Fernando Ferraz
Roteiro de Dimas Macedo
Natural de Lavras da Mangabeira (CE),
Dimas Macedo é professor da Universidade Federal do Ceará,
Procurador do Estado do Ceará e membro da Academia Cearense de
Letras. São de sua autoria os seguintes livros de poemas: A
Distância de Todas as Coisas (1980; 3ª edição: 2001), Lavoura Úmida
(1990; 2ª edição: 1996), Estrela de Pedra (1994; 2ª edição: 2005),
Liturgia do Caos (1996) e Vozes do Silêncio (2003).
Como jurista e cientista político,
publicou: Política e Constituição (Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris,
2003). E no campo da crítica ou do ensaio, é autor de: Leitura e
Conjuntura (1984; 3ª edição: 2004), A Metáfora do Sol (1989; 3ª
edição: 2003), Ossos do Ofício (1992), Crítica Imperfeita (2001) e
Marxismo e Crítica Literária (Florianópolis, 2001).
Dimas Macedo integra o Conselho
Editorial de vários jornais e revistas culturais: Espiral e
Literapia (Fortaleza), Literatura (Brasília) e Morcego Cego (Santa
Catarina), entre outros. Compõe também o Conselho Editorial das
Edições da UFC, o Conselho de Publicações da Editora Códice e o
Conselho Editorial do Museu – Arquivo da Poesia Manuscrita.
Participou, com poetas e estudantes do Curso de Direito da UFC, da
criação da revista e do movimento literário Molec.
Poemas e textos literários de sua
autoria foram vertidos para o inglês e o espanhol e publicados em
Portugal, Espanha, Inglaterra, Argentina e Estados Unidos, tendo
trabalhos de sua autoria divulgados nos principais jornais e
revistas do Ceará e do Brasil. A sua produção no campo da cultura
literária ou da reflexão filosófica abrange um conjunto de trinta
livros editados e mais de trezentos artigos, versando a maioria
deles sobre literatura e autores de língua portuguesa.
Desenvolvendo uma intensa atividade
literária, cultural e artística, que se projeta no campo editorial e
na área da defesa da cidadania e da justiça, Dimas Macedo, além do
livro Política e Constituição, acima referido, publicou o livro A
Face do Enigma (2002), este último sobre a trajetória biográfica e a
obra literária do grande escritor cearense José Alcides Pinto.
Presidente da Comissão de Direito Ambiental da Procuradoria Geral do
Estado do Ceará e membro da Comissão de Direitos Humanos, da
Comissão de Estudos Constitucionais e Vice-Presidente da Comissão de
Ensino Jurídico da OAB-CE, Dimas Macedo tem artigos publicados em
revistas jurídicas especializadas, entre elas, a revista Nomos, do
Curso de Mestrado em Direito da UFC; a Revista de Humanidades, do
Centro de Ciências Humanas da UNIFOR; a Revista de Informação
Legislativa, do Senado Federal; a Revista da Faculdade de Direito da
UFC; a Revista dos Tribunais – Cadernos de Direito Constitucional e
Ciência Política, da Editora RT; e a Revista Trimestral de Direito
Público, da Editora Malheiros, São Paulo; sendo ainda autor dos
livros Ensaios de Teoria do Direito (1985), O Discurso
Constituinte/Uma Abordagem Crítica (1987), ambos já em segunda
edição, e Pesquisas de Direito Público (2001), onde discute,
respectivamente, temas de Filosofia do Direito, Sociologia Política
e Direito Constitucional.
Na área específica da Pós-Graduação,
além do Mestrado em Direito da UFC, tem lecionado as disciplinas
Teoria do Estado, Organização Federativa do Estado e Normas e
Princípios Constitucionais, nos Cursos de Especialização em Direito
Tributário e Direito Constitucional, na Universidade de Fortaleza;
Processo Constitucional e Teoria dos Direitos Fundamentais nos
Cursos de Aperfeiçoamento de Magistrados e Pós-Graduação em Processo
Civil, na Universidade Federal do Ceará; e Direito Constitucional
Ambiental, no Curso de Pós-Graduação em Direito Ambiental, na
Universidade Estadual do Ceará. Por dois mandatos exerceu as funções
de chefe do Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito
da UFC.
Com toda esta multiplicidade de
funções e cargos, Dimas Macedo se auto-intitula como poeta. E afirma
que “esse mundo fantástico do imponderável, essa transcendência
cristã e divina que borbulha em cada um de nós como uma rocha,
compreende, em essência, os sentidos daquilo que pedimos e daquilo
que achamos a cada passo de nossa caminhada. Aceitar Deus é ouvir a
alegoria mais pura da palavra, é sentir a pulsação dos humildes, é
ancorar uma nuvem nas areias móveis do deserto, porque os móbiles de
sal do pensamento já são, em sua unidade suprema, os códigos de luz
de todas as idades do homem”.
Em seu livro Marxismo e Crítica
Literária, Dimas Macedo, com propriedade, afirma que “a realidade
social concreta, não podemos esquecer, esconde-se por trás de uma
cortina de mentiras e falsificações, de forma que assim,
gradativamente, a sua face vai se tornando invisível. E se ela não
se concentra captada numa obra literária, como exige, aliás, o
pronunciamento de Milan Kundera, ela termina aventurando-se a não
ser reconhecida pelo leitor, que não tem mais o hábito de conviver
com o concreto real. (...) Para libertar a literatura desse processo
de escamoteação do real, faz-se preciso que o crítico esteja
consciente de que o exercício de sua atividade de decodificador de
linguagens está subordinado à compreensão de que a obra literária,
assim como o autor e o leitor, encontram-se inseridos num universo
conhecido pela designação de contexto social”.
Como bem observa Rodrigo Marques, “os
símbolos da infância de cada poeta permanecem vivos e sempre estão a
reclamar um poema e a despertar eternas saudades e lembranças”. Não
poderia ser diferente com o poeta Dimas Macedo, que homenageia sua
cidade natal, Lavras da Mangabeira(CE), com o poema “Lavras”,
publicado em seu livro A Distância de Todas as Coisas:
“Longe daqui do tumulto,
lá no meio das coisas,
prostrada para o universo,
posto que existe,
Lavras é a cidade mais bela do mundo,
pois em cada rua
nasce uma saudade
que termina em meu corpo”.
No poema “Elegia Lavrense”, Dimas
Macedo conversa com sua cidade que o fez nascer de suas entranhas, e
que um dia o viu partir em silêncio. Quantos de nós nos
identificamos com este auto exílio da cidade que nos gerou e abrigou
em seu berço desde quando nascemos e que, muitas vezes no mudismo de
sua história, guarda em suas ruas, parques, avenidas, escolas,
clubes e residências o registro de nossa existência com a ilusão
juvenil de que morávamos no centro do universo? Como um casulo, ela
bem sabe que um dia a borboleta parte e que, por mais que deseje,
não mais terá condições de acolher em seu ventre de casulo sua larva
que se fez borboleta e que aprendeu a voar. Será, caros irmãos
Cineas Santos e Genuíno Sales, que, ao lerem “Elegia Lavrense”,
vocês não se lembrarão de Campo Formoso, município de Caracol/PI, ou
da fazenda Tamboril dos Sales, ao sopé da serra do sertão de Pedro
II, como eu me lembro da minha Parnaíba? Vejam como o poeta Dimas
canta a sua terra de berço:
“Lavras,
ainda não quero transformar-te em canto,
quero apenas denunciar-te com uma elegia
para que rememores teu passado
de poemas ainda não escritos,
mas que escreveste
para o contentamento dos teus filhos.
Moléculas desgarradas do teu seio,
lentas para os sonhos de amor
que conquistaste.
Histórias paridas de tuas entranhas,
serenas como o caminhar dos teus transeuntes
na beleza cantante de tuas ruas
e de tuas praças,
ou com a solidão que ostentas
em tuas madrugadas,
com tua avenida enluarada,
serena para a inquietação que te dominava outrora.
II
Lavras, as tuas ruas agora silenciaram,
não mais choram com a sinfonia
dos violões plangentes dos teus seresteiros.
Tudo até parece que dorme sobre ti
pairando entre a timidez paralela de tuas casas.
Teus líderes
ainda acalentam em ti uma esperança,
sim, porém muitos partiram,
aliás, todos.
...
Teu corpo repousa virgem,
envolvido pela monotonia de tua solidão.
E é com essa paz, Lavras,
que te desejo.
Quero-te com as tuas manhãs de domingo,
nostálgicas para mim nas festas do padroeiro,
ou com as tuas tardes tristes
ao som da velha banda que não conheci
mas cuja harmonia
ouço a cada instante
tocando dobrados que ferem a alma.
Quero-te na tua calma,
perdida na tua agonia,
sobretudo quando sofrias a crueldade
dos teus poderosos
e eu não podia te socorrer
na minha fragilidade de criança”.
Reviver o passado é, como bem expressa
Dimas Macedo, a nossa própria vida como “uma sucessão de dias e de
noites”. O sonho, a angústia, a desilusão, a alegria, a tristeza, a
esperança, o desejo, as paixões, e o amor alimentam a própria
existência deste grande poeta que se autodenomina como “poeta apenas
(...) com as mãos calejadas de versos”, a guardar no olhar “uma
imaginação entre planícies”.
Para mim, é o próprio poeta que
homenageio no poema que lhe presenteei em 1º/9/2003, intitulado
“Poeta de Lavras”:
“Nas ondas perenes do mar
alternando calmaria com arrebentação
navega o barco do poeta
sem porto onde atracar
Tem como norte a luz
que afugenta a morte
iluminando a alma
nos labirintos da vida
Nos caminhos d’água
segue o homem que sonha
harmonizar direito com justiça
humanizando o mundo com poesia”.
Finalizando minhas modestas palavras,
escolhidas que foram para fazer uma breve apreciação sobre a extensa
obra do poeta Dimas Macedo, socorro-me de Mário Quintana em sua
versão da felicidade, invocando aqui o poema de sua autoria
intitulado “A Idade de Ser Feliz”:
“Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida
de cada pessoa em que é possível sonhar
e fazer planos e ter energia
bastante para realizá-los a despeito de
todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com
a vida e viver apaixonadamente e
desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar
a vida à nossa própria imagem e semelhança e
vestir-se com todas as cores e experimentar todos os
sabores e entregar-se a todos os amores sem
preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição de tentar
algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz
na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração
do instante que passa”.
Fernando Ferraz é poeta e jurista
piauiense. Professor da Universidade Federal do Ceará
Página de Dimas Macedo
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