Uma noite para ti, meu pai.  O abismo 
 descreve seus mitos.  Pedras e plumas causam 
 igual dano ao amor.  Um encanto 
 deve te guardar a alma da queda.  Apenas 
 uma noite, meu pai.  O submerso reino 
 de teus dias se reflete em minha fronte.  
 A língua desfia suas palavras secretas.  
 Um homem lendo um livro e acendendo 
 os jardins do sol, estalando as vozes febris 
 e o terno som dos olhares e o enigmático 
 encontro com a morte.  O abismo unido 
 ao teu corpo.  Pássaros de fogo soletrando 
 o equilíbrio de tua ausência.  Uma noite, 
 pai, e tua sombra guardada por um raio.
Um largo estrondo e o corpo se desfaz.  
 Os rigores do som devoram mito e ruínas.  
 A própria essência do esquecimento 
 se esvai em ecos.  O homem não resiste 
 à treva da memória.  Dura em si apenas 
 o que não pode destruir: a queda, 
 o fogo semelhante à inacessível noite, 
 as vozes reconhecidas apenas à distância 
 Fezes de luzes, o lamento de teu sangue. 
 O relâmpago abre sua porta, invade o cego 
 destino que irradia o homem submerso 
 em sua dor.  Desfaz-se o tempo.  A terra 
 é removida de cada corpo.  Tudo é propício 
 a uma fonte de ossos. o homem apenas cai.  |