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Novidades da semana
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Página atualizada em 2.10.2000
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As orelhas do Pimenta ao som das violas virtuais
Sumário da Peleja
  1. As orelhas do livro de Daniel Piza
  2. A notícia da Vejinha, São Paulo
  3. A notícia da Época
  4. A reação do Daniel
  5. A opinião dos leitores
  6. Miguel Sanches Neto comenta o livro de Daniel

 
 
 
 
 
 
 
 
 

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As orelha decepadas
Íntegra do texto escrito por Pimenta Neves para o livro de Daniel Piza
 

"Daniel Piza é um jovem raro. É um dos poucos que escaparam da síndrome de sua geração, dominada pelo obscurantismo da ditadura militar e pelo obscurantismo dos patrulheiros que se opunham ao regime inaugurado em 1964. A ditadura foi embora, mas a burrice da esquerda permaneceu, quase intocada, mesmo depois do desmanche da União Soviética (a China passou um pouco da moda depois de seu namoro com o capitalismo, mas Fidel Castro ainda atrai turistas políticos ao parque jurássico que dirige). Piza é raro também porque é um jovem culto, que trata com a familiaridade de um velho os textos de Nabokov, Wilson (não o presidente, o outro), Pound (não é a moeda inglesa), Eliot. Por sorte, leu mais os autores de língua inglesa do que os franceses, o que explica por que escreve tão bem. Piza conhece artes plásticas e música erudita, encontra tempo para chat na internet com seus muitos leitores e domina o computador como um desses nerds de Hollywood. Sua coragem intelectual é considerável, ou não enfrentaria o ódio da oposição todas as semanas em sua coluna no Estado. Eu o conheci e contratei na Gazeta Mercantil por recomendação de meu saudoso amigo Paulo Francis, que o considerava uma esplêndida promessa. Piza, contudo, não prometeu nada. Chegou entregando. Se continuar assim, corre o risco de dar um bom nome à sua geração."

Antonio M. Pimenta Neves 

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O escritor Daniel Piza


Revista  VEJA, edição Vejinha, São Paulo:
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"À maneira de Van Gogh
 

"O jornalista Daniel Piza mandou cortar as orelhas de 3.000 exemplares de seu livro Questão de Gosto, lançado nesta semana pela editora Record. O texto, com elogios ao autor, era assinado por Antonio Marcos Pimenta Neves, o ex-diretor do jornal O Estado de S.Paulo que matou a ex-namorada, Sandra Gomide. Segundo Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, Piza tentou eliminar também, sem sucesso, a página de agradecimentos, em que menciona Pimenta. "Não teria credibilidade uma orelha assinada por ele", diz Piza. "Profissionalmente, porém, continuo sendo-lhe muito grato." 

Página de Daniel Piza
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O escritor Daniel Piza

Revista Época (Robson Fernandez)

 
Revista ÉPOCA:
LIVROS - ENSAIO

Gosto sem discussão

Coletânea de artigos do jornalista Daniel Piza traz análises e julgamentos definitivos a respeito de tudo 
 
 
 
  

"Civilização é poder ler Proust, Mann ou Joyce
no oiginal", escreve Piza, referindo-se ao francês Marcel Proust, ao alemão Thomas Mann e ao irlandês James Joyce.

 

Textos opinativos sempre revelam muito sobre os autores. Não é diferente com Questão de Gosto, de Daniel Piza, editor-executivo de O Estado de S. Paulo. O jornalista selecionou 68 artigos publicados no jornal Gazeta Mercantil e nas revistas Bravo! e República. Promove um desfile de elucubrações sobre arte, cultura, futebol, física quântica, amor, sexo, vida e morte. Piza tem opinião formada sobre tudo. Usa as análises professorais como uma lanterna para os leitores mergulhados nas trevas aprenderem a ter espírito crítico. Revela inconformismo com a anemia intelectual dos jornalistas e oferece a própria erudição para corrigir interpretações diferentes das suas. Emite julgamentos estéticos como se tratasse de uma ciência exata. O elitismo dá o tom.
 

  • Título: Questão de Gosto
  • Autor: Daniel Piza
  • Editora: Record
  • Preço e páginas: R$ 40/390
As reflexões do livro carecem de humor e ironia. Buscam ângulos originais para temas variados, mas, curiosamente, os bons momentos concentram-se em textos menos provocativos, como na análise dos auto-retratos de Rembrandt: “Autoconhecimento é o mais difícil dos conhecimentos e nenhum pintor equacionou a questão como ele”, escreve. 

Aos 30 anos, Piza age como um juiz, com direito à martelada definitiva. Define a obra de Goethe como “exercício de vaidade”. Clarice Lispector é considerada autora de slogans existencialistas. A maior parte da poesia de Manuel Bandeira e de Carlos Drummond de Andrade é comparada a versinhos de cartões perfumados. Na ótica de Piza, gosto não se discute, impõe-se. Esse tipo de postura é reverenciado pelo jornalista Antonio Pimenta Neves, assassino confesso da ex-namorada Sandra Gomide, no texto da orelha do livro – retirado da edição a pedido do autor e reproduzido ao lado.
 

 
Página de Daniel Piza
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A reação de escritor Daniel Piza
"Por que não me ufano: A revista-almanaque Época publicou resenha sobre meu livro Questão de Gosto, assinada por um tal C.E., na semana passada. C.E. não encontra ironia e discussão nas quase 400 páginas do livro, o que recomenda consulta oftalmológica imediata. Acha que me ofende por me chamar de elitista, mas não sabe que os grandes críticos culturais - de Samuel Johnson a Otto Maria Carpeaux - foram chamados de elitistas. Em capachismo explícito, destaca e distorce os julgamentos mais incisivos de meus textos, ignorando os fundamentos que os sustentam, e amontoa adjetivos e paralelos no seu, sem argumentar. Não à toa ninguém se lembra de nenhum texto que C.E. tenha escrito". 

(O Estado de São Paulo, caderno 2, de 1.10.2000)

          "Aforimos sem juízo: A única forma de lealdade é a mútua".

(O Estado de São Paulo, caderno 2, de 8.10.2000)



Notas do JP:
O "tal C. E." é o jornalista Cléber Eduardo, da revista Época.
Página de Daniel Piza
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Miguel Sanches Neto
<msanches@pr.gov.br>
CONTRA O MAL-ESTAR DA MEDIOCRIDADE


Gazeta do Povo, 
Curitiba, PR, 14.10.2000
CADERNO G
Reunião de ensaios de Daniel Piza traz uma de nossas mais coerentes vocações críticas
A idealização é o principal recurso de uma sociedade em que imperam o poder da midia e a ética do consumo. E é contra ela que se ergue o crítico, este animal deslocado em culturas que se perderam no jogo de reflexo das vaidades fáceis. Se a grande maioria dos produtores culturais está buscando confirmação no outro e confirmando-se nele, nem que para isso tenha que negar de forma agressiva o diferente, o crítico será sempre um estraga-prazeres. Tal posição, no entanto, é que determina a sua importância numa era em que poucos distinguem a distância entre a arte e o artefato. 

Crítico renitente, Daniel Piza sistematiza uma súmula de sua reflexão sobre cultura em Questão de gosto (Record, 2000), livro em que avulta a sua opção por uma visada ?clássica? (palavra que uso aqui sem nenhum sentido epocal ou estilístico) das manifestações de arte, assumindo que é movido por uma questão de bom gosto, já que toma como repulsivo tudo que há de epidérmico na cultura, mesmo que venha com a mais respeitada das grifes e no mais requintado pacote. Piza é antes de tudo um espírito independente, para quem não pesam os princípios limitadores que configuram o nacionalismo, a vanguarda, as minorias sexuais, a sociologia etc. 

Observando tudo de um mirante fincado além da língua e da nação, que alguns tomam por excessivamente elitista e cosmopolita, ele consegue o distanciamento cada vez mais raro em intelectuais comprometidos com o calor da hora e das conveniências. O seu cosmopolitismo, dessa forma, tem um sentido positivo por livrá-lo do pensamento de confraria característico de nações periféricas e ressentidas, prontas para uma auto-mitificação que lhes concede a ilusão da perenidade.

Entrando em cena nos anos 90, Daniel Piza rompeu com os valores da contracultura, que ainda habitam o centro do campo do poder, reestabelecendo padrões de exigência de qualidade e se insurgindo contra as leituras muito coladas ao agora. O seu lugar geométrico é a fronteira entre a tradição e as manifestações atuais, como confessa na introdução: ?tentei tratar da cultura com um olho na herança e outro no presente? (p.14), posição reforçada páginas adiante por uma declaração de Octavio Paz, para quem ser culto é pertencer a todos os tempos e lugares sem deixar de pertencer a seu tempo e lugar. Esta dupla latitude vai ser responsável por um recorte desmistificador das percepções equivocadas dos sectários do presente. Na primeira parte de Questão de gosto, o autor nega a falácia da contracultura e propõe uma conexão com a civilização que, segundo um aformismo, é ?não ser considerado elitista por gostar do que uma minoria gosta, nem pretensioso por ser inconformista? (p.65). 

Quem assume este ponto de vista enraizado na tradição tende, naturalmente, a pensar o aqui e o agora pelo seu potencial de transcendência histórica. O hoje tem que ser um legado transmissível. Ao interpretar o Brasil, Piza recusa o que ele chama, corretamente, de mitos paralisantes (tais como a antropofagia, Zé Celso, Glauber Rocha, poesia concreta e Oiticica), sustentados pelo clubismo que nos caracteriza. 

Daí a literatura brasileira aparecer centrada em seu maior nome, Machado de Assis, uma espécie de mito fundador da grande literatura produzida no país, por sua aversão a posições extremadas e esquemáticas, o que lhe possibilitou uma condição intermediária entre a herança européia e a vivência da situação colonial do país, fonte de um estilo de ironias e de permanente questionamento. A despeito desta característica de nosso maior escritor, a crítica machadiana vem tentando simplificar a leitura de sua obra, colocando-se sempre num de seus pólos, o que é mais um sinal do primarismo do pensamento brasileiro, incapaz de perceber este meio-termo que, segundo Piza, é a marca inconformista de Machado. 

Ao analisar a literatura brasileira pós-Machado, o autor persegue justamente aqueles que souberam descender deste olhar desconfiado do país, elegendo uma linhagem que passa, entre outros, por Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto. Ao mesmo tempo, ele recusa certas posições vinculadas demais ao dado local ou ao elemento externo, cujos representantes típicos são, respectivamente, Mário e Oswald de Andrade. Mesmo um Manuel Bandeira e um Vinicius de Moraes teriam se entregado de forma um tanto simplista, em alguns momentos de suas obras, aos valores do cotidiano. E Clarice Lispector seria por demais simbolista e imprecisa, destinada a um consumo sectário, principalmente pelas meninas, gays e professoras de literatura, não conseguindo atingir uma posição ?clássica? (novamente entre aspas), indispensável em uma literatura que se queira universal. 

É um classicismo moderno exemplar que ele encontra em um João Cabral, tão pouco compreendido por seus acólitos: ?como os melhores criadores do país, ele soube resistir à carnavalização e ao cartesianismo, e, na adequação elíptica entre expressão e construção, foi um grande poeta brasileiro moderno? (p.165).

Tratando também da literatura internacional, Daniel Piza recoloca em termos corretos obras de grandes autores treslidos no Brasil, como Pound, Joyce e Eliot. Porque um de nossos males é fazer leituras viciadas, reduzindo os mestres a pequenas dimensões para justificar nossa própria produção. O caso mais gritante é a leitura concretista de Pound, transformado em ícone da mística do novo, quando sua obra prioriza justamente o contrário: ?o que Pound está defendendo não é o novo pelo novo, o novo como ruptura, o novo nascido do oco - mas o novo nascido da tradição, reescrita, repensada, retrabalhada, o novo que continua o que foi feito de melhor antes?(p. 237). Mais adiante, depois de mostrar os equívocos vanguardistas sobre a obra deste autor, Daniel conclui: ?o que ele mais amou foi sua verdadeira herança, a tradição viva e suas chamas ainda por conquistar?(p. 243). O mesmo processo de limpeza dos preceitos críticos agregados a obras fundamentais desta modernidade clássica se dá com relação a Volpi, um pintor que teve o sentido de sua produção apropriado indevidamente. Piza restitui-lhe a espessura humana, tirando-o do limbo dos formalistas ao interpretar suas bandeirinhas antes como ?emblemas de uma arte que busca a alegria infantil, não pura mas descompromissada, que é lembrada em festas populares?(p.268), do que como representação extrema da depuração artística e da gratuidade do grafismo, tal como querem os concretistas. 

Tanto nas artes plásticas como na literatura, Piza se posiciona contra os vanguardismos vazios, os modernismos modorrentos, as rupturas cegas, os modismos da era da publicidade, crente no poder perenizador da grande arte - sentido histórico da existência do homem enquanto animal cultural.

Dono de um estilo decidido, de uma cultura universal sem ser pernóstica e de uma linguagem aberta, Daniel Piza, com este livro, devolve ao crítico a sua grandeza na cultura brasileira, vendo-o como um profissional que se aproxima e se distancia do objeto de análise, conquistando este meio-termo civilizado, sem o qual não existe reflexão isenta e nem possibilidade de juízo sério. O grande segredo é possuir esta coisa rara em nosso jornalismo: a inteligência, definida em um de seus aforismos sem juízo, como a capacidade de ser seletivo sem ser discriminatório.

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