NÃO VENHAS sentar-te
à minha frente, nem a meu lado;
Não venhas falar,
nem sorrir.
Estou cansado de tudo,
estou cansado,
Quero só dormir.
Dormir até acordado,
sonhando
Ou até sem sonhar,
Mas envolto num vago
abandono brando
A não ter que
pensar.
Nunca soube querer, nunca
soube sentir, até
Pensar não foi
certo em mim.
Deitei fora entre urtigas
o que era a minha fé,
Escrevi numa página
em branco, "Fim".
As princesas incógnitas
ficaram desconhecidas,
Os tronos prometidos
não tiveram carpinteiro.
Acumulei em mim um milhão
difuso de vidas,
Mas nunca encontrei parceiro.
Por isso, se vieres, não
te sentes a meu lado, nem fales.
Só quero dormir,
uma morte que seja
Uma coisa que me não
rale nem com que tu te rales -
Que ninguém deseja
nem não deseja.
Pus o meu Deus no prego.
Embrulhei em papel pardo
As esperanças
e ambições que tive,
E hoje sou apenas um
suicídio tardo,
Um desejo de dormir que
ainda vive.
Mas dormir a valer, sem
dignificação nenhuma,
Como um barco abandonado,
Que naufraga sozinho
entre as trevas e a bruma
Sem se lhe saber o passado.
E o comandante do navio
que segue deveras
Entrevê na distância
do mar
fim do último
representante das galeras,
Que não sabia
nadar. |