NÃO QUERO IR onde
não há a luz,
Do outro lado abóbada
do solo,
Ínfera imensa
cripta, não mais ver
As flores, nem o curso
ao sol de rios,
Nem onde as estações
que se sucedem
Mudam no campo o campo.
Ali, no escuro,
Só sombras múrmuras,
êxuis de tudo,
Salvo da saudade, eternas
moram;
Região aos mesmo
íncolas incógnita,
Dos naturais, se os tem,
desconhecida.
Ali talvez só
lírios cor de cinza
Surgirão pálidos
da noite imota.
Ali talvez só
pelo som as águas,
Como a cegos, serão,
e o surdo curso,
No côncavo sossego
lamentoso,
Se acaso à vista
habituada aclare,
Será como um cinzento
tédio externo.
Não quero o pátrio
sol de toda a terra
Deixar atrás,
descendo, passo a passo,
A escadaria cujos degraus
são
Sucessivos aumentos de
negrume,
Até ao extremo
solo e noite inteira.
Para que vim a esta clara
vida?
Para que vim, se um dia
hei de cair
De haste dela? Para que
no solo
Se abre o poço
da ida? Por que não
Será sem fim[?...] |