Aristides Theodoro
Dimas Macedo e o seu modo singelo
de bem escrever
Li de maneira desordenada alguns dos
principais livros do escritor cearense, Dimas Macedo, assim que ia
tomando conhecimento do que a mim era enviado. E foi dessa maneira,
que li Estrela de Pedra, poesia, 1994; Liturgia do Caos, poesia,
1996; A Distância de Todas as Coisas, poesia, 2001; Tempo e Antítese
– A Poesia de Pedro Henrique Saraiva Leão 1997; Crítica Imperfeita,
2001; A Obra Literária de José Alcides Pinto, 2001; Martins Filho e
Joaryvar Macedo, 2002; Crítica Dispersa, 2003; Ossos do Ofício,
1992; Leitura e Conjuntura, 1995; e, por último, Vozes do Silêncio,
2003.
Padrão de Brasil, onde o escritor não
passa de um marginal e não recebe nenhuma espécie de apoio ou
estímulo oficial, esse bravo cearense de Lavras da Mangabeira é um
caso raro de pertinácia em nosso meio. É de certa forma um nome já
bastante conhecido e respeitado fora do seu Nordeste e um homem
apegado à sua gente, isso é, sempre investigando as obras dos seus
conterrâneos, a fim de tecer considerações e estimulá-los no tocante
ao difícil ofício de escrever.
Como crítico literário, Dimas Macedo
não é dado a falsos elogios. Pelo contrário, é um analista comedido,
que sabe dosar bem as palavras e as emoções, dizendo apenas o
estritamente necessário para o entendimento dos livros e dos
autores. Alguns dos seus ensaios, tais como os dedicados à prosa
límpida do piauiense Assis Brasil, em Ossos do Ofício; “Literatura
Feminina Cearense – Uma Introdução”, em Crítica Dispersa; e “Fios de
Linguagem”, do livro Crítica Imperfeita, entre outros, são trabalhos
que fariam a glória de qualquer estudioso de literatura. Trata-se de
um crítico honesto, criterioso, que, mesmo quando fala
dasabonadoramente dos patrulheiros ideológicos e dos panfletistas
(formas mesquinhas usadas e abusadas em nossos dias por alguns
representantes das novas gerações, a fim de esconder a falta de
talento), mesmo assim, Dimas consegue sair ileso, dizendo o que
pensa, de maneira sutil, sem dar margem a polêmicas estéreis com
seus criticados.
Em Tempo e Antítese, Dimas levantou um
monumento singular sobre a vida e obra do poeta concretista
cearense, Pedro Henrique Saraiva Leão, que leva o pesquisador e o
leitor a sair feito doido, de livraria em livraria, à procura da
obra do escritor focalizado, inutilmente, por falta de visão e de
uma política cultural inteligente, que distribua obras de escritores
brasileiros de Norte a Sul do País. O mesmo sentimos ao nos
debruçarmos sobre Martins Filho e Joaryvar Macedo e A Obra Literária
de José Alcides Pinto, livrinhos de poucas páginas de autoria de
Dimas Macedo, porém inquietantes, onde o observador é levado a
conhecer as obras dos escritores ali apresentados pela ótica do
grande exegeta das letras cearenses.
O poeta Dimas Macedo é muito bem visto
pelos seus pares. Autor de uma poesia carregada de temas sociais e
de um certo prurido de misticismo, é um desses representantes da
nova poesia, que dignifica o que ora se produz na área em todo o
Brasil. O romancista e também poeta José Alcides Pinto, falando
sobre a poesia de Dimas Macedo, assim se expressou: uma obra “que se
reveste de grande importância no panorama da poesia brasileira
contemporânea”. Francisco de Carvalho, endossando as palavras de
Alcides Pinto, acrescentou: “O artesanato dos seus poemas está
seguramente comprometido com as exigências da modernidade
literária”. Portanto, uma poesia inquieta e inquietante, que leva o
leitor a pensar o texto macedeano com seriedade.
Possuo uma bem nutrida Biblioteca, com
farta literatura do mundo inteiro e, diariamente, após
aposentadoria, não faço outra coisa a não ser ler e escrever e
confesso, sem a menor cerimônia deste mundo, que foram bem poucos os
autores dos quais li todas as obras, que tomei conhecimento. Dimas
Macedo é um desses privilegiados, isto pela natureza instigante dos
seus escritos, dos quais se sai engrandecido e com vontade de quero
mais. Dimas é desses autores que escreve muito, em vez de sair por
aí blasonando e cagando regrinhas pernósticas, chatíssimas,
idiotíssimas sobre o fazer poesia. Fico por aqui, torcendo pelos
seus textos ficcionais de há muito prometidos em alguns dos seus
escritos.
Dando-se crédito a Ernesto Sábato, em
O Escritor e Seus Fantasmas, de que “esta é uma época de crise, mas
também de julgamento que resgatará sua unidade perdida”, podemos
afirmar que a obra de Dimas Macedo, como um todo, é um desses
instrumentos que ajudará o leitor moderno a resgatar esse elo
perdido, do qual nos fala o grande argentino morto recentemente.
A Voz de Mauá,
Mauá/SP, 4/3/2005.
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