NUNCA SUPUS que isto
que chamam morte
Tivesse qualquer espécie
de sentido...
Cada um de nós,
aqui aparecido,
Onde manda a lei certa
e falsa sorte,
Tem só uma demora
de passagem
Entre um comboio e outro
, entroncamento
Chamado o mundo, ou a
vida, ou o momento;
Mas, seja como for, segue
a viagem.
Passei, embora num comboio
expresso
Seguisses, e adiante
do em que vou;
No términus de
tudo, ao fim lá estou
Nessa ida que afinal
é um regresso.
Porque na enorme gare
onde Deus manda
Grandes acolhimentos
se darão
Para cada prolixo coração
Que com seu próprio
ser vive em demanda.
Hoje, falho de ti, sou
dois a sós.
Há almas pares,
as que conheceram
Onde os seres são
almas.
Como éramos só
um, falando! Nós
Éramos como um
diálogo numa alma.
Não sei se dormes
[...] calma,
Sei que, falho de ti,
estou um a sós.
É como se esperasse
eternamente
A tua vinda certa
e combinada
Aí embaixo, no
Café Arcada -
Quase no extremo deste
continente.
Aí onde escreveste
aqueles versos
Do trapézio, doriu-nos
[...]
Aquilo tudo que dizes
no Orpheu.
Ah, meu maior amigo, nunca
mais
Na paisagem sepulta desta
vida
Encontrarei uma alma
tão querida
Às coisas que
em meu ser são as reais.
[...]
Não mais, não
mais, e desde que saíste
Desta prisão fechada
que é o mundo,
Meu coração
é inerte e infecundo
E o que sou é
um sonho que está triste.
Porque há em nós,
por mais que consigamos
Ser nós mesmos
a sós sem nostalgia,
Um desejo de termos companhia
-
O amigo como esse que
a falar amamos. |