Luis Edmundo Alves

Lamento Neo Romântico


meu mal é amar esta cidade/ neon/ vertigem/ cachaça.
meu mal é não ser nenhum rimbaud/ é ser como sou
um de seus poetas/ anônimo e incurável.
um de seus três milhões de habitantes.
meu mal é igual ao de outro alguém que nem sequer conheço
que habita outra rua, outro bairro e no entanto se parece
muito comigo: seu andar, seu olhar faiscante, seu gosto por
músicas/filmes/livros/lugares
igual/igual.
meu mal é saber que muito provavelmente eu e esse outro
alguém jamais nos encontraremos para tecer o fabulário de
nossas semelhanças, anônimos que somos/incuráveis
embaralhados.
cada um em sua própria/com seu mal
cada um
sem igual
igual.

 

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Luis Edmundo Alves

Máscaras


não é sempre que consigo
ser eu mesmo, ás vezes
sou outro, irreconhecível
zonzo de existir assim
outro
não o mesmíssimo
apesar da face
das mãos e olhos
do hálito da boca
apesar de tudo

outro
outro dentro de mim
um guerreiro angustiado
sem armas adequadas
de mãos atadas
herói capturado

 

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Luis Edmundo Alves

Aniversário


cada momento vivido
é um pedacinho que
se perde.
como sentir o tempo ?
cada momento vivido
é um pedacinho que
se ganha.
como fixar o tempo ?

as articulações
rígidas do tempo
rugas na face

as reinvenções
diminutas do tempo
infância na memória

 

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Luis Edmundo Alves

Poética


não raro
poesia é arte
de revirar o
sonho da noite
anterior
e
desdenhar o
barulho da
manhã seguinte.

 

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