A poesia não habita
as coisas - ela as toca. Então tudo pode servir de matéria
para o poema. Mas e a voz da poesia ? Assim plural, mutante ubíqua
até - ora aqui, ora ali e aqui e ali a um só tempo - deter-se-a
essa voz além de um sopro ?
Muito bem achado o título
deste livro de Luiz Edmundo: SOPRO. Não sendo uma voz, um sopro
faz parte de todas as vozes. Daí fraglar Luiz o respirar da poesia,
dentro de si, na contextura de "um silêncio incômodo, algazarra
clandestina, uma lua, dois desejos e também guitarra, foice, coice"como
nos revela em instantâneo.
A maioria de nós, em
seu colóquio com a vida, fala o tempo todo. Os poetas não.
Os poetas sobretudo a escutam. E porque afinam seus ouvidos nessa escuta,
são capazes de perceber o roçagar da poesia mesmo nas dobras
dos silêncios. Se lhes damos atenção, repassam-na
a nós, menos na fala das palavras, do que no sopro mágico
que as volatiliza, em toque de flor, "na temperatura exata para um incêndio". |