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Floriano Martins

<florianomartins@rapix.com.br>

 

O Começo da Busca (O Surrealismo na Poesia da América Latina) (ensaio e antologia). Escrituras Editora. São Paulo, SP. 2001. 288 pgs.

O Começo da Busca

 

Vozes em confluência

Maria Esther Maciel

Se o Surrealismo pode ser considerado uma espécie de "não-capítulo" da historiografia literária brasileira, por desta ter sido excluído pela força da rasura e da indiferença, isso não significa, contudo, que o movimento não tenha existido no Brasil. Mesmo atuando nas frestas, nas dobras, nas margens e nos subterrâneos dessa mesma historiografia, a poesia surrealista brasileira – que teve, certamente, sua expressão mais vigorosa na obra poética de Jorge de Lima – foi e ainda é uma presença efetiva nas letras do nosso país. Uma presença que, longe de se moldar sob os influxos diretos do paradigma parisiense ou se constituir através da militância de um grupo organizado, teve uma vida e uma dicção próprias, contando com a participação não-centralizada de poetas e intelectuais de vários pontos geográficos brasileiros. Isso é o que nos mostra, de forma convincente e bem fundamentada, o poeta, crítico e editor cearense Floriano Martins, em uma das partes de seu recém-lançado livro O começo da busca: o surrealismo na poesia da América Latina, publicado pela editora paulista Escrituras, dentro da "Coleção Ensaios Transversais".

Traçando uma espécie de cartografia da poesia surrealista latino-americana e flagrando-a em sua diversidade e pluralidade de vozes e dicções, o volume traz também um minucioso estudo crítico do autor sobre o tema e reúne, em forma de antologia, textos poéticos e ensaísticos de alguns poetas brasileiros e hispano-americanos que mantiveram ou mantêm com o Surrealismo algum tipo de cumplicidade.

Invertendo o famoso título de uma coletânea de ensaios sobre o Surrealismo, La búsqueda del comienzo, de Octavio Paz, Floriano empreende um trabalho que se desdobra em vários, ao longo do livro: mostrar a vitalidade da poesia surrealista no continente latino-americano, evidenciando a força de suas diferenças e peculiaridades em relação ao surrealismo europeu; discutir os equívocos da crítica em torno do que vem a ser o Surrealismo e suas manifestações no Brasil e em outros países da América da Latina; apresentar, diante de tais equívocos, um outro olhar sobre a questão, a partir da evocação de escritas, falas e reflexões de outros poetas-pensadores dedicados ao exercício e à discussão da poética surrealista. A isso ainda se soma o trabalho de tradução e divulgação, empreendido pelo autor, de poetas hispano-americanos pouco conhecidos em nosso país, como os argentinos Aldo Pellegrini e Enrique Molina, os peruanos César Moro e Emilio Adolfo Westphalen, os chilenos Enrique Gómez-Correa e Ludwig Zeller, os venezuelanos Juan Sánchez Peláez e Juan Calzadilla, o colombiano Raúl Henao, além do próprio Octavio Paz. Dois poetas brasileiros contemporâneos, Sérgio Lima e Roberto Piva, integram a coletânea, figurando ainda, ao lado de Ángel Pariente, Enrique Molina e Francisco Madariaga, na última parte do livro, onde são reproduzidas algumas de suas iluminadoras entrevistas sobre a "aventura surrealista". É de se notar, entretanto, a ausência, na antologia, de textos criativos do poeta, crítico e tradutor paulista Claudio Willer, bem como os do próprio Floriano Martins, dois dos mais inventivos e prolíficos poetas de linhagem surrealista em atuação no cenário poético do Brasil contemporâneo.

Mesmo com essa ausência, o livro não deixa de nos brindar com uma mostragem significativa do que de melhor existe na poesia surrealista de nosso continente, vindo preencher, inegavelmente, um espaço lacunar no âmbito dos estudos e da divulgação dessa poesia no Brasil. Além disso, tem o mérito de promover o necessário encontro, em língua portuguesa, de poetas de diferentes países da América Latina que compartilham interesses e sensibilidades afins.

Pode-se dizer que, dessa constelação multinacional de vozes, textos, poemas e reflexões, emerge uma outra maneira de se compreender o Surrealismo, que não aquela inscrita nos manuais de literatura que insistem em tomar o movimento como mais um ismo circunscrito ao contexto das vanguardas históricas do início do século. O que o leitor acaba por concluir, ao final de sua jornada, é que o Surrealismo, antes de ser uma estética ou um movimento, é uma visão de mundo, pautada em formas alternativas de sensibilidade e atravessada pelo desejo de transformar o mundo com as armas da poesia, do amor e da imaginação. Ou, como já disse Octavio Paz, "uma atitude do espírito humano", para a qual importa, sobretudo, o exercício poético da liberdade.

O começo da busca, nesse sentido, não vem apenas mapear vozes importantes do surrealismo latino-americano ou reconstituir, por uma via alternativa, parte da história da poesia moderna brasileira que a historiografia literária oficial esqueceu, desprezou ou rasurou, mas também convidar o leitor a exercitar, em meio ao "horizonte dos utensílios" que define o nosso tempo, os poderes revitalizantes da imaginação.

 

Ante a busca do que se tarda

Jorge Pieiro

Não é fácil ao ser humano conviver com uma causa que, à revelia, o eleva à condição de guardião ou legítimo representante. Diante de todas as ocorrências mundanas, o desvario, a inconseqüência, o oportunismo e o equívoco parecem tomar lugar de destaque nas vitrinas. Aos curiosos passantes, fica apenas um reflexo dos brilhos falsos. Daí, a reprodução de modelos e o surgimento de modismos é inevitável, infelizmente.

Quando se trata de poesia - esse gênero sempre em ebulição, congestionador do pensamento, tão reproduzido e decantado, e também tão fustigado por mentes pródigas - a evidência desses efeitos é estarrecedora. As conseqüências, então funestas, revelam deformações, na maioria das vezes, reparáveis apenas com muita paciência, persistência e dedicação.

Se, no Brasil de tantos poetas, a poesia se multiplica em rios de muitos afluentes, deixando o pobre leitor - quando há - à mercê de correntes e contracorrentes, imaginem a desinformação que paira sobre esse mundo, a um só tempo, sem fronteiras e (im)perceptivelmente marginalizado. Não é à toa que enormes catedrais se erigem e fazem ecoar suas doutrinas, seus credos, instigando adeptos a se concentrarem nos limites do próprio umbigo.

Expandindo esse ponto de vista, o que se poderia ainda dizer a respeito do (des)conhecimento de um momento pleno do pensamento universal, equivocadamente reduzido a acidente de comportamento estético dentro dessa estafante modernidade - o Surrealismo -, e, extrapolando, sobre a indigência desse conceito dentro da história da poesia brasileira e, exponencialmente, a partir dos limites da América Hispânica?

Para resumir essas idéias, exemplificando-as, eis o que o ensaísta, crítico e poeta cearense Floriano Martins, apresenta ao leitor brasileiro: O começo da busca - O surrealismo na poesia da América Latina, obra que demarca um breve acesso à desconhecida história da literatura hispano-americana, amparada por uma dosagem crítica. A obra vem a lume como parte integrante da Coleção Ensaios Transversais, publicada pela Escrituras Editora, de São Paulo.

Como dedicado pesquisador de poesia, o autor de Escritura Conquistada - Diálogos com poetas latino-americanos (Letra e Música/ UMC/ Biblioteca Nacional, 1998) -, apresenta neste O começo..., uma primeira parte, em que extenso estudo introdutório defende idéias, tais como, a de que ''não se pode situar o Surrealismo eclodido na América Hispânica como imitação ou mero reflexo da corrente parisiense'', ou que ''o leitor brasileiro pouco ou nada conhece acerca da poesia hispano-americana'', ou ainda que, sem querer discutir sobre uma já desgastada e nunca esclarecida questão, acaba confirmando a presença do Surrealismo no Brasil, como bem defende o poeta Sérgio Lima.

A segunda parte do estudo, dá acesso a uma antologia dos poetas Aldo Pellegrini e Enrique Molina (Argentina); César Moro e Emilio Adolfo Westphalen (Peru); Octavio Paz (México); Enrique Gómez-Correa e Ludwig Zeller (Chile); Juan Sánchez Peláez e Juan Calzadilla (Venezuela); Roberto Piva e Sérgio Lima (Brasil); e Raúl Henao (Colômbia), numa amostragem da poesia visceral produzida ao longo do século XX. Trechos de depoimentos antecedem cada bloco de poemas, tudo em tradução do organizador.

A última parte, destaca entrevistas com Roberto Piva e Sérgio Lima (Brasil), Ángel Pariente (crítico espanhol), Francisco Madariaga e Enrique Molina (Argentina), como respaldo às conclusões do pesquisador.

Não cabe aqui discutir as aparências ou a verdade indesejada por muitos críticos literários. O começo da busca, em sentido contrário ao historicismo protagonizado por Octavio Paz sobre o Surrealismo na América, em sua obra La búsqueda del comienzo, é um resgate, ainda que tardio e acanhado - por razões mercantilistas? -, de uma das vertentes mais polêmicas da história literária contemporânea. Aderindo ao pensamento do autor, o Surrealismo, apesar das contradições e dos equívocos, ainda é a ''instância maior da poesia em nosso tempo''. As evidências de continuidade e renovação do movimento fora do âmbito parisiense, no passado, não podem ser desprezadas.

Pouco a pouco, ilumina-se a face obscura dessa vertente da poesia, muitas vezes vilipendiada no Brasil, conseqüência, não menos da rejeição dos críticos, mas da sonegação de uma verdade, fruto de antidemocráticas ações voltadas apenas para vaidades aparentes. Esta outra face da moeda, diga-se de passagem, pode fazer o pesquisador correr riscos, caso ele opte pela radicalização do pensamento, descambando para o mesmo engano de outros guardiões, ao protegerem seus credos e doutrinas.

No entanto, ao defender um fundamento, O começo da busca acaba insinuando e realçando as palavras de Emilio Adolfo Westphalen, para quem ''em poesia não há fórmulas de aplicação assegurada e é vã toda 'poética'''. Ou confirmando as palavras de Zeller: ''Eu estimo que os poetas temos uma essência comum em que a maior parte das vezes coincidimos: nem é tão consciente Valéry, nem são tão instintivos os surrealistas. Há um meio termo que permite valorizar melhor ambas as tendências. Além do mais, é sempre mais válido o resultado do fazer poético que qualquer teoria que posteriormente se torne rígida.''

Assim, dá-se a defesa de uma causa, apesar dos empecilhos e do tempo que se tarda.

 

El poeta Floriano Martins en busca del Surrealismo

Alfredo Fressia

Un balance honesto de todo lo que el Modernismo brasileño legó debe incluir, en rojo y en el "debe", esa especie de nacionalismo endémico que recorre la historia literaria del Brasil en el siglo XX, la paradójica antropofagia ejecutada por un indio rousseauniano, según la imagen del crítico Franklin de Oliveira, que impide hasta hoy el diálogo fluido con el resto del Continente. No se trata sólo de insularidad lingüística, por más que ésta pese, sino de cierta vocación brasileña por el monólogo, autoritaria, mientras otras culturas latinoamericanas buscan el diálogo. La reacción a ese provincianismo cultural no suele ir más allá del ámbito académico, en particular el esfuerzo de los departamentos de Español de las universidades, y casi nunca surge desde las manifestaciones artísticas, desde la actividad cultural como creación.

El poeta Floriano Martins (Fortaleza, 1957) es de los pocos artistas que se inscriben en esa reacción que implica una búsqueda, casi empecinada, del contexto continental, incluso como manera de comprender y evaluar mejor la cultura de su país. De Angel Rama se murmuraba que no dormía. De Martins se podría sospechar que ha hecho un pacto con los dioses solares del tiempo en su moroso Ceará natal, y que de ese pacto surge la versatilidad de su obra, desde su trabajo como traductor del español (es responsable, por ejemplo, de la ardua versión al portugués de Delito por bailar el chachachá de Cabrera Infante, o la de los Poemas de amor de García Lorca, ambas en 1998), su ensayística (El corazón del infinito. Tres poetas brasileños, Toledo, España, 1993, para citar uno, "interlingüístico"). Y también sus clases, encuentros, performances en Panamá o Costa Rica o México, sus diálogos con poetas latinoamericanos, publicados algunos en internet, otros en el espléndido Escritura Conquistada, de 1998, donde comparecían las uruguayas Amanda Berenguer y Circe Maia, sus artículos instigadores, tantas veces rebeldes frente al establishment del periodismo cultural, en diarios brasileños, portugueses, latinoamericanos, de Argentina a México. Y todo esto sin olvidar la sólida obra poética que viene construyendo (que incluye piezas en lengua española), y que reunió, en parte, en su Alma em chamas de 1998.

En 2001, aparecieron los poemas de Cenizas del sol, en versión trilingüe (español, portugués, inglés) en Andrómeda, una lujosa edición costarricense, presentados en contrapunto con las imágenes de las esculturas de Edgar Zúñiga, uno de los mayores artistas plásticos de Costa Rica. El libro se cierra con dos entrevistas, la realizada por Martins a Zúñiga y la inversa. Se trata de trece poemas en prosa de 1991 (publicados entonces en Río de Janeiro), cuya versión inglesa, a cargo de Margaret Jull Costa, había figurado en The myth of the world (The Dedalus Book of Surrealism), Londres, 1994, y que la actual edición costarricense reproduce. La versión española estuvo a cargo del poeta uruguayo Saúl Ibargoyen y del mexicano Benjamín Valdivia.

Desde el título, sugerido por un pasaje de Arcane 17, de André Breton, el texto se inscribe en la vertiente surrealista que signa gran parte de la obra de Martins, una poesía renuente a los "ismos", pero que encuentra en la escritura automática una manera, poderosa en su caso, de reacción frente al parnasianismo burocrático y residual de cierta poesía brasileña.

El año 2001 también marcó la aparición de Extravio de noites/ Extravío de noches, once poemas sin títulos, algunos en prosa, presentados por Ed. de Orpheu de Caxias do Sul, Río Grande, en forma bilingüe, portugués y español. Se trata de una paradójica poesía erótica donde el cuerpo comparece mediado por espejos, fotos, páginas ("las páginas de tu cuerpo"), al punto que el verdadero motivo temático del poemario resulta la memoria, "cena de fantasmas, la memoria/ sirviendo sus mejores platos".

La obra más significativa de Martins en 2001, aparecida a fines del año, se encuentra sin embargo en O começo da busca. O Surrealismo na poesia da América Latina, en Ed. Escrituras, de San Pablo. Se trata de la primera antología de poesía surrealista latinoamericana, precedida de un ensayo introductorio y seguida por cinco artículos y entrevistas. Existen sin duda antologías locales, además de la Antología de la poesía surrealista latinoamericana, México, 1974, del rumano Stefan Baciu y la Antología de la poesía surrealista (en lengua española) de Ángel Pariente, 1985, o experiencias como la Antología de la poesía surrealista de lengua francesa, Buenos Aires, 1961, de Aldo Pellegrini. Pero falta en ellas, en particular en la de Baciu, "latinoamericana", la presencia de los poetas brasileños. Martins viene a llenar ahora ese vacío literalmente "continental".

Para su factura, Martins desecha la tesis de Baciu de un "parasurrealismo", es decir, incorpora el grupo de poetas cuya obra incluye una vertiente surrealista, pero que no asumen, o no siempre asumen los preceptos del movimiento. Descartada la exigencia de fidelidad al estricto método surrealista de creación, Martins se siente autorizado a incluir, por ejemplo, la obra de Octavio Paz durante los '50, y si excluye una obra como la de Olga Orozco, es meramente por una ineludible negociación editorial de espacio y representatividad. Por otro lado, el autor rechaza la idea de Surrealismo ligada a un tiempo histórico, como un "ismo" más entre el aluvión de las vanguardias modernas, una periodización que podría propiciar cierta idea de "atraso" diacrónico, en el Continente, respecto al movimiento parisiense de 1924.

En 1974 Octavio Paz reunió artículos y conferencias sobre el surrealismo en su libro La búsqueda del comienzo, que implicó "una delimitación de raigambre historicista a la acción surrealista". Martins prefiere "el comienzo de la búsqueda", que da título a su volumen, a sabiendas de que el surrealismo no es intrínsecamente "hecho histórico" sino ángulo de contrapunto a la poesía constructivista que también atraviesa la poesía continental. "Toda la modernidad", dice Martins, "aun en sus avatares esteticistas o cientificistas, sufrió el impacto de una erupción onírica u obtuvo al menos la información de un fervor animista, sea en el vientre oculto de su propia matriz cultural o despertado por identificación con otras culturas". Y uno agregaría: toda la modernidad, menos la uruguaya.

No hay, en efecto, un único uruguayo entre los doce poetas, largamente ilustrados, de esta antología. El "(casi) inexistente surrealismo uruguayo" del que habla el poeta Eduardo Espina ("De la jungla de Lautréamont a Selva Márquez", Revista Iberoamericana, 1992) brilla, literalmente registrado, por su ausencia. Y esa carencia está sin duda en la base de cierto "tono menor" de la lírica nacional que atraviesa el siglo XX desamparada, conformada muchas veces frente al constructivismo positivista y burgués.

Martins privilegió la sólida representación de cada poeta, y no el número de autores. Comparecen aquí: Aldo Pellegrini (Argentina, 1903-1973), el poeta que desde la revista Qué, de 1928, divulgó y trabajó el automatismo; César Moro (Perú, 1903-1956), el limeño de lengua francesa que rehusó su idioma materno, a veces aun en su vida privada, pero volvió a ella en México, tal vez movido por el amor de un hombre; Enrique Molina (Argentina, 1910-1996), el surrealista heterodoxo y apasionado; Emilio Adolfo Westphalen (Perú, 1911-2001), compañero de Moro aun en sus provocaciones contra Vicente Huidobro; Octavio Paz (México, 1914-1998); Enrique Gómez-Correa (Chile, 1915-1995), poeta del grupo Mandrágora, de la noche y la magia del "poema negro"; Juan Sánchez Peláez (Venezuela, 1922), propulsor del surrealismo en su país; Ludwig Zeller (Chile, 1927), creador de la Casa de la Luna, perseguido en su país, residente después en Canadá y hoy día en México; Juan Calzadilla (Venezuela, 1931), un pilar de la mítica revista El techo de la ballena en la Caracas de los '60; Roberto Piva (Brasil, 1937) y Sérgio Lima (Brasil, 1939), los dos poetas de lengua portuguesa que, junto a Claudio Willer, se inscriben en una vertiente surrealista que al mismo tiempo rechaza los principios programáticos del movimiento; y Raúl Henao (Colombia, 1944), quien propone enlazar embriaguez y sobriedad, sueño y vigilia.

Sin duda, como toda antología, hecha además por un poeta, el conjunto revela y pone "en abismo" el doble juego entre la representatividad y la estética del antologista. Para ampliar las perspectivas de acceso al surrealismo continental, Martins cierra el volumen con cuatro entrevistas conducidas por él mismo en los últimos años (a Roberto Piva, a Ángel Pariente, a Francisco Madariaga y a Sérgio Lima) y un artículo sobre la estética de Enrique Molina. Por vocación, el libro importa en todo el Continente, pero acaso más entre nosotros, y justamente por el motivo inverso, por la falta de esa vocación irracional y onírica en el positivo, cartesiano Uruguay.

 

 

 

 

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A outra face do editor Soares Feitosa, o tributarista