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Expediente

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Um esboço de Leonardo da Vinci

 

Floriano Martins

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O AUTOR E A CRÍTICA - ALMA EM CHAMAS (1998) POESIA

1. A poesia e sua rebelião total, por Claudio Willer

Terá uma decepção quem procurar o entretenimento ameno nas 300 páginas de Alma em Chamas (Letra & Música. Fortaleza. 1998), de Floriano Martins, poeta e incansável divulgador da literatura. No texto introdutório, ele avisa que não está aí para brincadeira. Declara-se à margem de uma literatura contemporânea que "vai da previsibilidade dos versos arrebanhadores de prêmios, dísticos, soluços, rimários, primor xerográfico, à preguiça mental evidenciada pelo epigrama dominical e à presunção do hai-kai". Não quer nada do que está na moda ou seja modismo: que não se esperem dele experimentos formalistas, nem epigramas engraçados.

Se Alma em Chamas vier a frustrar leitores inadvertidos, não será por seus defeitos, mas por suas qualidades. Essa "mescla de devaneio e exatidão", nas palavras do autor, é opaca pela espessura; sombria pela seriedade; enfática, reiterativa, pela gravidade do que diz; complexa por ser, entre outras coisas, poesia sobre poesia, espelhando a erudição do autor. O conjunto de dezenas de trechos, alternadamente versificados e em prosa, dividido em sete partes, é, na verdade, um só poema. A família literária à qual pertence é a dos autores, no século XX, de poemas extensos, que procuraram restaurar a épica e recuperar um cosmos, uma totalidade. As grandes obras inconclusas, inventários de derrotas, como Altazor, do chileno Vicente Huidobro, e Invenção de Orfeu, do nosso Jorge de Lima, aos quais Floriano se refere explicitamente, e talvez os Cantos de Ezra Pound ou Wasteland de T. S. Eliot. As epopéias sem final feliz, nas quais Ulisses não retorna a Ítaca. Textos descontínuos, fragmentários, alguns com estrutura de colagem, modalidade visual eleita por Floriano Martins.

Para não deixar dúvidas sobre seus propósitos, inicia o livro com um poema longo comentando a esquartejamento de Sebastian, o protagonista da peça De repente, no último verão, de Tennessee Williams. Contudo, a uma dada altura, não é mais desse anti-herói ausente que ele fala, mas de cenas e personagens da Divina Comédia. Revela-se a amplitude do que pretende, aonde quer chegar: a todo lugar, a lugar algum. Assume a "tarefa de escrever um livro impossível: o da personificação da morte". Por isso, "dissolve-se na matéria de suas metáforas, / misturado à visão do livro findo inacabado".

Crítica não é catalogar autores. Interessa, mais que localizá-los em alguma topografia literária, mostrar, no plano da análise formal ou da indicação de conteúdos, o que os diferencia e lhes confere sentido. Mas um tema inevitável, evocado pelo próprio Floriano Martins, é sua afinidade com a escrita barroca, a "estética do excesso", na definição de Severo Sarduy. No entanto, se tomarmos o barroco como beletrismo, expressão do Século de Ouro espanhol, ele se apresenta como autor de outra coisa, a escrita de um século de sombras.

É possível avançar nas definições negativas, do que Floriano Martins não é, com o que não tem a ver. Correlatamente, pode-se identificá-lo a uma complexa teia de autores, da antigüidade a contemporâneos brasileiros, com destaque para o romantismo iniciador de Hölderlin e Blake, e uma constelação de ibero-americanos, abordados no recente Escritura Conquistada (1998) e outras de suas obras. Tais afinidades são indicadas em epígrafes, dedicatórias e alusões. "À luz das palavras de René Char / saímos a recolher versos". Integram um "sangradouro de palimpsestos", em uma relação sempre intertextual, nunca paródica. Ele procura, não o distanciamento crítico da paródia, mas a recuperação e resgate, em uma metáfora de um diálogo com o leitor, cujos termos têm que girar ao redor de questões essenciais: "em que tempo ocorre o verso? De onde provém todo o mal da poesia?"

As referências mais produtivas para interpretar Floriano Martins vêm de uma área de sobreposição entre filosofia e poesia que integrar a herança romântica. Obriga a citar Hölderlin, sobre os poetas em um tempo de carência; e Heidegger, por sua vez referindo-se a Hölderlin, sobre a poesia e a condição humana em um tempo sem deuses, no mundo dessacralizado. O sentido de Alma em Chamas fica mais claro no poema intitulado "Séc. XX: secretas ruínas", no qual a história é designada como algo virtual, ilusão. Alude, assim, ao ensaio de Walter Benjamin sobre um quadro de Klee, no qual há "um anjo que parece querer afastar-se de algo a que ele contempla". O que o anjo contempla são ruínas, acumulação de escombros: "o que chamamos de Progresso é a tempestade que o impele".

Alma em Chamas refere-se também à descida aos infernos de Orfeu, patrono dos poetas. Mas é uma viagem sem volta, errância pelo subterrâneo. Nela, encontra sombras indistintas da unidade perdida, algo que não existe mais, que já se perdeu. Uma saída, assinalada por boa parte da literatura moderna, principalmente pelo surrealismo, está em Eros, na reintegração ao todo através da união amorosa. É dita em versos como estes: "teu corpo e o meu caindo sobre o mundo: / noite saqueada por uma caravana de relâmpagos". Contudo, nunca deixa de nos lembrar, desde o início do livro, que Eros e Tanatos caminham juntos; que Dioniso, regente do êxtase, é também um deus devorador.

Seria correto, mas redutor, ver Floriano Martins como autor de uma crítica de fundo metafísico e romântico à sociedade burguesa. Seu empreendimento é mais radica: volta-se contra o tempo e os limites da condição humana. É a rebelião total. Por isso, já abre o livro proclamando-se inspirado em William Blake, o poeta-profeta herético, expoente dessa rebeldia.

 

2. A incandescência do ser, por Rolando Toro

O nome de Floriano Martins ocupa um espaço privilegiado dentro das letras latino-americana, tanto por sua obra poética quando por seu profundo saber como ensaísta, crítico e historiador da literatura contemporânea.

Alma em Chamas é um conjunto de poemas sobre a condição humana e o destino.

Floriano Martins comunica em seus poemas a trajetória existencial em meio do "suntuoso paradoxo" de viver na ambigüidade dos fatos cotidianos e a exatidão do inferno; um avançar por essa nebulosa de possibilidades entre as trevas e o êxtase.

Seus poemas constituem uma extraordinária aventura em torno do mistério do ser.

No meio do labirinto encontra os carvões ainda ardentes de um mítico sacrifício do começo do mundo.

As metáfora de "Os carvões de Goya" aludem ao processo criador: é necessário passar pelo fogo para retornar, tingido de negro, ao esplendor da vida.

O homem se
alimenta dos laços fatais de seus delírios,
Oh viajante das chamas eternas! Por entre
as vértebras agitadas da noite, um homem
segue os passos de sua própria sombra.
Um homem e sua taça de intempéries.

A linguagem de Floriano Martins, tanto em suas obras anteriores, como Tumultúmulos e Cinzas do Sol, como em Alma em Chamas, põe em relevo as dimensões caóticas e míticas da existência. Seus poemas são uma permanente "criação atual" no sentido de Alfredo Auersperg; afunda no tumulto, na complexidade, no caos criador.

Seu projeto poético é subversivo, alheio aos valores convencionais, ao formalismo e à "poesia concreta".

Floriano Martins entra com determinação nas trevas da alma, sem eludir o êxtase de viver e a devoção pelo sagrado.

A experiência do inferno gera a intuição do paraíso.

Preciso recordar aqui a Rainer Maria Rilke em uns versos de Os sonetos de Orfeu:

Somente o que ergueu a lira
também nas trevas
poderá dizer, pressentindo,
a infinita louvação.

A poesia de Floriano Martins entra na complexidade do homem contemporâneo que já não se engana em jardins de ilusão; assim descobre as rosas do vazio e a beleza das tempestades; assim sua linguagem alcança um sentido épico-ontológico, a incandescência do ser.

Martins evoca o destino de viver com as obsessões e tentações infernais, com fome de infinito.

O relâmpago abre sua porta, invade o cego
destino que irradia o homem submerso
em sua dor. Desfaz-se o tempo. A terra
é removida de cada corpo. Tudo é propício
a uma fome de ossos. O homem apenas cai.

As marés subterrâneas da viagem interior arrastam o poeta até os arrecifes onde tudo é possível: o vazio e o êxtase, um acontecimento sem redenção e pleno de lucidez.

Ao conjugar as metáforas do céu e do inferno, cria o sentido de uma ética e de uma estética novas alheias aos deuses e poderosa no ato de devoção.

Depois de Blake e Rimbaud, surge agora a Alma em Chamas, a linguagem que para viver deve consumir seu corpo, uma linguagem devastadora que, em sua fúria poética, escreve sobre as cinzas ardentes do corpo sua carta de amor.

 

3. Um poeta de verdade, por Paulo Monteiro

O Brasil é um país de poetas. "A dor ensina a gemer"., diz um adágio; "Quem canta, seus males espanta", assegura outro. Talvez, por isso, tantos cantem nesta Pindorama. Na proporção dos cantores existentes, porém, os verdadeiros criadores literários são poucos. A maior parte é de subliteratos, mesmo.

Floriano Martins, cearense de Fortaleza, onde nasceu em 1957, é um dos bons poetas brasileiros da atualidade. Incursiona, com êxito, ainda pela crítica literária e o ensaio. Porta culto, tradutor de Federico García Lorca e Guillermo Cabrera Infante, filia-se a uma das correntes poéticas mais representativas da poesia brasileira contemporânea, o surrealismo essa escola já octogenária, mas que tem demonstrado uma capacidade revivente inegável, encontra, entre nós, o poeta de Nenhuma correnteza inaugura minha sede um de seus expoentes.

Li, no mesmo vagar com que se deve tomar um bom vinho, o livro Alma em Chamas (Letra & Música Comunicação Ltda., Fortaleza, 1998), reunindo poemas escritos entre 1991 e 1998.

A felicidade com que Floriano Martins transita entre o poema em versos e o poema em prosa é meridiana, embora sua obra reflita o espírito da escrita automática, natural do surrealismo. Entretanto, esse fazer poético, que sói soar truncado nos epígonos, escoa e ecoa límpido no poeta cearense. E essa clareza transparece nas passagens em verso ou prosa. Nas primeiras, ao aproximar-se bastante da métrica tradicional, dá uma unidade rítmica aos poemas mantendo uma certa liberdade já consolidada no poema do século XX. Na prosa poética chega-se ao verso verdadeiramente livre, fugindo à aridez de muitos que tentaram esse caminho da arte poética.

Veja a estrofe do poeta:

O homem é a metade de seu canto, a metade
de seu mundo devorado pela criação,
linhas e raízes do desejo, pedras negras
do sonho, o homem e sua metade dissolvida
dentro das visões dessangradas, seus ecos.
A outra, blasfema entranha, é a aparição
de si mesmo, o mito destruído, o horror
predileto do ser, vida ornada de miséria,
sonhos macerados, o homem em seu canteiro
de imagens, secreta morada de cinzas.

É assim que (ed. Cit., p. 37), definindo o homem, o poeta define o próprio poema. "O homem é a metade de seu canto…", a metade do poema. em outra passagem, agora em prosa, sentencia: " O poema é como um lagarto voraz em busca de seu enigma verde. Não canto a ninguém. Dissolvo-me para que me alcance. Morra o homem de solidão, até ser o poeta de si mesmo." (p. 51)

O homem é o próprio lagarto, é um animal muito antigo que somente se conhece através do poema, daquela supra-realidade de que falou alhures Fidelino de Figueiredo.

Uma leitura apressada dos poetas pertencentes à família literária de Floriano Martins pode ser enganosa; pode revelar metade do homem, o lagarto, esquecendo sua voracidade em busca do enigma verde, enigma que pode ocultar-se sob diversas formas. Duas delas estão no exotismo dos nomes orientais (já usado pelos simbolistas) ou na recorrência às mitologias e, mais especificamente, às constantes referências a outros poetas. Neles o lagarto vai saciar-se de verde, o verde/verde vida/ que a vegetação poética põe à disposição do homem para saciar sua fome de supra-realidade, sua ancestral necessidade de céu, estrelas, divindades. Isso se realiza com a morte do homem de solidão e o nascimento do poeta de si mesmo.

Ora, esse supra-realismo (sur + réalisme) surge - até mesmo historicamente - como uma negação da torre de marfim simbolista. O símbolo, extirpada a barriga famélica, é a metade audível do canto. É o corpo, o poema. A saciedade, esta sim, é a poesia. Daí as limitações da (talvez pretensa) cientificidade crítica para entender essa poesia, traduzi-la à linguagem não-literária pode revelar-se impossível. O acertado pode ser reescrevê-la, romper com a escritura crítica tradicional. Quando assim se procede vê-se que Floriano Martins, ao contrário da maioria dos nossos comentadores de versos, consegue unir as duas metades de que ele tanto fala em seus poemas. E em o conseguindo apresenta-se como um verdadeiro poeta, um criador literário pleno, como poucos de sua geração.

 

4. Alma en llamas: la filosofía poética de Floriano Martins, por Julia Otxoa

A través del poeta suizo cubano Rodolfo Hasler, he podido leer Alma en Chamas, del poeta brasileño Floriano Martins (Fortaleza, 1957), autor de un extensa obra en el campo de la poesía, el ensayo, la traducción y las Artes plásticas. Entre sus libros se encuentran entre otros los poemarios El amor por las palabras (1982), Las contradicciones terribles (1987), Cenizas del Sol (1991), Tumultúmulos (1994); siendo algunos de sus ensayos El corazon del infinito (1993), Escritura Conquistada (1998), El comienzo de la búsqueda (Escritura surrealista en America Latina) (1998).

Alma en Llamas (Editorial Letra & Música, Fortaleza/Brasil, 1998) reúne poemas escritos entre 1991 y 1998; el libro, ilustrado con collages del propio autor, está dividido en varias partes que aún de distinta concepción y cronología permanecen unidas por un hilo conductor claro: estoica visión de la existencia plena de melancolía: "La otra punta del hombre"; "Aula de pintura"; "Pruebas finales"; "Los miserables tormentos del lenguaje y las seducciones del infierno…"; "Columnas Circulares"; y una parte final, "Notas de acceso", recopilación de textos que estudiosos de su obra han realizado sobre él.

Al leer Alma en llamas tuve la sensación de haberme encontrado con una obra sorprendente, de una inusitada calidad, no solo por la magnífica capacidad del autor para conseguir del lenguaje una hondísima expresión lírica, sino también por la lucidez intelectual vertida en ese ideario implacable y crítico con la cultura y el modo de pensar contemporáneo que empapa toda la obra.

Noche en sus harapos implacables

[…]

Rosa encanecida en sus vértigos sublimes

Estos dos fragmentos pertenecen al largo poema ontológico con el que comienza el libro "La otra punta del hombre". ¡Cómo no identificarse con esa bellísima expresión fuertemente evocadora, con ese verso hondamente trágico que define la condición humana. ¡Cómo no verse reflejado en estos impresionantes versos, en esa extrema fragilidad humana que el dibuja con desbordado lenguaje metafórico interrogándose en los espejismos del pensamiento! del lenguaje! de la historia!. Su poesía es pasión insurrecta, construcción lapidaria en ricas imágenes surrealistas.

La poesía de Floriano Martins es filosofía poética, incesante búsqueda, diálogo a la intemperie entre la vida y la muerte, sin saber al cabo sobre el cambiante escenario del tiempo, quien es quien ante la calavera. Vida y muerte fusionadas en un solo anhelo, en un solo rostro bellísimo y terrible:

la presencia de cenizas en el alma de todo árbol que crece.

Su poesía trata de las contradicciones en las que se debate el pensamiento contemporáneo, la soledad, la conciencia múltiple del yo, lo fronterizo, el fragmento como vision del mundo, el fracaso de las grandes corrientes doctrinales etc., etc.

Síntesis intelectual y lírica. Arrebatado lenguaje poético, similar a aquel que la filósofa Maria Zambrano bautizara con el nombre de razón poética, esa esencial fusión entre el pensamiento y la sensibilidad lírica.

Ese primer poema del libro "La otra punta del hombre" insiste en un tono de profunda derrota elegiaca, el narrador se duele, rebelándose ante la impotencia de la condición humana, descarnada indefensión pensándose en el tiempo.

El hombre es la condena del ser

Escombros de la propia inocencia, todo es inocencia, bosque de mierda inocente en las llaves secretas de su pantano, espejos musgosos, toda aparicion es fulminante, proscrito el verdor del musgo, la alquimia del deseo, sobre la mesa los muertos, el ímpetu de Dios, los espacios de su mutación.

"La otra punta del hombre" resulta declaración de principios del corpus estético de Alma en Llamas. Todos los poemas que siguen son constatación de esa desolación.

Otra de las partes más impactantes del libro es sin duda la titulada "Los tormentos miserables del lenguaje y las seducciones del infierno en los instantes trágicos del amor de Barbus y Lozna". En este conjunto de poemas con grandes posibilidades para la representación teatral, el autor, tomando como materia poética el encendido, y tormentoso diálogo amoroso entre Barbus y Lozna viaja a profundidad a la noche del alma humana, hacia ese complejo universo de atracciones y deseos, soledades y ruinas, abismos y levitaciones. Extraña atracción por lo terrible.

Lo oscuro en mí te ama, parece decir constantemente Barbus a Lozna. Contexto gótico para el amor, la melancolía y la soledad. Sucesión de espejismos nuestras pasiones son un paisaje interminable de contradicciones. Amor identificado con el abismo, la belleza y lo mórbido. La seducción. La muerte comparece con el rostro de la amada, pero "Los miserables tormentos del lenguaje…" es además un cuestionamiento del propio hecho poético, una profunda reflexión sobre la capacidad expresiva del lenguaje.

Esa disonante relación de los amantes es metáfora de esa otra convivencia con el lenguaje, descenso o vuelo a tumba abierta con las palabras y sus potencialidades expresivas. El autor y la obra. Deseo y desengaño. Incapacidad de alcanzar la comunicación, la fusion con la amada, la union entre signo y significado. La vida y la literatura. ¿Historias paralelas?

¿La poesia es una catástrofe compartida?
¿La poesia es una forma posible de vida o de muerte?

Lozna, nombre de muerta: Innumerable: por alguna razón dejas caer en mi destino ese funeral, el misterio granítico de tu ausencia es Tanatos, una sombra mortal que rasga mis versos. Por alguna razon una torre de silencios avanza hasta la asfixia proverbial de mi soledad. Quieres retirarme de la circulación, profanado amor, con tu nombre de cenizas y tus papeles en desuso. Solo por ti los sobresaltos por nadie más, las perfectas diferencias de haber perdido los pasos.

¿En que se parece el amor a la muerte?

Requerimiento y espanto, impotencia para entender los hechos del amor. Vivir como respiración en la oscuridad, sintiendo como laberinto a Lozna y su ilegible distancia. Versos levantando acta sepulcral de la ausencia, pero también versos de fuego arrasador, de la pasión más sublime como paisaje confundido de pérdidas, tal vez el único espacio habitable para los amantes. El centro del vértigo como centro del mundo.

El amor es también una balanza de insignificados. A su izquierda las tensiones del paraíso, a la derecha los siervos del infierno. ¿De donde viene el dolor?. Encontramos nuestro actos tan viciados de quejumbres que la felicidad es desesperación.

¿Cómo hacer para tocar a una amada inaccesible? No hay insulto pero sí espanto. El silencio estremecido que Barbus quiere descubrir en el rostro modelado del cadáver de su amante, es el mismo cenit de su propia existencia.Los elementos esenciales que firman el carácter de las pasiones.Es una idea fija.

Todo en Alma en Llamas es lenguaje reflejando la dualidad de la existencia: la apariencia y lo otro, la nieve y el desierto, el éxtasis y las ruinas. Símbolo y vanguardia en un lenguaje de honda comunicación lírica. El Surrealismo de Floriano Martins es surrealismo metafísico, crítico con su tiempo. Poemas para el gran teatro del mundo. Melancólica poética amotinada en interrogantes, meditación del ser dentro de la caverna platónica, las sombras reflejandonse en otras sombras

Los encuentros con la muerte toman al hombre por el centro lo que no debria ser posible, un fantasma bajo el sol es un teatro mucho mas singular por lo despreciable.La muerte es outra.

En la búsqueda de lo absoluto vivir se convierte en delirio. Vivir en poesía es aceptar el riesgo. En la fiebre es alcanzada la lucidez. Hágase en mí la palabra que nombre lo que ahora siento poseerme con más fuerza que yo mismo.

En el camino del abismo la palabra indaga sus letras ¿qué busca aquella que cae sobre sí misma? El poeta cae de sus metáforas. Ensayamos el enigma común de la situación, el lugar, porque no podemos soportarnos en el peso de las cosas que en nosotros se preparan. Jamás ignoramos el espectáculo de nuestras ruinas, distinto escenario donde el hombre actúa… Libro descompuesto en repeticiones. Hamlet encharcado de ilusiones. Habrá siempre allí algo imposible de seguir.

Se diría que gran parte de la existencia es para Floriano Martins una gran puesta en escena de esperpentos goyescos, todo lo existente convertido en enigma. Nuestro pensamiento lo sostienen espejismos. Tan solo proyección de las cosas sobre nuestros aturdidos ojos, bien podría no existir el mundo y ser todo espejo, pura invención de nuestra necesidades y deseos. Tal vez nada se salve en esta lapidaria y apasionada dialéctica trágica, salvo ese incesante y arriesgado vivir en poesía. Y esa bendita capacidad del propio autor para traducir en belleza la narración de cuanto ocurre.

 

5. Los tormentos de la poesía, por Ivan Junqueira
(Traducción al español por Benjamín Valdivia)

No son pocos los poetas que, por ser bilingües o por razones que se dirían estratégicas, escriben en otras lenguas que no son la suya. Así lo hicieron Pessoa, Eliot, Rilke, Brodsky, Moro, Huidobro y hasta nuestro mismo Manuel Bandeira, que, traductor soberbio, jamás consiguió verter al portugués ninguno de los versos que escribió en francés. Es ese el caso de Floriano Martins en Los tormentos miserables del lenguaje y las seducciones del infierno en los instantes trágicos del amor de Barbus y Lozna, título de inequívoco sabor quevediano, pero que nada tiene de Quevedo, puesto que no fue esa la intención del autor. la intención es bastante distinta y, sin duda, justificada porque sabemos que es muy poco aquello que sobrevive de casi todo lo que se circunscribe al gueto de la lengua portuguesa. Y extraña que así sea, ya que el portugués, amén de lengua culta, es la sexta más hablada en el mundo. En el caso de Floriano Martins -quizás nuestro mayor especialista en poesía hispanoamericana-, la elección fue claramente estratégica, o sea, buscar una mayor difusión de su poesía en el ámbito hispánico y, como dijera una vez Huidobro, huir de ciertos vicios del idioma y alcanzar así mayor simplicidad en la expresión poética. otro detalle importante: esa práctica nada tiene, al menos en Floriano Martins, de contumaz u obsesiva, lo que lo sitúa en posición contraria al bilingüe cabal o por fatalidad, como es el caso del novelista carioca Per Johns, que se mueve muy a voluntad en por lo menos dos lenguas: la portuguesa y la danesa. Y en el caso de este último el impasse se torna muchas veces dramático, como él mismo observa en uno de los pasajes metalingüísticos de Las aves de Casandra: "El arraigado es uno con su lengua. El bilingüe es dos y ninguno".

Además -y en ese paso lo admite el propio poeta-, toda su producción posterior a Tumultúmulos (1994), vino padeciendo de cierto barroquismo, de una acumulación metafórica que acabó por engendrarle, no una solución, sino un laberinto en el cual ningún hilo de Ariadna le podría valer. Y aquí, otra vez, se configura aquella opción estratégica a la que recientemente aludimos. Y la verdad es que toda su poesía gana a partir de entonces un nuevo impulso. En la aventura hispánica de Los tormentos miserables se entrelazan armónica e orgánicamente la sensibilidad métrica, la forma fija (el soneto, aunque algo atípico) y la prosa poética de largo aliento, como desde siempre, de hecho, cultivó el autor. Es bueno que se advierta, sin embargo, que Los tormentos miserables no constituyen un récueil poético, y sí un núcleo temático (o problemático) que se reparte en 46 fragmentos, u otros tantos poemas, si así se prefiere. Es bueno ver, además, que el poema se inserta en una vertiente algo extraña de la lírica brasileña: aquella que privilegia la poesía (y la metapoesía) del pensamiento, como la han ejercido entre nosotros Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima y, tal vez más que cualquier otro, Dante Milano. Sería algo así como la poesía de la poesía, un áspero y punzante esfuerzo de ascesis, tal como lo vemos en el reciente La vía estrecha, de Alexei Bueno. Y aquí no hay cómo escapar: toda esa praxis, que en buena hora enfrenta y afronta la banalidad y el metaludismo en que se convirtió considerable parte de nuestra poesía contemporánea, nos remite a las matrices seminales en que esplenden los nombres de Hölderlin, Novalis y Leopardi.

Por eso mismo es que se ve, en los versos y entrelíneas de Los tormentos miserables, una permanente oscilación entre lo lírico y lo trágico, vertientes por definición antagónicas entre sí, mas que encuentran, sobre todo en Leopardi, algo como una superación de ese conflicto o, por el contrario, su más consumada cristalización. No fue al azar, a propósito, que la ensayista Helena Parente Cunha abordó la cuestión en Lo lírico y lo trágico en Leopardi (1980), donde sustenta que la fluctuación "de un extremo a otro, de la ilusión a la desilusión y viceversa, que moviliza la estructura de los Canti, se extiende a la alternancia de lo trágico y lo lírico". Y esa alternancia, tal como la vemos en Floriano Martins, nos lleva a situar el conflicto entre razón y sentimiento en el ángulo de abordaje a que se arriesgó aquella ensayista cuando observa: "el sentimiento crea la ilusión del espacio lírico, que la razón demuele en el tiempo trágico de la desilusión". Y es por eso tal vez que, ya en el título mismo del libro, Floriano Martins nos remite a "las seducciones del infierno en los instantes trágicos del amor de Barbus y Lozna". Se entiende así que, en el fragmento XV, escriba el poeta:

¿De dónde viene el dolor? Nuestras acciones
están viciadas en tal orden de quejumbres
que la felicidad es una desesperación. Cada uno
habla de si mismo, en nombre de su amor.

Como mejor se entiende todavía cuando, en el fragmento siguiente, nos advierte:

Errante y Barbus, mi amor baja hasta el vacío, ¿pero
que es lo suyo en ese viaje redondo? Lo que fuimos
ya no somos. ¿Que es lo mío sino la nada, el ilusorio?

Se ve aquí que el amor se construye y se destruye como en aquella tríada hegeliana en que la forma de ser y dejar de ser o ser para llegar a ser la nada y el modo de ser de la nada es dejar de ser la nada para pasar a ser el ser. ¿Ya no lo decía Heráclito de Éfeso siete siglos antes de la era cristiana? ¿Y no lo dice ahora Floriano Martins cuando concluye que "lo que fuimos ya no somos"?

No bastan esas "seducciones del infierno", cumple denunciar aún que las entrañan los "tormentos miserables del lenguaje", es decir: los tormentos de la poesía. Pues el poema de Floriano Martins construye y desconstruye también un discurso que se estructura sobre el signo del metalenguaje, como se ve en varios de sus pasajes. Y tanto Barbus cuando Lozna son como emblemas tangibles de ese conflicto:

Hacia el principio caminan todas las muertes. Eres el infierno de las transfiguraciones, un abismo de huesos abierto en tu desnudez de cortafuegos. Tu nombre es Lozna.

Y luego adelante, en el fragmento X:

Lozna es una herida que no cicatriza: son palabras con que el tiempo quiere despedirse de nosotros. La lengua tocando la sal en su primer día de olvido, la oscuridad tomando el pulso de un alma sin regocijos.

Y a pesar de toda esa desolación leopardiana, los amantes bailan en cuanto el mundo esplende en desastres, "mientras el hombre no esperaba nada del hombre, mientras el asombro quedaba sólo". Mas la decepción avasalladora de lo trágico vuelve a subyugar la efusión lírica, como lo atestiguan los dos últimos versos:

La mismísima flor del mundo es siempre nada,
no hay pausa, solamente una palabra decepcionada.

Incluso así, el poeta resiste las amenazas de destrucción de la palabra, de aquella misma palabra que nos habla T. S. Eliot en el quinto movimiento del primero de sus Cuatro cuartetos, cuando escribe: "Las palabras se distienden, / Estallan y en veces se quiebran bajo el peso, / Bajo la tensión, tropiezan, resbalan, perecen, / Se pudren con la imprecisión". También Floriano Martins erige su voz contra el exilio que la destierra, tal cual se lee en el fragmento XXII:

Hasta la humedad más profunda
del silencio buscaré la desterrada unidad del verbo,
bajo el limo de las asfixias, bajo la dimensión del exilio.

Dijimos al inicio que Los tormentos miserables es también un poema de abisal y dolorosa ascesis. Es que entre esos "tormentos miserables del lenguaje" y las "seducciones del infierno en los instantes trágicos de Barbus y Lozna" se interpone, absoluta e innumerable, la presencia de la muerte, que se insinúa de fragmento en fragmento. Barbus y Lozna sólo podrán superarla por la dinámica de la ascesis, pues todo en derredor sabe apenas a caducidad y a contingencia terrenas. Y no los auxilia ninguna creencia religiosa, ni siquiera nuestra arraigada y tenaz fe cristiana. Por lo menos es lo que se concluye de la lectura del fragmento XXV, en el que sentencia el poeta:

No se resuelve la historia en su repertorio
de agonías. El Calvario no es centro de nada.

Y adelante, en el fragmento siguiente:

Me gustaría
aceptar tus versiones de la muerte, pero tus versos hablan
de un paraíso perdido que es un emblema del horror
que vivimos. No hay la podredumbre del cuerpo ni una
trayectoria de ángeles. Los que piensan en la vida
deben entender que el dolor es parte de la misma alegría,
que no hay una tumba de turno ni felicidad prometida.
El centro del hombre es lo que hacemos de nosotros.

O sea, como lo pretendía el sofista presocrático Protágoras de Abdera en el siglo V a. C.: "El hombre es la medida de todas las cosas: de las que son, en tanto son; y de las que no son, en tanto no son." Si por un lado es lírico el amor de Barbus y Lozna, del otro es también trágico porque vive en el desamparo cósmico y bajo el signo de una lucha que, aquí, sí, se confunde con aquella agonía que Unamuno vislumbró en la resistencia de ese mundo cristiano que, aunque moribundo, no muere jamás. Barbus y Lozna viven así en la frontera de la muerte, como también a las puertas de la muerte vive el poema entero. Y en tal punto es en esa condición que vive y fulgura el texto que el poeta será llevado a preguntar, como lo hace en el fragmento XXXIV: "¿Es la poesía una forma posible de la vida o de la muerte?" El amor en ruinas de Barbus y Lozna, que no es "una sagrada revelación", mas apenas la "prueba de amor reconocida por Hölderlin", ilumina todavía la atormentada tesitura de ese largo y punzante poema, un poema raro y casi solitario en el panorama de nuestra literatura presente, un poema en que el amor, para ser aceptado y comprendido, desdeña las pruebas que lo atestiguan. O como dice el propio poeta:

No hay pruebas del amor: todo es risible en los argumentos.

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