Délio Rocha
Histórias de Adísia
28 de Novembro de 2005
Quem imagina Chaplin sem o personagem Carlitos? Pixinguinha sem o
sax? Pelé sem a bola? Chico Buarque sem a música? É difícil
dissociar. O mesmo vale para Adísia Sá e o jornalismo. E agora,
quando completa 50 anos de batente, de luta e letras, ela é
homenageada com um livro biográfico. “Adísia Sá, uma biografia”
revela uma mulher apaixonada pelo jornalismo, mas também pela vida,
pelas coisas simples, pelo bom combate.
O livro oferece, ao leitor, a
oportunidade de conhecer histórias que Adísia Sá não revelou em seus
50 anos de jornalismo. Passagens da infância em Cariré, da juventude
em Sobral, da maturidade em Fortaleza, da mulher que personifica o
jornalismo cearense. São relatos que transcenderam a monografia de
conclusão de curso da jornalista Luiza Helena Amorim para ganhar as
páginas de um livro bem ilustrado de 128 páginas.
“Eu tinha a idéia de fazer um
livro-reportagem e descobri que, sobre a Adísia Sá, só existiam
coisas fragmentadas. Então veio a decisão de escrever sobre ela”,
explica Amorim. Primeiro veio a monografia, em 2004. Um trabalho
que, um ano depois, seria premiado com o terceiro lugar na categoria
livro-reportagem, no 12º Expocom, no Rio de Janeiro. “Com o prêmio,
recebido em setembro deste ano, resolvi transformar meu sonho em
realidade. Foi aí que decidi editar o livro”, diz a autora.
E o que se descobre, logo no início da
biografia, é que Adísia Sá sempre foi uma mulher a frente de seu
tempo. Na época em que as mulheres recebiam educação para ser dona
de casa, ela representava uma voz dissonante na ala feminina de sua
geração. Certa vez, quando dava seus primeiros passos na escola,
viu-se diante de uma pergunta lançada para todas as meninas da sala
de aula: “O que vocês querem ser quando crescer”. Enquanto as outras
meninas falavam de casamento, filhos, de prendas do lar, ela
revelava o sonho de ser jornalista e escritora.
Adísia gostava tanto de escrever, que
incomodava o irmão Arlindo. “Quantos quilos você já escreveu hoje?”,
perguntava ele, em tom de provocação. Os “quilos” de escrita,
invariavelmente, traziam notícias sobre o mundo de Adísia, que, na
época, não ia muito além da comunidade.
Na biografia, Adísia revela ter sido
incentivada pelo pai, Seu Zeca, na paixão pelo jornalismo. “Ele
gostava de ler e era um excelente contador de histórias”, recorda. A
mãe, no entanto, tinha outros planos para a filha caçula. “Ela
queria que eu fosse parideira”, conta, com bom humor. São relatos
como estes que fazem a riqueza da biografia escrita por Luiza Helena
Amorim. Relíquias fotográficas também valorizam a obra.
O resgate, em livro, de uma trajetória
tão bonita encheu de orgulho Adísia Sá. “É uma coisa extraordinária.
Tudo que podiam me oferecer depois, estou recebendo agora, em vida,
quando estou lúcida e em plena atividade. E a autora do livro é uma
jovem muito bem preparada, que não foi minha aluna. Melhor assim,
para que não venham dizer que a autora é suspeita para falar de
mim”, diverte-se.
A linguagem intuitiva e com forte
influência do jornalismo literário dá o tom do livro, que oferece
uma imagem ampliada de Adísia Sá. “É um perfil intimista, que vai
além da pessoa pública”, justifica a autora. A obra revela o lado
humanístico de Adísia Sá, histórias do cotidiano de sua fase
anterior ao jornalismo e traz fotos de várias fases de sua vida. Ao
ler o livro pela primeira vez, ela mostrou coerência. A jornalista,
que sempre lutou pela liberdade de imprensa, não fez qualquer
censura ao que estava escrito. “Ela apenas corrigiu algumas
informações”, informa Amorim.
Segundo ela, o livro não foi
construído em cima de elogios exagerados. “Fujo do mito, busco outra
Adísia Sá. Não a mulher pública, mas a Maria Adísia de Sá, em sua
gênese e metafísica. Procurei, então, a Adísia nas entrelinhas da
palavra - muito além de suas palavras. Percebendo, algumas vezes,
num fiapo de voz, uma fresta para a alma. Lia seus gestos, vestígios
de sua personalidade pela casa, escutando suas reminiscências vindas
ao acaso”, comenta a autora, na apresentação do livro.
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de Adísia Sá
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de Luiza Helena Amorim |