Deborah Dornellas
<ddornellas@uol.com.br>
Meu nome é Deborah
Dornellas. Acabo de completar quarenta anos. Touro no Zodíaco, Javali
no chinês.
Nasci no Rio, mas aos dois
anos mudei-me com meus pais para Brasília, então uma vila
em construção. Ruas de terra, poeira, seca, árvores
e grama. Um imaginário diferente e rico, que eu levava todas as
férias para o interior de São Paulo, onde invaria-velmente
as passava com os avós maternos. Minha vivência foi híbrida,
interiores anti-gos e cidade com pretensões de modernidade. Tudo
isso ficou vincado.
Em 1977, fui de mala e cuia
para Campinas, mais para matar a curiosidade de uma vida diferente do que
propriamente para estudar. Morei lá durante cinco anos, parte dos
quais num pensionato para moças, cuja memória sempre volta.
Formei-me em Le-tras em 81, não sem antes trancar matrícula
e voar para Recife, a eterna revisitada, onde pretendia – e ainda pretendo
– morar. Não consegui ficar mais que dois meses.
Em 85, virei produtora de
shows, divulgadora de duas gravadoras pequenas e tudo mudou. A música
entrou na minha vida pela porta da frente. Nunca mais saiu. Dez anos eu
fiquei nessa. Produzi muita gente boa antes da fama, como a Cássia
Eller, uma das mais verdadeiras intérpretes e pessoa da maior qualidade.
Nesse tempo, resolvi fazer faculdade de Comunicação e, de
repente, entre umas e outras, fiquei jornalista, cheia de amigos bacanas
e boas oportunidades profissionais. Voltei para Sampa, morei de novo no
interior, trabalhei em casa noturna, tive jornal e paixões. Na capital,
estudei música, trabalhei na Contigo, fiz mais amigos e cultivei
outras paixões. Escrevi a maior parte dos poemas publicados aqui.
Num feriado, voltei ao Planalto,
conheci meu marido, vim morar de novo na capitá federá, casei
e tive uma linda filha em 97. O maior tesouro de todos.
No começo de 99, iniciei
mestrado em História na Universidade de Brasília. Meu trabalho
é sobre cultura popular nordestina, especialmente a de Pernambuco,
eter-namente revisitado. Escrevi sempre, como quem respira.
A Poesia de Deborah Dornellas:
A mulher possível
Eu sou a mulher possível.
A que limpa os excrementos
e varre a sala.
Que tem noção
das coisas,
que fala.
Que enxerga fundo
e se cala.
Eu sou a mulher possível.
Não a musa inatingível.
Quero o homem
no afeto construído,
no encanto renovado,
do amor tangível.
Eu sou a mulher possível.
O que ofereço é
verdadeiro
e crível.
Meu desejo é incontível.
E mesmo assim,
mesmo não cabendo
em mim,
eu sou a mulher possível.
Nua
O encanto quebrou-se.
E de repente eu era
uma mulher nua,
seios à mostra,
no meio da grande praça,
para escárnio de
todos.
Uma mulher antiga
de belas formas
e coração
puro,
a quem tudo fere de morte.
Como uma flecha
ao fruto maduro.
Conjugação
Amor é particípio
Infinitivo infinito
Verbo substantivo
Presente do passado ativo
Ontem morto
Hoje vivo
Amanhã, outro motivo.
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