Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

O ter deveres, que prolixa coisa! 
       
O ter deveres, que prolixa coisa!
Agora tenho ,eu que estar à uma menos cinco
Na Estação do Rossio, tabuleiro superior - despedida
Do amigo que vai no «Sud Express» de toda a gente
Para onde toda a gente vai, o Paris...

Tenho que lá estar
E acreditem, o cansaço antecipado é tão grande
Que, se o «Sud Express» a soubesse, descarrilava...

Brincadeira de crianças?
Não, descarrilava a valer...
Que leve a minha vida dentro, arre, quando descarrile!...

Tenho desejo forte, 
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.

   
Remetente : Joél Gallinati Heim 
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