Fernando Pessoa

onde quer que o arado o seu traço consiga 
                             
                        
ONDE quer que o arado o seu traço consiga 
E onde a fonte, correndo, com a sua água siga 
O caminho que, justo, as calhas lhe darão, 
Aí, porque há a paz, está meu coração. 
Bem sei que o som do mar vem de além dos outeiros 
E que do seu bom som os ímpetos primeiros 
Turvam de ser diverso o natural da hora, 
Quando o campo a não ouve e a solidão a ignora. 
Mas qualquer cousa falsa desce e se insinua 
Nos anos que são vestígios sob a Lua.
   
Remetente : Joél Gallinati Heim 
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