:
Cumpre retificar o erro que corre solto em
todos os trabalhos técnicos, denominando a
cochonilha da palma gigante como cochonilha do
carmim. Está errado. “Cochonilha do carmim” é a da
variedade “cocus”, nada a ver com esta outra, que é
a cochonilha da Opuntia. Falam assim porque,
quando infectaram as nossas palmas com essa praga,
pensavam eles, lá neles, que faziam o bem, com a
carmim verdadeira, mas, lamentável, era a selvagem.
Afinal, o perigo de mexer com a Natureza,
sem medir as consequências:
“A cochonilha se
alastrou como praga no Nordeste brasileiro no ano de
1998, quando a Empresa Pernambucana de Pesquisa
Agropecuária (IPA) tentou inseri-la como uma opção
de renda para os agricultores do semiárido, uma vez
que o quilo da cochonilha seca pode chegar a custar
mais de US$ 18,00. Após dois anos do início das
pesquisas, o inseto começou a se disseminar no
município de Sertânia, próximo a Recife.
Agricultores locais acusam a empresa de trazer a
espécie errada de cochonilha e de abandonar a
pesquisa, o que causou uma grande propagação da
praga, afetando vários outros estados do Nordeste.
Este ato banal de transportar um pequeno inseto
de uma região para outra sugere uma reflexão acerca
das consequências de nossas pequenas ações. Ao
infetar a palma forrageira, podendo causar sua
morte, a cochonilha do carmim interrompe a cadeia
alimentar de homens e animais que dependem dessa
planta no período de seca nas regiões semiáridas
nordestinas. (A COCHONIHA VALE OURO, de Raquel Nava
Rodriguez, um livro de Arte, pág. 45).
Muito importante conversar com os que
compareceram às reuniões em Sertânia, coisa de vinte
anos. Com os fazendeiros de Serra Talhada e Soledade,
onde teriam colhido cochonilhas da quipá, como se
fossem as do carmim verdadeiras; também resgatar os
panfletos (referidos por Jarbas Vasconcelos) e os
jornais de então. Os fazendeiros de Monteiro também.
O presidente do IPA de então, agr. Gabriel Alves
Maciel, uma simpatia, prometeu resposta.
Nomes, aqui estão alguns. Não se faz
mínima acusação a nenhum deles, que fique claro.
Mesmo porque não acredito tenha havido má-fé. Com
certeza, apenas isto: a vontade de ajudar foi
tamanha que não fizeram a pesquisa sobre a tal cochó
selvagem.
Bem que podia ter dado certo.
É sair perguntando. Algum perigo em
responder? Não! Nenhum. Juridicamente falando, os
fatos, com quase vinte anos, já estão
alcançados pela prescrição, de modo que,
mesmo tivessem sido para prejudicar — que não o
foram! — já não há punição alguma, nem mínima
cobrança. Eis os especialistas, há muitos outros
(alguns já falecidos); antes que morramos todos, que
desta ninguém escapa, louvado seja!
·
Alexandre
Carneiro Leão de Mello
·
Alexandre
de Medeiros Wanderley
·
André
Pereira Freire Ferraz
·
Andréa
Guimarães Vieira de Vasconcelos
·
Antonildo
Campos Silva
·
Bergson G. Bezerra
·
Bismark Passos
·
Carlos
Henrique de Brito
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Daniel Duarte Pereira
·
Deise
Maria Passos da Silva
·
Djalma Cordeiro dos Santos
·
Domingos Lellis
·
Edson Batista Lopes (falecido)
·
Elaine Cristine S. Silva
·
Emerson Moreira de Aguiar
·
Erinaldo Viana de Freitas
·
Fernanda Daniele Gonçalves Dantas
·
Flávio Marcos Dias
·
Florisvaldo Xavier Guedes
·
Gabriel Alves Maciel
·
Geovan Batista
·
Geraldo Pereira de Arruda
·
Guilherme Ferreira da Costa Lima
·
Gustavo Q. Laurentino
·
Icaro Daniel Petter
·
Iderval Farias
·
Ivandro Oliveira Pinto
·
Ivanildo Cavalcanti de Albuquerque
·
Jacinto de Luna Batista
·
Joálisson Gonçalves da Silva;
·
José Carlos Batista Dubeux Junior
·
José Geraldo Eugênio de França
·
José Geraldo Medeiros da Silva
·
Jucilene S. Araújo
·
Lilia Willadino
·
Lindenberg L. da Silva
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Lucas Rodrigues Gomes
·
Lucía Claps
·
Luciano Patto Novaes
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Marcelo Carneiro Leão
·
Márcio Vieira da Cunha
·
Marcone C. M. Chagas
·
Margareth Maria Teles Rego
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Maria da Conceição Silva
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Mário de Andrade Lira
·
Mércia Virgínia Ferreira dos Santos
·
Nelson Papavero
·
Paulo Suassuana
·
Raquel Nava Rodriguez
·
Rêmulo Araújo Carvalho
·
Robson Silva Leandro
·
Sueni Medeiros Nascimento
·
Vanda Lúcia Arcanjo
·
Vanildo Leal Bezerra Cavalcanti
·
Vinícius Batista Campos
* Francisco José Soares Feitosa, 74, reside em
Fortaleza, CE. ff63ff@gmail.com
WhatsApp: 85.999.89.10.86
Respostas:
Daniel Duarte Pereira: danielduartepereira@hotmail.com
Em 29 de abril de 2018 12:08:
Louvado seja!
Caro Feitosa,
Uma produção de excelente qualidade em que pese a
temática “sanguinolenta”.
Algumas sugestões de correções de nomes científicos:
Opuntia ficus-indica (sem o acento no i de ficus);
Nopalea, Opuntia (o N maiúsculo, o O maiúsculo).
Corre à boca ou pequena ou à sorrelfa que realmente
teria sido uma introdução irregular ou errônea.
Vosmicê levanta não só a ponta do tapete como todo o
tapete.
Se possível insira a ação do INSA/MCTIC que, depois
do MVOP (década de 30) com os seus 200 campos de
palma gigante, foi responsável só na Paraíba por 26
campos de produção e pesquisa de 1,0ha cada,
resultado: mais de seis milhões de raquetes
distribuídas (doce, baiana e orelha) e mais de cinco
mil agricultores atendidos. Assim se estancou a
hemorragia pelo menos na Paraíba.
Sobre
Delmiro o mesmo introduziu com força a palma miúda
(importou um navio carregado). A cochonilha teria
sido os Lundgren para tingimento dos tecidos. Os
Lundgren teriam introduzido a “cochó” mansa sem
sucesso... Talvez clima... Litoral?
Acho a teoria da "CAIXA DE FÓSFORO" a mais
acertada... Quem foi? Dizem que sexo frágil...
Grato pela inclusão do nosso nome.
Do vosso menor criado
Daniel Duarte
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