Já é de conhecimento público que a capital Moçambicana é a cidade de
Maputo que tem o estatuto de província. O que ao meu ver pressupõe
mais confusão na cabeça das pessoas. Uma vez que o cidadão maputense
para além de urbano/suburbano misturado com o tradicional africano,
passa a ser também provinciano.
Como provinciano que já sou, para além de frequentar a missa aos
domingos, consulto a minha curandeira aos sábados. E acredito que a
maioria do cidadão maputense é assim como eu. Aliás essa é uma das
particularidades que torna a nossa capital uma cidade diferente das
outras. Embora tenhamos muitos outros pontos em comum que concorrem
para o nome cidade.
Mas como o título sugere, vou falar do conselho que a minha
curandeira deu-me no último Sábado que lá fui.
Com efeito, quando cheguei a casa da curandeira, parecia que estava
a começar o atendimento pela primeira vez. Tinha a sensação que ela
acabava de vir da lagoa, onde aliás havia permanecido durante um ano
aquando do seu desaparecimento.
Ela estava sentada numa esteira na sala de espera. Tinha missangas
quase em todo o corpo. Estava semi-nua revelando algumas tatuagens
de enfeite privado. Tive vontade de tocá-la mas ao mesmo tempo o
medo se apossou sobre mim.
Só agora é que percebo que ela já tinha sentido a minha tentação.
Mas que importa!
Ora bem, a curandeira fitou-me os olhos e disse-me “nunca te deixes
levar pelos curandeiros. Nós trabalhamos com espíritos. O nosso
serviço basicamente resume-se a gestão espiritual. Lidamos com
alguns espíritos bons e a maioria maus. O que nós fazemos geralmente
é tirar espíritos maus das pessoas e passámo-los para as outras
pessoas. O que se verifica constantemente na nossa sociedade é que
as pessoas nos consultam com determinada enfermidade espiritual e
nós tiramos o espírito mau e trocámo-lo por outro doutra pessoa que
não tem essa enfermidade espiritual mas tem outra ou outras
enfermidades. Digo-lhe ainda mais, as enfermidades espirituais
muitas das vezes são hereditárias. Tu podes pensar que estás bem
hoje. Mas na segunda ou terceira geração da tua linhagem a vida
familiar se complica. Por isso, meu estimado companheiro. Meu
querido irmão, não te deixes corromper por nós. Pois, o curandeiro
hoje em dia não difere dos médicos que te transmitem outras
enfermidades ao tentar curar uma...”
Naquele Sábado ela falou de muitas coisas que eu não conseguiria
transcrever ao papel. Ela interpretou muitos fenómenos que os
filósofos nunca se aperceberam.
A princípio não entendi porque é que me estava a dizer tudo aquilo.
Em instantes cheguei a pensar que me quisesse passar o testemunho.
Mas ao mesmo tempo não me via a viver cerca de um ano debaixo da
água. Não me via a abandonar os semáforos, as discotecas, os
prédios, os “shoppings”, entre outras coisas.
Entretanto, graças a Deus, ela não me estava a passar o testemunho
muito menos tinha essa intenção. Apenas estava a me preparar para eu
poder suportar a vida nessa selva urbana que é a cidade de Maputo.
Estava a preparar-me para aguentar a vida nessa cidade das acácias!
Pois, dias depois vim a saber que ela se ausentou do mundo visível e
foi viver encima das árvores.